31 de dezembro de 2010

Repostando...

Há pouco mais de dois anos eu havia feito uma postagem aqui no blog, com o título "Para estar com ela...", falando de um filme muito bom, que após escrever eu vou rever, chamado O Ilusionista, de Neil Burguer. Edward Norton interpreta um famoso ilusionista, chamado Eisenheim, que reencontra seu primeiro, e possivelmente único, amor: a duquesa Sophie von Teschen, interpretada por Jessica Biel.

Mas o príncipe Leopold, herdeiro do Império Austro-Hungárom está noivo de Sophie, e fará de tudo para casar com ela e realizar seus planos de dar um golpe no pai. A trama do filme é muito bem estruturada, e o final é surpreendente. Mas eu não sou fã de spoillers, vejam o filme, vale a pena. No decorrer do filme, usando suas ilusões Eisenheim passa a ser perseguido pelo chefe de polícia.

***

Já nos momentos decisivos do filme, quando questionado pelo chefe de polícia por que insistia em tais atitudes, Eisenheim limitou-se a responder: "É apenas para estar com ela...". Apenas mais tarde o chefe de polícia entenderia que o ilusionista estava apenas fazendo mais um truque, um truque "vivo". Mas o interessante nessa parte, é a fala do ilusionista, para estar com ela...

E sabem, se pararmos para pensar um pouco as vezes fazemos isso. As vezes fazemos algo, um sacrifício ou não, apenas para nos sentirmos perto de alguém, ou para estarmos perto literalmente. Sempre movidos por algum sentimento forte, seja uma paixão ou uma grande amizade. O fato é que quando situações assim acontecem, é porque existem pessoas com as quais nos importamos e nos preocupamos, e pessoas que de uma forma ou de outra amamos de verdade.

Sabem, eu já parei uma vez, já deixei tudo que eu estava fazendo para me sentir perto de alguém muito importante pra mim, e não me arrependo. Porque quando sentimos essa necessidade de largar tudo, fazê-lo nos traz tranquilidade, calmaria e, acima de tudo, nos deixa felizes. E é isso que importa, ser feliz. É curiosa uma observação que Eisenheim faz no começo do filme: "Nunca tivemos a sensação de que um lindo momento pareceu passar tão rápido e queriam que pudéssemos faze-lo durar mais? Ou ver que o tempo não passa em um dia tedioso e queriam que pudéssemos faze-lo passar mais rápido?"


Abraço. Boa leitura.


N.A.: É a primeira vez que posto algo que já postei antes.
Outra N.A.: A parte em itálico após a quebra do texto foi retirada da postagem original.

30 de dezembro de 2010

"Coincidências"

Naquela manhã ele acordou mais tarde do que de costume. A noite anterior havia sido longa. O sono tornou o ritual diário de acordar anormalmente longo: dentes, banho, barba, café....

Então lembrou-se que precisava ir ao cartório. Problemas com a escritura da casa. Já havia ido no dia anterior, mas esqueceu um documento e preferiu deixar para o outro dia, em vez de ir pegá-lo em casa.

No cartório, ele passou bem mais tempo do que achou que passaria. Na volta, viu um livro numa banca e parou para folheá-lo. Foi então que a viu: uma antiga colega dos tempos de escola, vinha de óculos escuros, com passo apressado olhando para o outro lado, aparentemente para as vitrines da lojas. Ela não o viu. Ele tampouco a chamou.

Imediatamente uma avalanche de pensamentos e lembranças invadiram sua mente. Um sentimento desses sem nome que ele nem lembrava mais que existia, um passado desenterrado, e, no entanto, vivo como nunca....

Em casa não conseguia fazer seu pensamento parar de voar: se ele não tivesse saído na noite anterior e assim tivesse acordado mais cedo, se não tivesse decidido voltar ao cartório apenas no dia seguinte, se, meses antes, não tivesse surgido a inexplicável confusão sobre a escritura da casa, se não tivesse parado para olhar o livro....

Uma infinidade de pequenos eventos, que se não tivessem ocorrido, ou tivessem ocorrido com um minuto de atraso ou adiantamento, teriam impossibilitado aquele encontro.

