8 de janeiro de 2012

SUS

Recentemente eu passei por uma experiência que me deixou pensativo e que me fez ver que estou certo quando digo que só nos importa aquilo que nos interessa. Se não nos diz respeito, se não pode nos trazer algum benefício, que se dane. Não pode haver uma outra explicação razoável para tanto.

Ainda no ano que já não existe mais, tive a oportunidade - ou seria um infortúnio? - de passar pelos serviços oferecidos por aquele que, na teoria, deveria ser o melhor sistema de saúde do mundo, o SUS. Vou narrar em brevidade para que não fique efadonho e eu possa chegar onde quero.

Cheguei num local de atendimento por volta das sete da manhã e recebi a ficha de número 20, quase que ao mesmo tempo que eu, o médico que atenderia a mim e a outras pessoas ali também chegou. Por causa do barulho, fui atender a um telefonema em outro local. Ao retornar, cerca de seis minutos, me surpreendi ao saber que a quinta pessoa já estava sendo atendida. Esperei mais um pouco e, sendo a vigésima pessoa a ser atendida, por volta das sete e quarenta já havia sido atendido.

Isso é um absurdo!

É impossível que um médico atenda de forma razoável vinte pessoas em quarenta minutos, em dois minutos o máximo que ele vai conseguir fazer é perguntar o nome da pessoa e o que ela sente. Grande parte dos atendidos ali deixavam o consultório inclusive com receitas. Imagine que nesse ritmo, se trabalhasse quatro horas diárias um médico atenderia 480 pessoas. Inconcebível.

Vejo rotineiramente muita gente reclamando da saúde pública, médicos inclusive. Mas, salvo engano, recentes greves da categoria não cobravam melhorias nas condições de trabalho, mas tão somente melhorias salarias. O médico deveria atender as pessoas com um mínimo de dignidade, mas é impossível ser digno em dois minutos, e desafio qualquer um a dizer que é possível dar um diagnóstico razoável nesse tempo.

As pessoas parecem tratar os médicos como anjos intocáveis, e eles até podem ter um pouco disso, mas não se pode admitir que médicos sejam incriticáveis. Não se pode admitir que médicos tratem pessoas como animais, que não as deêm um atendimento moralmente digno. Porque o médico que assim agir no setor privado não terá pacientes, se não é aceitável no setor privado, porque temos que aceitar isso no serviço público?


Abraço. Boa leitura.

3 comentários:

Anônimo disse...

Gostei do texto, seu gato. ( Vitinho Linhares)

Anônimo disse...

Discutir em defesa do Sistema Único de Saúde me renderia muitas páginas, destacando sua revelância enquanto politica de ATENÇÃO a saúde no Brasil e pertinencia de seus princípios, mas só o que pretendo é fazer algumas apontações sobre o texto decorrido. A partir do momento que bebemos água, consumimos produtos de higiene, alimentos e até mesmo cosméticos,estamos sim, sendo usuários do SUS, considerando a vigilçância como uma das instâncias do sistema.No entanto, na dimensão dos serviços de saúde essa realidade não é a realidade do SUS e muito menos na Estratégia Saúde da Família (ESF). O que tem acontecido é que muitas vezes os profissionais vinculados aos serviços de atençãop básica, ainda não tem um perfil de atuação para o campo da saúde pública, considerando que transitamos de uma sistema para outro, a apenas 25 anos. O que vemos nos ´"postos de saúde" dos bairros, nada mais é do que os resquísios de um modelo falído, mas que persiste no intimo de profissionais, gestores e até a população. A significativa produtivo do caro colega médico, é decorrente justamente dos ideais do modelo biologico e reducionista, onde a chave principal de tudo é apenas a doença e não indivíduol com sua dignidade, constituindo-se como uma intervenção assistencialista. Na verdadeira realidade do SUS, o que deve ser ofertado aos cidadões de forma, universal, equanime e integral é o acesso a uma assistência voltada a ATENÇÃO à saúde individual e coletiva. Apontar os motivos geradores da distorção de seus ideias é uma tarefa difícil, mas acredito que estes perpassam por questões de gestão e da pr´´opria formação dos profissionais inseridos nos serviços.

Cachinhos Tostados disse...

Compartilho da mesma opinião do "anônimo" quando ele fala "A significativa produtivo do caro colega médico, é decorrente justamente dos ideais do modelo biológico e reducionista, onde a chave principal de tudo é apenas a doença e não indivíduol com sua dignidade". O modelo biomédico é o molde para a formação desses profissionais médicos e o grande problema desse modelo na minha opinião é que ele durante toda formação superior ensina aos médicos a tratar a doença e não a pessoa que está doente, isso justifica o curto tempo de atendimento. E além disso existe outro grande problema, fomos educados para sermos dependentes de fármacos, porque também somos educados pelo mesmo modelo: O modelo biomédico. Quantas vezes tomamos um remédio para algo sem consultar o médico? Porque confiamos mais em alguém que nos escuta (sua mãe, vizinha) que em um jaleco branco ignorante, cego e sudo. Ou ainda, quando vamos ao médico pedimos remédio e se ele diz que com repouso tudo se resolverá... Aiaiaiai sai de perto esculhambação a vista...
Tanto nós usuários do SUS, como os que têm plano de saúde particular como também os profissionais da saúde somos educados e adestrados conforme o modelo biomédico, mas nem sempre percebemos...
Sim, vale salientar que esse modelo ta em votação, acho que está na hora de fazermos algo a mais para salvar nossas vidas.
Gostei muito do seu texto, parabéns.