21 de setembro de 2011

"Pop in Rio"

Nesse fim de semana vai começar o Rock in Rio, um sonho de Roberto Medina que começou em 1985, naquele que talvez tenha sido o auge do rock 'n roll na América do Sul. AC/DC, Iron Maiden, Ozzy Osbourne, Scorpions, Whitesnake e Queen, esta última considerada a atração principal do evento, estavam lá dando vida ao sonho dos amantes do rock na parte de baixo da América.

Quase trinta anos depois o mesmo Roberto Medina mostrou que, pra ele, o Rock in Rio não era um sonho, mas apenas mais uma oportunidade de ganhar uns trocados. Não o conheço, não conheço seus gostos, mas tenho certeza que ele não gosta de rock 'n roll. Eu gosto.

Em 1991 eu tinha só quatro anos, em 2001 ainda não tinha muito contato com o mundo da música em geral. Sobre as edições internacionais, minha opinião é obscena e impublicável. Mas em 2011 ver como atrações principais do evento Cláudia Leitte e Ivete Sangalo, entre outras, me deu embrulhos no estômago.

Eu respeito todos os estilos musicais (tá, não considero sertanejo música), mas cada macaco no seu galho. Ou será que alguém em sã consciência vai tentar me convencer que o axé baiano é parecio com rock 'n roll? Se for o caso, acho que próximo ano deveríamos abrir o carnaval de Salvador com um show do Sepultura e fechar com o Iron Maiden...

Repito, eu gosto de rock 'n roll. E tudo que espero das pessoas é respeito. Já não basta todas as piadas de péssimo gosto, os insultos sem razão e entre outros tantos preconceitos que nós, apreciadores da boa música, sofremos, querem agora transformar um evento que leva o rock no nome em um festival de aberrações.

Que mudem o nome do evento então, eu até tenho sugestão: "Pop in Rio". Mas esse nome não tem o mesmo apelo comercial não é Roberto Medina? E depois ainda chamam os outros de mal educados só por uma barba e um cabelo grande. Parafraseando Marcelo D2, é preciso manter o respeito.


Abraço. Boa leitura.

18 de setembro de 2011

Uma Nova História

Seria mais uma noite de sábado como outra qualquer, um bar com os amigos, uma conversa sobre qualquer assunto banal, afinal era dia pra descontrair. Tudo dentro da normalidade, ou era o que ele pensara ao acordar e sair para tomar um café na padaria da esquina, como de costume.

Caminhou até a padaria enquanto pensava em uma infinidade de coisas, tão rápido que não conseguia sequer saber no que pensava. Chegou lá, cumprimentou os funcionários e aguardou o café. Ficou observando a TV e os pensamentos foram sumindo, ele estava finalmente acordando.

Procurava alguma coisa, mas não sabia exatamente o que. Muito tempo já passara, mas parecia tão pouco. Entre tantos encontros e desencontros a história parecia não querer ir, e nem ele queria que ela fosse, mas ele sabia que tinha que seguir. O show tem que continuar.

Saiu da padaria e novamente infindáveis pensamentos começaram a passar na sua mente, dessa vez ele estava ciente de cada um. Foi quando esbarrou numa moça na porta do prédio. E que moça. Ele fez questão de juntar os papéis que ela carregava consigo e que ele derrubara com o choque. Por um instante ele teve a impressão de ter cruzado com olhar dela de uma forma diferente, mas deixou passar.

Conversaram um pouco no saguão, ela morava no prédio desde antes dele mudar-se, moravam no mesmo andar e ele nunca tinha prestado atenção nela. Por um instante pensou alguma coisa que não sabia exatamente se devia, a convidou pra sair. Ela hesitou, mas aceitou o convite, queria muito sair mas a falta de companhias vinha sendo um problema. Se despediram e acertaram de sair pra jantar.

