31 de julho de 2011

3x4

Eles jantavam em silêncio, trocavam olhares que diziam o que nenhuma palavra poderia expressar. O vento soprava na janela e os talheres tocavam os pratos com tamanha sutileza que não provocavam qualquer barulho. A lua parada na varanda refletia no espelho da sala de jantar.

Terminaram de jantar. Foram à sala, assistiram um daqueles filmes antigos que falavam de amor. Luiza adormeceu com o rosto sobre o ombro de Miguel. Ele a colocou nos braços e a levou ao quarto, colocando-a na cama e cobrindo-a com o cobertor. Fechou o apartamento e colocou a chave por baixo da porta.

Entrou no elevador já sentindo saudades. Não foi a despedida que ele esperava, afinal passariam um bom tempo longe agora. Luiza ia pra Grécia terminar o mestrado e ele ia voltar para o caos daquela cidade grande que tanto o irritava. Saiu do prédio caminhando para o bloco onde ficava o apartamento de sua família no condomínio.

Por um instante parou e ficou encarando o céu. Poucas estrelas, algumas nuvens e, pela hora, o amanhecer se aproximava. Com uma leve brisa, o frio percorreu seu corpo, começando dos pés e se espalhando pelo resto do corpo. Ele lembrou do sorriso dela, quase invisível com luz apagada e só o brilho da TV pra iluminar, o frio sumiu.

Deu mais alguns passos e, já na frente do seu prédio, sentou ao meio fio e ficou lamentando a saudade. Queria mais tempo, mais sorrisos e mais beijos com gosto de chocolate. Abriu a carteira e ficou olhando uma foto três por quatro que tinha dela por um longo tempo.

O dia foi amanhecendo, e ele percebeu uma coisa no céu. Quase que simetricamente metade do céu estava limpa e azul e a outra metade estava carregada de nuvens cinzas. Era quase como a confusão que passava com ele naquele momento.


Abraço. Boa leitura.


-----------------------------
"Diga a verdade
Ao menos uma vez na vida
Você se apaixonou
Pelos meus erros"
(3x4 - Engenheiros do Hawaii)

26 de julho de 2011

Estudando "de graça"

Volto, depois de tanto tempo de ausência no blog, para comentar uma notícia que tirou meu bom humor hoje pela manhã.

Um projeto de lei que tramita no Congresso pretende que estudantes formados em universidades públicas trabalhem de graça por seis meses como forma de retribuição à sociedade pela educação recebida. Sem esse período de trabalho, que não substituiria o estágio obrigatório, o estudante não poderia receber o seu diploma.

Enquanto ouvia essa parte, a sensação de indignação já começava a subir, mas ela atingiu o nível máximo quando, a reportagem começou a ouvir a opinião de "populares" nas ruas.

As (poucas) opiniões contra vinham de universitários que ficavam na superficialidade do assunto. Alegando que teriam a sua graduação atrasada, etc e tal.

As opiniões a favor eram de gente que dizia: "bom, se eles estudam de graça, devem retribuir à sociedade de alguma forma." e outro "eles passam tantos anos, estudando às custas do erário público (sic) devem dar um retorno."

Aí eu não aguentei. Desliguei a televisão e saí da sala. Como é possível!? Como é possível queo Estado tenha assumido de maneira tão desavergonhada esse papel de "pai e mãe do povo"? Como é possível que a estatolatria no Brasil tenha atingidos níveis tão absurdos?

Por que digo isso? Pelo simples fato de que eu NÃO estudo de graça! Porque o erário, que sustenta a minha educação, é na verdade o MEU dinheiro.

O povo perdeu totalmente a noção de que o Estado não produz riqueza. Que todas as benesses que o Leviatã nos dá não são liberalidades de um pai bondoso, mas sim obrigações de um servo obediente.

Esse trabalho obrigatório, seria mais uma forma de tributo, mais uma forma de o Estado botar a mão na riqueza obtida pelo suor do cidadão (nesse caso, botaria a mão no PRÓPRIO suor,o que é ainda mais nefasto), e ainda assim, o povo, bovinamente, aplaude o projeto!

Nós estamos chegando num estágio em que os brasileiros passarão a se orgulhar do cabresto que usam, e a exigir do Leviatã uma canga nas costas um pouco mais pesada do que a que já usa.