Um pensamento intrometido veio para lhe dizer que "coincidências" como essas, na verdade ocorrem aos milhares, todos os segundos de nossas vidas, e nós apenas não nos damos conta.

Imediatamente ele expulsou esse pensamento quando lembrou-se da frase exata que lia quando a viu: -"Uma estrela brilha sobre a hora do nosso encontro."

Num antigo caderno, encontrou rabiscado o telefone dela. Pegou o celular. Se depois de tantos anos ela ainda tivesse o mesmo número, seria muita coincidência?

29 de dezembro de 2010

Intuição

David estava um pouco irritado, Jaqueline não lhe dera qualquer sinal de vida. Ele não sabia se iriam ao cinema juntos ou não, e ficava cada vez mais tarde. Ele estava incessantemente fumando e tomando café, não conseguia se controlar na frente da TV, sempre passando as mesmas bobagens de sempre.

O telefone toca.

- Desculpas meu querido. Não dei notícias porque estava no hospital, mas já estou bem.

- Estar no hospital é mais um motivo para que eu não te desculpe. Eu teria ido te visitar.

- Eu sei, por isso não te liguei.

Ele já imaginava que ela não queria vê-lo, mas essa foi a gota d'água. Sentiu vontade de explodir ao telefone, mas hesitou, e hesitar com ela era ceder. Mesmo assim não a desculpou, mesmo sabendo que isso faria pouca diferença. Foi rude, foi chato, irônico e depois desligou o telefone.

Não parou de pensar nela por um segundo sequer, enquanto deixava de lado a televisão por um gole de cerveja e um jazz dos anos 30. A cerveja acabou e ele se viu compelido a continuar bebendo, foi até o buteco da esquina. E continuou.

Bebeu, bebeu, bebeu...

Não ficou bêbado, não perdeu a noção, e não parou de pensar nela. Foi para casa. Abrindo a porta, ouviu o telefone tocar, tentou abrir a porta mais rápido, opção errada a chave emperrara. Quando conseguiu abrir, e se agarrar o telefone...

Beep-beep... beep-beep... beep-beep...

Ele tinha certeza que era ela, e dormiria com essa certeza. Pensou em telefonar, mas ainda estava com o orgulho ferido.


Abraço. Boa leitura.

28 de dezembro de 2010

Madrugada

Eu ia falar de armas, ia falar de Samuel Colt e da máxima que diz que "armas não matam pessoas, pessoas matam pessoas". Mas, por acaso, apertei num link no Twitter para o perfil do "Pequeno Príncipe" (@OPeqPrincipe), e descobri que vai ter uma série animada no segundo semestre do ano que vem e que será exibida aqui por algum canal, até agora não confirmado. E daí? Alguns podem estar se perguntando.

Eu comecei a ler pedaços soltos do texto de Saint-Exupéry, e me dei conta que nunca li esse livro. Pra ser sincero não sei sequer de que trata a história, além do deduzível que é a história de um pequeno príncipe. Já ouvi inúmeras pessoas falando desse livro, sou um fã de livros, mas nunca o li. Na verdade, a primeira vez que esse livro passou em minhas foi há alguns dias quando acabei presenteando alguém com ele.


Introduções de lado. Vamos ao que interessa.

"Foi o tempo que você dedicou a sua rosa que a fez tão importante". É tão óbvio o que Exupéry diz, que chega a passar despercebido. Mas vamos pensar um pouco. Se eu dedico meu tempo ao trabalho, o trabalho se tornará importante, se eu dedico meu tempo ao estudo, será o estudo a se tornar importante. Se dedicamos nosso tempo a uma pessoa, essa pessoa se tornará importante.

Mas porque com as pessoas é diferente? Porque o insucesso com pessoas importantes nos afeta mais que nos estudos ou no trabalho?

Isso me lembra um filme bobo, A Ilha, dele só é possível aproveitar a definição de Deus ("Sabe quando você quer muito alguma, fecha os olhos e pede? Deus é o cara que ouve e te ignora".), o espetáculo que é a Scarlett Johansson e uma outra passagem falando sobre previsibilidade e curiosidade.