Ele ligou para os amigos, avisou que chegaria um pouco atrasado no bar. Contou as horas e quando ia sair para passar no apartamento dela, a campanhia tocou. Era ela, ainda mais incrível do que pela manhã. Ela sorriu e ele a cumprimentou com um beijo tímido no rosto. Que perfume, que pele macia. Foram jantar.

Durante todo o jantar ele encarava quase que sob efeito de um feitiço os olhos dela. Ela percebeu por algumas vezes, mas deixou passar. Ele hesitou, mas a convidou para sair com ele pra uma bebedeira de sábado a noite. Ela queria ir, mas recusou o convite. Ele só aceitou a recusa após ficar certo um novo encontro. Ao se despedirem, foi a vez dela beijá-lo timidamente no rosto.

E ele foi sair com os amigos com muitos pensamentos fixos na cabeça, inclusive sobre a história que o incomodara naquela manhã. O tempo não volta, as lembranças ficam na memória e não importa o quanto queremos que elas se repitam, não vai acontecer de novo. As novas histórias trarão novas lembranças, mas nunca apagarão as demais. E ele queria lembranças dessa moça.


Abraço. Boa leitura.

15 de setembro de 2011

Decifra-me ou devoro-te

A mesa em que ela estava sentada ficava ao lado de uma vidraça. Quando ele desceu do carro - na hora marcada, como sempre - logo a viu através do vidro. Ela também o viu descendo do carro.

Enquanto ele entrava sorridente no restaurante e se dirigia à mesa ela mantinha-se na mesma posição. O cotovelo esquerdo na mesa, o queixo apoiado sobre o punho. A vista olhando através da vidraça para algum ponto indeterminado do outro lado da rua. Ela o tinha visto e ele percebera, mas ela não desviou o olhar do que quer que fosse que ela estava visando.

No seu rosto não havia indiferença, ela na verdade parecia estar ocupada com algo muito importante para poder falar com ele. Só depois que sentou-se à mesa os olhos dela viraram-se para ele.

Aqueles olhos....

Eles eram de um tom esquisito - no sentido original da palavra - de castanho, quase da cor de vinho tinto. Como se tivesse sido pintada por um artista que dispunha de poucas cores, seu cabelo era rigorosamente do mesmo tom, contrastando com a pele muito branca, quase pálida.

Quando ele sentou-se ela esboçou aquele seu sorriso característico, dado muito mais com os olhos do que com a boca; sem mostrar os dentes. Para comer ele pediu um assado, especialidade da casa, e uma cerveja irlandesa para acompanhar. Ela fez um comentário sobre a harmonização do prato com a bebida e a partir daí começou a conversa.

As conversas com ela eram sempre agradáveis. Como um maestro conduz uma orquestra, ela conduzia os assuntos, passava de uns para os outros sem que se percebesse a mudança. Comentários bem-humorados se alternavam com outros, de tom ácido, sempre no momento exato. Mas havia algo estranho em seu olhar....

Por mais profundamente que ela estivesse olhando nos olhos dele, e por mais concentrada que estivesse na conversa, seu olhar sempre parecia dizer que ela estava pensando em algo de mais importante, de mais misterioso.

Desde a época em que ela se mudou pra a rua dele e eles se conheceram, aquele olhar o maravilha e o assombra. De lá pra cá outras mudanças já fizeram com que eles se afastassem um pouco mais, no entanto, decifrar aquele olhar continuava sendo para ele uma obsessão.

Por esse lado, conversar com ela, estar com ela, era um tanto como lutar esgrima. Uma luta elegante, da qual ela era mestra. Num momento parecia abrir a guarda, e atraía um golpe apenas para revidar com um contragolpe fulminante. Touché!

De tanto sofrer com essas estocadas, ele já estava calejado, e às vezes tinha a impressão de que continuava a fazer aquilo apenas como uma espécie de esporte. Mas então ela dava mais um daqueles sorrisos, como só ela sabia fazer, e ele logo lembrava-se do motivo pelo qual lutava para decifrar aquele misterioso olhar.