22 de julho de 2011

A Prostituição da Advocacia

Mais uma vez vou falar sobre um tema que só interessa aos mais ligados ao Direito, mas que deveria ser preocupação de todos: o Exame de Ordem. Essa semana um representante do MPF deu parecer favorável à ideia de que o exame é inconstitucional e isso tem provocado um rebuliço no mundo jurídico.

Antes de discorrer sobre o que penso, gostaria de deixar claro que o Exame de Ordem não é a forma mais adequada de corrigir os erros que são criados pela banalização do Ensino Superior com a criação em massa de novas faculdades que muitas vezes não preparam o aluno adequadamente, mas mesmo não sendo a mais adequada é a forma mais eficaz de manter incompententes longe da advocacia.

Sem entrar no cerne da questão, o que me preocupa, de fato, é que a inconstitucionalidade do Exame de ordem, e por conseqüência o seu fim, é um caminho perigoso. Imaginem vocês que, como num passe de mágica, um milhão de bacharéis em Direito ingressariam nos quadros da OAB em todo o país.

Não é só a OAB que corre perigo, mas a advocacia como um todo fica ameaçada, gravemente ameaçada. Não só economicamente, uma vez que o elevado número de advogados reduziria drasticamente os honorários advocatícios, mas a ameaça maior é ao próprio Direito, um advogado despreparado poderia acabar prejudicando um direito líquido e certo de alguém por simples incompetência téncica.

Numa comparação bem grosseira, o fim do exame seria como se todas as mulheres de uma cidade do dia pra noite virassem prostitutas, aquelas que não se submetessem a aceitar qualquer trocado, não conseguiriam sobreviver na profissão.

Eu penso que o fim do Exame de Ordem vai transformar em advogados um sem número de idiotas com canudos. E, nesse sentido, o STF, que tanto tem tomado decisões políticas, poderia fazê-lo mais uma vez para preservar não a OAB, mas o Direito, para preservar os resquícios de Justiça que possam existir em nossa sociedade.


Abraço. Boa leitura.

21 de julho de 2011

Velha Nova Página...

Miguel estava cansado. Trabalho, projetos, ideias e mais trabalho, era uma rotina que fazia ele manter seus pensamentos distantes de Luiza. Ou pelo menos durante a maior parte do tempo, afinal, quando era noite, sentado na sala com a caneca preferida dela cheia de café e ouvindo Chico Buarque, era impossível não lembrar daquele sorriso.

Os dias haviam virado semanas e, em breve, virariam meses. Ele sabia que ela tinha conseguido um bom emprego na Europa e em breve partiria, para voltar sabe-se lá quando. E ele pensou, e ponderou, mas não conseguia mover uma palhar sequer. Ele precisava de algo mais para correr, de algo que nunca tivera certeza se ela lhe ofereceria.

No mais íntimo de sua saudade, o que ele queria mesmo era que os sonhos de todas as noites se tornassem reais. Ele, ela, dois sorrisos e um conto de fadas. Suspirava pensando nisso e desanimava em seguida, a vida real era muito mais dura.

Levantou da poltrona e foi até a cozinha buscar mais café. Na volta o vento fez a janela da sala bater forte e ele teve um pequeno susto, derramando café no chão. Normalmente ele deixaria aquela mancha de café ali por dias, até que resolvesse chamar a diarista. Mas, por uma ironia qualquer, foi até a cozinha, molhou um pano e foi limpar a sujeira.

Quando limpava o chão ele viu o reflexo de alguma coisa sob a poltrona, esticou-se e não alcançou. Tirou a poltrona do lugar e encontrou um porta-retratos, era uma foto sua com Luiza. Uma foto boba, que eles tiraram no último dia do curso de fotografias que fizeram juntos, estavam tão felizes, tão sorridentes.

A lembrança boa lhe arrancou uma lágrima, não de tristeza. Sorriu e resolveu arrumar todo o apartamento.


Abraço. Boa leitura.



Quem quiser mais contos de Miguel e Luiza clique aqui.

11 de julho de 2011

Celebraremos!

Ver num dos jornais mais importantes do país que existe a posssibilidade de que um dos crimes do processo do Mensalão prescreva me faz sentir vergonha de ser brasileiro. É uma coisa que, pessoalmente, me faz acreditar cada vez menos naquela remota possibilidade de que as coisas podem mudar com naturalidade.

