30 de setembro de 2008

Pedir Silêncio ou Silenciar?


Olá meus amigos, aqui estou de volta. Mais cedo do que eu imaginava tenho que reconhecer, mas o motivo é dos mais justos, venho até aqui hoje para falar desta imagem que muito me chamou a atenção e que me inspirou a escrever algumas coisas. Novamente vou falar de um gesto, dessa vez o de pedir silêncio feito pela criança.


Olhem bem para esta criança na foto ao lado, ela faz um gesto conhecido por todos nós, ela pede silêncio. E porque nós pedimos silêncio? Porque o barulho nos incomoda, não é mesmo? Porque muitas vezes o barulho em demasia acaba por nos atrapalhar, ou até mesmo nos impedir de fazermos alguma coisa. E a maioria de nós sempre acaba por ser, muitas vezes até, grosseiro ao pedir por esse silêncio, sempre gritando "Cala a boca!" ou "Fique calado!".

Agora olhem bem para a criança na foto, e se perguntem porque ela pede silêncio. Ao me fazer essa pergunta eu percebi uma coisa na imagem, a criança parece estar assustada, acuada, com medo, acho que o que antes eu chamei de pedido é uma súplica, uma súplica por silêncio. Um desejo por silêncio que tem imbutido o medo, a temeridade de uma represália. E isso, ao meu ver, é algo perigoso. O que antes era um pedido de silêncio, um pedido até mesmo de respeito, se transforma numa ordem, numa vontade de impor o silêncio, de silenciar, calar.

Felizmente, por conta de muito sangue, até mesmo sangue de inocentes, derramado nas mais diversas guerras e revoluções ao redor do mundo e ao longo da história, podemos dizer que vivemos em um mundo onde a democracia ainda é legítima, não que o mundo seja justo, nem de longe isto ocorre, mas existe sim uma legitimidade da democracia nas principais nações ao redor do mundo. E, mais uma vez fico, feliz em saber que posso afirmar com clareza e com absoluta certeza, que eu vivo em um país democrático, um país onde a democracia é legítima, talvez não seja, assim como o mundo, um lugar justo. Mas a democracia é legítima por termos estabelecidos há mais de 20 anos, quando teve fim a ditadura militar.

E é por isso que, nesse país, o povo não pode ser silenciado, o povo tem o direito de falar, tem o direito de ir e vir. E não cabe a ninguém exercer julgamento algum sobre o que o povo deseja fazer, senão o próprio povo. Se houve um crime, que sejam identificados e punidos os culpados, por aqueles que têm esse dever. Se existe ameaça da ordem pública e da integridade do povo, que sejam tomadas as medidas necessárias para a manutenção desta ordem, por aqueles que têm esse dever. Mas que jamais, em detrimento de qualquer que seja a razão, calem a voz do povo, porque a ditadura acabou há 20 anos, e ela não foi uma experiência agradável para aqueles que lutaram e, até mesmo, morreram para que eu e você que está lendo esse texto pudéssemos ter o direito de falar, de opinar, até mesmo de sair de casa e, é óbvio, o direito de votar.

Um certo filósofo francês, Voltaire, disse uma máxima que eu, particularmente, carregarei até o fim da minha vida, e sem dúvida passarei aos meus descendentes: "Posso não concordar com nenhuma das palavras que você disser, mas defenderei até a morte o direito de você dizê-las". O próprio Tribunal Superior Eleitoral veiculou uma propaganda sobre isso, sobre o direito de exercer a vontade do povo que o próprio povo tanto lutou, o texto segue a seguir: "Hérois existem. E eles não são grandes, nem fortes, nem indestrutíveis, nem tem super-poderes. Eles nao matam, mas morrem. Não são de outro mundo, embora muitas vezes pareçam não ser deste aqui. Heróis existem. E são de carne e osso, geralmente mais carne do que osso, porque são sangue. Herois existem. E nunca fogem da luta, existem e têm sempre uma personalidade só, porque não costumam ter o que esconder. Hérois existem. E aparecem sempre que temos certeza de que a raça humana está perdida. E surgem justamente nesses momentos, como a nossa salvação, porque os hérois são antes de tudo humanos. Hérois existem não desperdice o direito que eles tanto lutaram para conquistar para você."

Hoje, eu não vou dizer-lhes "boa leitura" como de costume amigos, hoje eu estou de luto. De luto pela constatação que eu fiz, e que é só minha, e que ninguém pode tomar de mim. Abraço.

28 de setembro de 2008

Culpado ou Inocente?



Desculpa pessoal por ter passado tanto tempo sem uma boa leitura por aqui, quase dois meses afinal. Mas acho que, além de muito ocupado, eu estava meio sem inspiração, sem saber o que olhar para poder escrever. Mas é isso, estou de volta e espero não demorar mais tanto tempo pra escrever de novo. Agora vamos prosseguir com as nossas imagens e palavras, a mistura do infinito e do finito.


Vocês sabem quem é o cara da foto eu imagino, mas para aqueles que não sabem, é o famoso Tio Sam, um dos símbolos da política americana, mas ele não está ai por causa disso. O que o trouxe até nós foi o gesto que ele está fazendo, apontando na direção de quem o encara. E este é o ponto, o que este gesto representa?

Apontar pra alguém é, mesmo que involuntariamente, acusar alguém de alguma coisa, boa ou ruim, mas ao apontar na direção de alguém isso sempre acontece. Podemos estar apenas dizendo "é ele, o entregador de pizzas", ou podemos estar fazendo uma acusação veemente e grave "é ele o assassino". Mas não importa, sempre despertamos uma acusação, um julgamento, uma sentença, uma condenação, entretanto ao contrário de em um tribunal da lei, as evidências não são releventas, provavelmente não existe como se defender, por mais que se tente defender-se, e o pior de tudo é que os antecedentes podem condenar sem julgamento algum.

Imaginem a situação descrita a seguir. Um homem condenado por roubo no passado, pagou pelos crimes que cometeu e foi libertado, e voltou a morar na mesma vila que morava antes de ser preso e condenado. E de repente, começaram a sumir coisas das outras pessoas que ali viviam, o homem não será o suspeito, ninguém irá procurar saber quem estava roubando de fato, as pessoas simplesmente vão acusá-lo, julgá-lo, sentenciá-lo, e talvez até mesmo executar a sentença, dando-lhe uma boa surra, e não importa se foi ele ou não que roubou, mas se as coisas continuarem a sumir, ele continuará a levar a culpa, talvez o matem e as coisas continuem sumindo, e aí, só tarde demais, é que as pessoas vão descobrir que cometeram um erro ao tratá-lo daquela forma, mas talvez ainda assim não se arrependam.

E no fim de tudo, não vai importar quem é de fato culpado ou inocente, só vai importar o que as pessoas pensam no exato momento em que estão realizando o seu "julgamento social", que não é justo, não permite defesa e sempre dá um veredicto culpado, o tipo de situação em que as pessoas esquecem a idéia de que é melhor deixar cem homens culpados livres do que condenar um único homem inocente, tudo que as pessoas desejam nestas situações é manter a "estabilidade social", o que eu prefiro chamar de manter a pose, manter a maldita pose social, de que "nós somos os certos, somos intocáveis, vivemos um nível acima, o resto é escória". Acho que as pessoas deviam se lembrar mais de que tudo muda, até mesmo pessoas podem mudar, mas não adianta trocar de roupas e continuar sem tomar banho, se me permitem o trocadilho, precisamos primeiro estarmos limpos, pra podermos depois vestir uma boa roupa.

Abraço. Boa leitura.