Ambos acabaram de comer, ela recusou a sobremesa, disse que estava de dieta. Ele olhou o relógio, lembrou que tinha um compromisso. Um velho amigo estava na cidade e eles haviam combinado de jogarem uma partida de tênis.

Eles se levantaram - embainharam seus floretes - e foram saindo do restaurante, na calçada ela perguntou se poderia assistir a partida de tênis, afinal não tinha nada pra fazer mesmo.

Ele respondeu rápido que sim. Enquanto eles se dirigiam cada um para o seu carro trocaram um olhar rápido, quase acidental. Foi então que por um instante, tão rápido que ele não poderia nem mesmo dizer com certeza se tinha acontecido, ele teve a ligeira impressão de finalmente ter entendido tudo.

Seria possível?

Não.

Deve ser só coisa da sua cabeça....

8 de setembro de 2011

O Sommelier

Estava sentado na poltrona da sala quando a campanhia tocou, pensou em chamar a empregada, mas resolveu ir ele mesmo abrir a porta. No caminho entre o meio da sala e a porta acendeu um cigarro. Soprou a fumaça para, só então, abrir a porta e ter um surpresa. Era um entregador.

- Tenho uma entrega para o senhor Salazar - falou o entregador muito bem vestido.

- Sou eu mesmo - respondeu secamente, com um palpite estranho.

- Assine aqui por favor.

Ele assinou onde o homem indicou e recebeu o pacote. O entregador saiu sussurrando algo que ele não conseguiu ouvir direito. O que ele acabara de receber não era tão leve quanto parecia. E ele entendeu porque assim que abriu a embalagem de papel. Era uma caixa de madeira que ele reconheceria em qualquer lugar.

Era uma caixa feita de mucibo, um tipo de madeira quase extinto, vindo de Angola. E ele já sabia o que estava no interior sem precisar abrir. Era um Montrachet, um vinho antológico que ele vira alguns dias antes em uma casa de vinhos que visitara.

Não fazia ideia de quem podia ter lhe mandado tal presente, aliás, não era um presente comum. Não era todo dia que se presenteava alguém com um vinho daquela natureza. E ainda mais com aquela embalagem de mucibo que praticamente dobrara o já elevado valor da garrafa no interior.

Resolveu abrir a caixa em busca de um cartão ou algo parecido. Ao abrir o cigarro lhe caiu da boca, se não estivesse sentado teria ele mesmo ido ao chão. Era um outro vinho que estava no interior, um Romanée-Conti. Outro vinho não, outra garrafa, pois aquela não continha qualquer líquido, estava aberta e vazia.

Ele agora sabia quem tinha mandado o "presente". Era o sinal que ele precisava para abandonar os velhos sonhos e trocá-los por novos. Pensou em arremessar a garrafa contra a parede e partí-la em mil pedaços, não o fez. encontrou no canto da caixa de madeira a rolha, sentiu o aroma daquele vinho, então colocou novamente a rolha e fechou a garrafa vazia.

Levantou, foi até a estante e colocou lá, ao lado das comendas que já recebera como sommelier. Com um punhal que também estava na estante, talhou na madeira uma frase: "Aqui jaz um sonho sem dono".


Abraço. Boa leitura.

4 de setembro de 2011

Sem ela

Ele estava só. Como sempre.

O quarto estava escuro, a casa estava escura, suas únicas companhias eram Johnny Walker e Luciano Pavarotti, um escocês e um italiano que estavam sempre dispostos a lhe dar um apoio nos momentos difíceis.

"Una furtiva lagrima
Negli occh suoi spuntò...."

Um espelho refletia a sua imagem: gravata frouxa, camisa meio desabotoada, uma barba que pedia para ser feita a pelo menos dois dias e um olhar que falava a qualquer um que o conhecesse que ele estava pensando nela.