O processo em questão vem arrastando-se com vagareza na mais alta Corte do país desde que a Procuradoria da República teve sua denúncia recebida em 2007. É isso mesmo, há quatro anos um dos processos mais importantes da história do nosso país, aquele que poderia vir a ser o divisor de águas de uma nova era de moralidade, está prestes a prescrever parcialmente sem julgamento.

E eu arrisco a dizer que o Olimpo, digo o Supremo, vai manobrar para tal sem qualquer cerimônia. E, assim, o nosso tão desacreditado Judiciário vai ficando cada vez mais desacreditado. È lamentável, é deprimente e é preocupante, pelo menos para mim.

Ultimamente, tenho pensado muito uma tese de que apenas uma revolta popular nos moldes daquelas que viraram do avesso o mundo árabe poderia salvar nossa Nação. Só que aqui tem o Carnaval, as Festas Juninas, o Campeonato Brasileiro, uma infinidade de outros feriados, o Faustão aos domingos, e assim as pessoas vão elegendo outras prioridades, sempre têm algo mais importante com o que se preocupar.

Caberia aqui um trecho de uma música da Legião Urbana: "Vamos celebrar nossa justiça, a ganância e a difamação (...) Vamos celebrar nossa bandeira, nosso passado de absurdos gloriosos. Tudo que é gratuito e feio, tudo o que é normal".


Abraço. Boa leitura.

5 de julho de 2011

Desastre de Ordem

Pouco menos de 90% dos bacharéis em Direito que se submeteram ao Exame de Ordem foram reprovados. Algumas instituições de ensino superior conseguiram a façanha de não ter nenhum egresso aprovado. O que se observa do quadro é um caos generalizado tomando conta das faculdades de Direito, fruto principalmente da banalização do ensino superior em nosso país.

Eu arriscaria dizer que a maior parte daqueles poucos que lograram êxito no Examde Ordem o fez não por mérito da faculdade que frenqüentaram durante quatro ou cinco anos, conseguiram por mérito próprio. Conseguiram porque foram as cadeiras da universidade em busca não de levar adiante a tradição familiar ou para realizar o sonho pessoal dos pais, mas foram em busca de ascensão social.

É esse, no fundo, o propósito de quem estuda pra valer. Mas isso é ainda mais raro nas cadeiras das faculdades de Direito, por melhores e mais dedicados que possam ser os professores, é difícil ensinar a quem não quer aprender. É difícil quando a grande maioria dos acadêmicos de Direito encaram a faculdade como extensão do ensino médio, e não é assim.

É em face desse tipo de pensamento que esse resultado desastroso no último Exame de Ordem não é uma culpa que pode ser atribuída apenas à dificuldade do Exame, à inépcia da maioria das faculdades particulares ou as dificuldades de português de alguns estudantes, esses são apenas agravantes dessa situação obituária do estudo das ciências jurídicas num país onde não se discutem perspectivas nas universidades, onde a discussão é o tipo de questão que a Fundação Getúlio Vargas vai utilizar no próximo Exame.

Não pode ser esse o propósito das universidades. Devemos ir para lá discutir cidadania, debater ideias e, principalmente, defender a justiça que tanto vem sendo maltratada nas mais diversas instâncias de nosso país.


Abraço. Boa leitura.

Lembranças, Disfarces e Reviravoltas... - Minissérie #2

Como já era de se esperar, ela não atendeu. Não estava dormindo, mas queria saber até onde a inquietação do rapaz o levaria. Anita já sabia onde estava pisando, e não foi à toa que às 10h recebeu uma mensagem de Luiz, perguntando se poderia vê-la novamente. Ela respondeu que sim e completou dizendo que sempre almoçava num restaurante perto da praia e que ele reconheceria o lugar.

Fazia muito tempo que não fazia isso, mas Luiz queria impressioná-la. Depois de muito tempo sentiu necessidades de impressionar alguém. Pegou a velha motocicleta e saiu cortando as ruas da cidade até a praia, contava os segundos para a hora marcada. Quando foi se aproximando da praia, um flash veio em sua memória, ele lembrara exatamente de Anita quando estudaram juntos. Mas iria aguardar o momento ideal para revelar isso.

Luiz chegou ao restaurante na hora marcada e ficou esperando Anita por uns 30 minutos ainda. Lá vem ela. Encantadora como sempre, senta-se a frente do barman e ele sorri dizendo que ela ainda não perdera o hábito de chegar atrasada aos lugares. Ela desconversa.