***

Deu tilt aqui na postagem, perdi a concentração e o raciocínio, por estar dedicando tempo a uma certa rosa - ou seria uma erva venenosa (risos).

Mais uma do Pequeno Príncipe pra encerrar. "É preciso proteger as lâmpadas com cuidado: um sopro as pode apagar..."


Abraço. Boa leitura.

P.S.: Até um título foi difícil depois dessa.

27 de dezembro de 2010

Detalhes (2)

Era o último congresso maluco da faculdade de Filosofia, Pedrenrique nunca conhecia pessoas como ele nesses lugares, eram sempre os mesmos loucos de sempre, uns fumando baseado, outros bebendo vinho, ele não tinha preconceito algum, porque todos sempre ouviam música clássica. O problema é que ele não fumava maconha e preferia beber Coca-Cola nesses lugares.

E ele nunca encontrava ninguém normal, ninguém como ele, o que o fazia pensar que ele podia parecer anormal pra os companheiros de academia. Depois das palestras, saiu para conhecer a cidade com Clara, o mais próximo de colega que ele tinha feito no decorrer do curso. Embora em alguns momentos ela fosse incrivelmente chata, de tão previsível.

Pararam num buteco meio underground, estava lotado, exceto por duas cadeiras vazias numa mesa onde estavam sentadas três moças e dois rapazes. Pedrenrique quase gritou assustado, quando uma senhora puxou ele e Clara até a mesa e disse sorrindo - e sem alguns dentes: "sentem-se, já lhes trago bebida. Para o rapaz Coca-Cola, e você moça o que quer?"

Ele ficou mais assustado, como ela poderia saber o que ele ia pedir. Em seguida, se acalmou podia ser coincidência, afinal, ela perguntou a Clara o que ela iria beber. Foi então que Clara respondeu: "Estou indecisa ainda". E a senhora deu de ombros e saiu.

De repente, ele ficou ainda mais surpreso, Clara - contrariando a sua tradicional previsibilidade - começou a falar com a turma que já estava sentada. E parecia que ela os conhecia há anos, e a conversa parecia nunca acabar. Vez ou outra ele se metia e falava alguma coisa, mas ainda estava admirado com a desenvoltura nada corriqueira da sua amiga. E vez ou outra o olhar dele cruzava com o dela, e vez ou outra a mão dela tocava a dele.

Mas ele deixou passar esses detalhes tolos. Foi ao banheiro e quando voltou Clara não estava mais lá, nem os novos colegas, olhou ao redor e procurou a senhora, nenhum sinal. Pediu uma cerveja no balcão e saiu. Nunca mais viu Clara, mas vez ou outra aquela noite vinha na lembrança e ele acabara percebendo que havia estado apaixonado por Clara. Ele prestava muita atenção nela, por isso ela era tão previsível.

E sempre se perguntaria porque tinha deixado passar os detalhes tolos.


Abraço. Boa leitura.

26 de dezembro de 2010

Detalhes

O último show, debaixo de uma forte chuva, havia lhe tirado um pouco da voz, ainda bem que não faria mais nenhum show naquele ano, o que significava nas próximas duas semanas. Tempo o bastante para recuperar a voz, com certeza. Olhou pra Lucy, sua amada guitarra, e foi tomar banho.

Como sempre, fazia questão de ser pontualmente inglês - mesmo que dessa vez não houvesse uma hora exata para o jantar. Enquanto tomava banho, um pensamento passou pela sua cabeça, como era possível ter tanta certeza de que sentiria saudades dela mesmo que nunca a tivesse conhecido. Sabia que mesmo que nunca desconfiasse sequer seu nome ou se de fato ela existia, sentiria saudades dela, como conjunção estelar.

Além disso estava inquieto, mesmo sem saber o porque. Arrumou-se, foi à garagem, ficou na dúvida de qual carro escolher, e resolveu ir caminhando. E na caminhada só pensava nela. Se perdeu um pouco na hora, e na caminhada, e quando chegou já estavam todos lá. Jantaram, conversaram por horas e horas e horas, e foram se despedindo um após o outro.

