27 de abril de 2010

Memórias Sem Fim

O dia de trabalho tinha sido longo, nada melhor que um bom scotch à moda dos cowboys para relaxar e aproveitar o merecido descanso. Mas antes, passou no edifício onde sua esposa trabalhava, já tinha dias que mal se viam devido oas muitos afazeres de ambos. Ao chegar ela estava em uma reunião importante já há algum tempo, esperou cerca de uma hora até que ela saísse. Lhe deu um abraço bem forte, estava com saudades.

Ela disse-lhe que dali teria que ir até uma cidade próxima, tratar de alguns assuntos da empresa, e só chegaria um pouco tarde da noite. Ele a beijou, despediu-se e foi até o velho bar no subúrbio, que ele frequentava há quase vinte anos.

Lá, cumprimentou a todos, e antes que pedisse já fora servido com a bebida que mais lhe fazia bem: uísque, puro e sem gelo. Passou um bom tempo lá, jogando conversa fora e obsevando o movimento da rua, repleta de pequenos bares, grosseiramente parecidos com os famos pubs londrinos. Partiu só ao cair da noite.

Em casa, tomou mais alguns goles de uísque, até que a bebida começou a lhe parecer amarga, já sabia que era hora de parar. Resolveu procurar alguma outra coisa pra fazer. Por insinto ligou a TV. Ironicamente passava um filme que lhe trazia muitas lembranças, da época de sua juventude, boas e ruins.

Sentiu um aperto no peito, e desligou a TV. Mas já era tarde, mais uma vez péssimas lembranças o afligiram. Foi até a biblioteca, abriu o cofre e pegou um anel que ele havia comprado de um bêbado há muitos anos atrás.

Um anel, que não tinha nenhum valor material, era um anel de brilhante, mas faltava a pedra preciosa, o cristal. E na parte interior do anel uma inscrição que ele mandara fazer: "Viverei por toda minha vida como esse anel, que não tem o seu cristal".

Passou algum tempo chorando, até que começou a se recompor pois logo sua esposa chegaria. E ela não poderia vê-lo naquelas condições. Tomou um banho frio, e deitou-se esperando por ela.


Abraço. Boa leitura.

15 de abril de 2010

No Meio da Noite

Ja contara um mês desde que Miguel vira pela última vez o sorriso dela. Não sabia de onde vinha tanta dor, pra não falar da saudade. Desistira de parar com os cigarros, a alegria que ela trouxera com o sorriso parecia simplesmente ter ido embora. Foi pra algumas noitadas nesse meio tempo, mas não conseguia encontrar outra graça que não o doce e agradável sorriso dela.

Até mesmo o mal jeito com a viola tinha piorado, e o pior as músicas já não tinham mais o mesmo tom suave e agradável, eram como tempestades arrasadoras que ele nem sequer passava pro papel, esse último deserto de tudo. A melancolia era tão grande que observar o porta-retratos não confortava, mas feria.

Deitou-se, tentando dormir.

No meio da noite acordou, assustado e ainda mais triste. Sonhou com ela. No sonho, ele tinha partido à procurar por ela. Estava confuso, muitas pessoas, muitos carros, parecia um estacionamento. De repente, pessoas vindo de algum lugar. É quando ele a vê, rapidamente se esconde atrás de um caminhão. Faltou coragem de encará-la.

Algumas pessoas passam por ele e o olham com estranheza. Ele vai sair pelo caminho contrário ao que as pessoas estão tomando, quando dá de cara com ela - acompanhada, aos beijos. Apesar da barba, do cabelo grande, dos óculos escuros e de ter simplesmente a ignorado, ele tem a impressão que ela o reconheceu, mas ele seguiu como se não a conhecesse.

Acordado. Olhou para o porta-retratos, quando uma lágrima caiu. Virou-se e foi dormir novamente.


Abraço. Boa leitura.

11 de abril de 2010

Idiota de Plantão

Idiota de plantão. Se procuram por um, tem um monte disponível vinte e quatro horas por dia, sete dias por semana - mas corram a oferta é por tempo indeterminado. Se precisam de um idiota, conheço um monte. Doutor em tudo, medicina, psicanálise, relevo afegão, xintoísmo, política escandinava, prostituição na terceira idade, entre outros diversos temas que influenciarão a humanidade no próximo milênio.

Bem perto de você, no centro da cidade. Atendimento domiciliar. 0800-IDIOTA. Ligue já!

Não perca tempo procurando idiotas em celebrações cristãs, feriados nacionais, muito menos no lançamento de campanhas eleitorais. Eles não estão lá. Já disse, o idiota de plantão está mais perto do que você imagina.

Afinal, o idiota de plantão não compra terreno no Reino de Deus, nunca viaja no feriadão e não vai vender o voto por cinquentinha do sábado pro domingo. E eu como não sou idiota, já comprei meu terreninho lá em cima, viajo todo feriadão - e no fim do ano vou pra Europa, porque é chique - e tô só esperando aparecer aquele companheiro pra me dar os cinquentinha em troca do voto.

Agora lembrem-se, Forrest Gump foi sábio e disse: "Idiotas são os que fazem idiotices".


Abraço. Boa leitura.

1 de abril de 2010

Castelos de Areia

A noite caía lentamente e ele continuava sentado na beira da praia. Fitava o castelo de areia que havia demorado toda a tarde para terminar, e via cada vez mais as ondas se aproximarem, prestes a destruir o seu cuidadoso empenho de uma tarde inteira. E nada podia fazer, se não esperar.

E o que breve aconteceria com o seu castelo de areia, muito se parecia com o que acontecia com seus planos nos últimos dias. Da mesma forma, ele nada podia fazer enquanto seus planos desmoronavam como o castelo de areia atingido pelas ondas do mar.

Apenas quando não restava mais nenhum vestígio do castelo de areia que ele tanto havia se esforçado para erguer, é que ele foi se afastando da praia.

Em lentos passos começou a sentir uma leve garoa cair.

E agora foi inevitável, em muito lembrou-se daquele dia de chuva em que se conheceram. Sentou encarando o mar, levou sua mão ao bolso e pegou um retrato em preto e branco tirado naquele dia. Derramando lágrimas com cada lembrança.

A chuva começou a borrar o retrato, ao ponto de que não era mais nada além de um papel manchado de tinta borrada. Era possível apenas ler o verso, seco, que tinha as inciais "M" e "L". Largou o retrato ali mesmo e levantou-se desolado.

Miguel mais uma vez caminhava sozinho no meio da multidão.


Abraço. Boa leitura.