Olhou para a sua imagem na penumbra e pensou em como estava feio, e então em como ela era bela. Olhou para a lua pela janela, e pensou que em algum lugar ela poderia estar olhando para a mesma lua. Pensou então que isso é bobagem, as probabilidades são ínfimas, e mesmo que ela esteja, isso não significa absolutamente nada. Pensou então em como os pensamentos se sucedem rápidos na nossa cabeça e não nos damos conta. Então um agudo de Luciano o tirou de seus devaneios e lee não pensou em mais nada.

"Un solo instante il palpiti
Del suo bel cor sentir!..."

Fechou os olhos enquanto o italiano dizia tudo o que ele queria dizer, mas não sabia escolher as palavras.

As lágrimas escorreram enquanto ele se levantava e punha seu amigo escocês sobre o criado-mudo. Ergueu os olhos para o teto e inspirou profundamente, como se quisesse aprisionar em seu corpo o "gran finale" da música....

"Cielo, si può morir;
Di più non chiedo."

Desligou o aparelho de som e deitou-se com a mesma roupa que estava. Sabia que não dormiria, mas ainda assim deitou-se, o dia seguinte se aproximava. Mais um dia sem ela se encerrava, outro dia sem ela começava. E ela seguia tranquila sua vida, indiferente ao sofrimento dele.

3 de setembro de 2011

Sorrisos

Ela estava sentada na poltrona preferida dele, com uma xícara de café que ela aprendera com ele a tomar. Ele a observava de longe, enquanto mexia na vitrola da sala de estar. Parecia uma criança com um brinquedo novo, mas a sua alegria era por causa do sorriso dela sempre que ele colocava uma de suas músicas preferidas.

Era uma noite como tantas outras, e como sempre ele sentia-se muito feliz com ela por perto, não parava de pensar nela, ainda que ela estivesse ali a uma distância que na prática não existia. De repente ela levantou, foi até ele, lhe deu um abraço e um beijo no pescoço. Ele sorriu intensamente.

Um outro abraço, um beijo. E ele sempre encantado com o sorriso dela. Nunca conseguira entender o porque de tamanho encanto, mas isso pouco importava. Nada mais importava quando estavam juntos. Ela voltou pra poltrona.

Ele foi até a janela, ficou olhando o céu estrelado, mas sem lua. E mesmo com ela ali, do outro lado da sala, pelo simples fato de não estar a vendo, sentiu saudades. Foi então que, num estalo, percebeu porque mesmo estando com ela não parava de pensar nela: ele a amava intensa e imensamente.


Abraço. Boa leitura.

1 de setembro de 2011

Saudade Inexplicável

Eles jantavam em silêncio, trocavam olhares que diziam o que nenhuma palavra poderia expressar. O vento soprava na janela e os talheres tocavam os pratos com tamanha sutileza que não provocavam qualquer barulho.

Ele terminou antes dela. Observou-a sem prestar atenção na comida, mas em cada traço do rosto dela, para que num outro dia, quando ela estivesse distante, ele não tivesse nenhuma chance de esquecer o quanto ela era encantadora e pudesse ter sempre certeza de que ela teria cada detalhe encantador quando habitasse em seus sonhos.

Ela ficava bastante irritada com ele a encarando enquanto ela comia, parou por umas duas ou três vezes, até que começou a ignorar, ainda que de vez em quando olhasse pra ele e os olhares cruzados resultassem em uma sensação de encanto e temor para ambos.

Fazia muito tempo que ele não se encantava dessa forma por alguém, fazia muito tempo que ele, inclusive, deixara de acreditar que isso podia existir de verdade. E ainda tinha um pé atrás, mas não tinha dúvidas de que se o amor existisse de verdade, então ele a amava. Amava doce e profundamente.

Passaram o resto da noite trocando olhares, palavras e sorrisos, e isso foi tudo. Na manhã seguinte só restou aos dois uma saudade sem explicação.


Abraço. Boa leitura.