No fim ele percebeu uma coisa estranha. Não que ele não estivesse concentrado na conversa, ele estava, mas de alguma forma seus olhos teimavam em olhar para uma certa direção. E mais, teimavam em querer cruzar com outros olhos no caminho. No fim, como os outros, partiu.

Dias depois, percebeu que havia deixado algo passar despercebido. Não sabia exatamente o que, mas havia.


Abraço. Boa leitura.

22 de dezembro de 2010

Um dia a mais

Todo dia ele a via no trabalho, e toda noite ele a via nos seus sonhos.

Que nome se dá a esse sentimento tão forte por uma pessoa que não se conhece? Por uma pessoa de quem nada se sabe? Como pode uma total desconhecida ocupar assim de forma tão permanente a mente de uma pessoa?

Aliás, pensando bem, ela nem chegava a ser uma pessoa. Para ele, ela era apenas uma pele clara, um par de olhos escuros, um jeito gracioso de andar, e um delicioso perfume. Acima de tudo um perfume!

Naquela manhã, depois de sonhar (novamente) com ela, ele pensou em com aquilo era loucura! Como é possível conhecer uma pessoa pelo perfume, mas não pelo nome? Andando pela rua, ao cruzar com uma mulher que usasse a mesma fragrância, ele imediatamente reconhecia: "é o perfume dela!". Mas "dela" quem? Afinal, quem é ela, que toda noite ocupa os seus sonhos?

Naquele dia ele resolveu perguntar.No caminho ia pensando que essa é uma pergunta banal, que pode ser normalmente feita entre dois colegas de trabalho que nunca se falaram sem que um ache que o outro sofre de algum problema. Ele não sabia se seu pensamento estava correto, mas pelo menos era bem mais confortável do que a opção oposta.

Lá chegando, foi em busca dela, guiado pelo perfume. Qual é o seu nome? Um olhar de estranhamento pela pergunta que foi mais disparada do que perguntada e em seguida uma resposta. Uma troca de sorrisos burocrática.

Ela continuava não tendo nome. Aquele nome (ainda) não significava nada para ele. Em seus sonhos ele continuaria chamando-a simplesmente de "você". Depois de toda a reflexão e da decisão tomada na cama ao acordar naquela manhã, ela continuava não tendo nome. O que ela tinha agora era uma voz. E que doce voz!

20 de dezembro de 2010

Encontrando-me

One tree hill tem ocupado uma parte muito grande dos meus dias, tenho assistido uns 10 capítulos por dia. É uma série muito boa, estou gostando mesmo, porque me obriga a me questionar infinitas coisas a respeito de mim mesma e sempre acaba me colocando contra a parede.
Um tema muito frequente é a questão do 'dom'. Na verdade não sei exatamente que termo usar para descrever isso. Pode ser dom, pré-disposição, afinidade, saber... enfim... na série a maioria dos personagens sabem fazer alguma coisa, e são muito bons no que fazem.
Um é ótimo jogador de basquete, outra é uma excelente cantora, outra desenha muito bem, outra tem uma linha de roupas muito famosa... e cada um deles se dedica da forma que pode para fazer suas respectivas habilidades serem reconhecidas. Fazem por amor, trazer suas habilidades para o cotidiano é a realização de um sonho para eles. E isso me encanta. E isso tem feito com que, dia após dia, eu me pergunte e procure algo em que eu seja boa o suficiente, algo que eu possa agarrar e impregnar no meu cotidiano, algo que possa me trazer felicidade e paz, trazer a sensação de estar viva dentro daquilo, de realização.
Ainda não sei que coisa é essa, escrever com certeza não é, cantar também não. No fundo, acho que queria ter o dom (isso aqui eu vou chamar de dom) que uma das personagens tem, ela salva vidas com palavras. E de todos, de tudo, isso foi o mais bonito.
Então fica a deixa para vocês... se tiverem algo para falar, por mais idiota que possa parecer, tente expor de alguma forma, talvez exista alguém em algum lugar esperando apenas por essas palavras. Talvez salve alguém.

Ficou aqui a minha tentativa que, com certeza, está salvando a tranquilidade de Fahad.