Ele não conseguia comer, deu umas duas garfadas apenas na comida, fitava descaradamente os olhos verdes de Anita. Ao terminarem ele a chamou para ir caminhar na praia. Ela relutou um pouco, confirmando o que ele já tinha certeza, mas acabou aceitando o convite.

Anita tentou aguardar o momento certo para aquela pergunta, mas percebeu que dependendo de Luiz o momento certo nunca chegaria, foi quando ela resolveu cortar o assunto pela metade e perguntar ao rapaz o que levou um homem que carrega uma aliança dourada na mão esquerda sair ao encontro de uma antiga colega de classe, que, sabiam os dois, não era qualquer colega.

- Foi difícil reconhecê-la. Eu achei que a parte da amiga de colegial era apenas um pretexto para flertar, mas que de certa forma me atraiu. Só quando vinha para a praia foi que me dei conta. Eu agora sei como foi que a achei familiar, Diana. Foi pelo seu sorriso, ainda é inconfundível. Mesmo com o cabelo pintado e as lentes de contato que nunca lhe foram peculiares. Mas e você porque me procurou depois de tanto tempo? Mudou de ideia ou quer apenas mais uma? – falou secamente demonstrando irritação pelo teatro que a moça tinha feito.

- Você sabe que eu não mudo de idéia, mas se eu tivesse mudado o que aconteceria? Afinal, você resolveu mesmo casar! Finalmente encontrou alguém que aceitasse viver a mesma coisa até a morte – falou em tom de deboche, o que irritou mais ainda o rapaz. – Talvez eu tenha ficado com saudade de alguma coisa em particular.

- Se foi apenas saudade o que você sentiu, acho que ambos perdemos tempo vindo aqui. É melhor irmos embora – falou o rapaz sinalizando dar as costas, mas rapidamente sendo interrompido por Diana agarrando sua mão. – O que mais te trouxe aqui Diana?

Ainda continua...

2 de julho de 2011

"Final Feliz"

Ele se viu olhando nos olhos dela, a encarava e fazia todo o barulho ao redor sumir. A música alta, as conversas nas mesas ao lado, os gritos do gerente com os garçons, tudo era suprimido pelo olhar dela, que parecia dizer mais que qualquer outra coisa. Ou pelo menos era o que ele pensava, até ela falar.

- O que você tem em mente? - perguntou sem fazer ideia do que ele realmente tinha em mente.

Em tanto tempo, essa talvez fosse a oportunidade mais clara de dizer tudo o que ele sempre quisera, mas estivera impedido por todas aquelas coisas que ele costumava chamar de princípios. Estavam lá, apenas os dois. Mas ele hesitou. Não daria aquela resposta.

- Não é nada importante. Você nem acreditaria se eu lhe dissesse - falou tentando parecer soberbo.

Jantaram, conversaram e foram embora. Ele a levou em casa, sentaram em um banco nos jardins da alameda em que ela morava e conversaram mais. Vez por outra ela insistia em tentar voltar ao assunto e ele desconversava. Ele sabia que nunca teria coragem de dizer a verdade.

Já tarde da noite ele a acompanhou até a entrada de sua casa. Se despediram e quando ele deu as costas, ela o puxou pelo casaco e o beijou. Uma, duas, três, quatro vezes.

- Agora você pode ir.

E ele fez exatamente o que ela disse. Rindo por dentro, feliz e ao mesmo tempo desconcertado. Entrou no carro e saiu dirigindo para casa.


Abraço. Boa leitura.


Nota: pra quem andava reclamando da falta de finais felizes por aqui, espero que esse agrade. ;D

1 de julho de 2011

Vanessa

Passava da meia-noite, Samuel estava irritado, embora não conseguisse tirar os olhos de Vanessa. Nunca tinha feito isso de forma tão clara, os olhos dela eram como um feitiço, um encanto.

Ele a queria do lado, a queria perto. Aquela ligação havia despertado aquilo que ele antes tentara esconder. Ele tinha se encantado por aquele sorriso doce, um sorriso encantandor, um sorriso que não merecia ficar escondido.

E mesmo depois de estar por perto ele queria mais. Queria aquela pele macia, aquele perfume atraente, mas mais que tudo aquele sorriso e aquele olhar que o tiravam do sério.

Mas ele precisava cessar, não podia saltar em mais um abismo...

E agora o que será que aconteceria?