Abraço, boa leitura.
Cláudia Brito.

18 de dezembro de 2010

Novo escritor no blog

Atendendo a convites do grande amigo Fahad, eu vou a partir de agora colaborar com alguns textos para o Infinito & Finito. Essa primeira postagem é apenas de apresentação.

Me chamo Sávio, sou caicoense, assim como Fahad sou estudante de Direito, escuto Engenheiros e Los Hermanos. Diferente dele, creio em Deus e na Santa Igreja (hehe)....

Tricolor nato, confesso, praticante e hereditário, desde antes do ventre materno; e jogador de rúgbi nos finais de semana.

Disseram por aí que eu tinha algum talento pra escrever então ele me chamou para colaborar, depois não vá se arrepender....

Em breve eu estarei colocando por aqui alguns contos, crônicas, comentários sobre atualidades, antiguidades e os rumos da catilogência; na esperança de que vocês tenham paciência pra ler e, quem sabe, comentar.

Pois bem, por enquanto é só. "That's all folks!"


Eu como sou metido, vou bagunçar a postagem de Sávio. Dou minhas boas vindas ao amigo. Que já se sentiu em casa, e nem pediu permissão pra entrar. Brincadeiras a parte, como eu te disse meu amigo, a regra aqui é uma só: escrever. Não se preocupe, não me meto nas próximas. Essa aqui é só um bate-papo, então pode.

Abraço. Boa leitura. Fahad.


Ahhh, eu também vou bagunçar a postagem de Sávio!!! hehehe. Sinta-se em casa, rapaz... estou muito feliz por ser a única menina aqui, me dá uma sensação de poder =P Brincadeiras à parte, não leve Fahad muito a sério, eu nunca escrevo e ainda sou membro do blog, claro: nenhum orgulho quanto a isso. Agora sério, acho mesmo que poderá fazer um bom trabalho por aqui, espero encontrar sempre postagens suas... quem sabe apareça uma minha algum dia. Beijão.

Beijão com sabor de boas vindas para Sávio, e com sabor de boa leitura para os demais. Cláudia Patrícia.

Cervejas, Garoa e Uma Violeta

Longos anos se passaram, e vez ou outra ele ainda sentia falta dela. Estranhamente a triteza de sua partida nunca o afligira, a única coisa que lhe infestava era uma saudade indomável. Ele ainda mantia o porta-retratos em sua escrivaninha, sem saber porque. E acabava se distraíndo às vezes olhando para aquele retrato. Mas no fundo, sabia que não precisava olhar aquela fotografia para se distrair, qualquer leve pensamento que o levasse até ela o fazia se distrair.

Naquela noite, sem qualquer razão aparente, não seguiu sua rotina. Ao invés de um tradicional vinho, abriu uma cerveja. E depois outras tantas. Caminhou pelo jardim com a garrafa na mão, sem se incomodar com a leve garoa que as nuvens despejavam com suavidade.

Encontrou, perdida no jardim, uma violeta. Escondida o bastante para ele saber que estava ali desde muito tempo, porque sequer lembrava quando fora a última vez que o jardineiro colocar violetas no jardim. Com cuidado, arrancou-a do chão e a levou para a estufa. Lá procurou um vaso e deparou-se com mais uma lembrança dela. Um vaso quebrado, desde o dia que ela partira.

Fez com que ele lembrasse o porque de sua partida. E pra aquela saudade que o infestava, diria que faria ela se apaixonar por ele todos os dias se isso fosse preciso. Uma lágrima, um sorriso tímido e alegre, uma batida mais forte e mais rápida no coração e um curioso desejo de mais três beijos, foi essa mistura de sensações que sucederam-se após a lembrança.


Abraço. Boa leitura.

17 de dezembro de 2010

Apenas Um Velho Clichê

É Natal, tempo de alegrias e confraternizações. Deixamos um pouco de lado os problemas, reunimos nossas famílias, nossos amigos e comemoramos o tempo do bom velhinho. É, mas o Natal não é diferente de outros tantos clichês. E me perdoem, não que eu não goste de clichês, eu até simpatizo com alguns, mas aquele "Feliz Natal", "Feliz Ano Novo", "Feliz Aniversário", "Tudo de bom pra você", "Muitas felicidades", entre tantos outros, é tão verdadeiro quanto uma manchete no jornal dizendo que a corrupção foi erradicada do Congresso.

E eu falei de corrupção não por coincidência, mas porque essa nossa falsidade diária, essa aparência que mantemos na sociedade, nada mais é do que corrupção também. Diariamente não estamos praticando a roubalheira tradicional que existe nos corredores do poder, mas corrompemos algo, ao meu ver, ainda mais precioso: corrompemos valores.

Deixamos de lado qualquer sentimento de moral, de respeito, e porque não dizer de humanidade. Vivemos e nos tratamos como robôs, autômatos programados para dizer "Bom dia. Como você está? -Eu estou bem. E você?". Isto é ridículo, a sociedade age ridiculamente mas há quem se ache "chique" vivendo assim. É por isso, que mesmo simpatizando com alguns, esses velhos clichês me irritam e eu os evito.

Por isso, para os caríssimos - anônimos ou não - que perdem tempo lendo minhas balbucias, sem o velho clichê de feliz Natal. Mas a gratidão por todos os elogios que recebi ao longo do ano - sinceros ou não - e a garantia de que próximo ano continuarei por aqui, balbuciando bobagens que poucos leem e menos ainda refletem.


Abraço. Boa leitura.

15 de dezembro de 2010

Refrão de Bolero*

Não era tristeza que lhe afligia, mas saudade. As lembranças estavam tão frescas e eram tão doces, que ocasionalmente ele se pegava, feito bobo, sonhando acordado. Já tinham se passado quase duas semanas desde o fim do verão, mas ele não conseguia tirar aquele sorriso, aquele olhar e aqueles beijos de sua lembrança. E de súbito ele lembrava daquele refrão de bolero do Gessinger...

Teus lábios são labirintos, Ana.

Queria mesmo era ligar pra ela, fazer uma proposta irrecusável, mesmo sabendo que ela iria recusar pela n-ésima vez. Cansou, foi até a adega da casa, pegou os melhores vinhos que tinha e embriagou-se enquanto ouvia o blues de Sonny Boy Williamson. Diferente do costume e da cerimônia tradicional, bebeu como se fosse aguardente, ao passo de que sequer podia contar quantas garrafas vazias estavam espalhadas pela casa.

Tombando conseguiu chegar ao jardim, na metade da noite, uma hora perfeita para desabar e dar de cara com uma imensa lua prateada no céu. Fixou o olhar por uns instantes, e logo em seguida podia enxergar, como se olhasse um retrato, o contorno daquele rosto que tanta falta lhe fazia. E ainda tinha a mesma certeza, não estava aflito de tristeza, era saudade.

Adormeceu ali mesmo, ao amanhecer não foram os raios de Sol que o acordaram, mas as cócegas que uma magnífica borboleta colorida fazia parada em seu nariz, desejou agora que alguém pudesse tirar uma fotografia daquela cena inesquecível, mas era em vão. Em uma fração de segundos a borboleta bateu asas e voou. E ele nada podia fazer, como nada podia fazer quando Ana decidiu partir...


Abraço. Boa leitura.


*É, os títulos das canções de Engenheiros sempre me inspiram.

6 de dezembro de 2010

Perfume...

Sentado na cama João reunia as lembranças. Uma após a outra. Desde o dia em que esbarrou em Maria na fila do supermercado, e eles passaram horas e horas conversando. Os versos que ele escreveu e esqueceu de levar no dia em que ela foi acompanhá-lo no aeroporto, mas ele acabou se atrasando tanto que sequer conversaram direito. A longa conversa no dia em que ela lera os versos toscos que ele fez e que antecedeu aquele primeiro beijo, longamente aguardado.

Fitava o branco teto do quarto e não conseguia desviar o pensamento para nada mais. Eram incontáveis os momentos repletos de sentimentos agradáveis, e naquele instante todos suprimidos por um único recuo. Maria lhe pedira um tempo para pensar, mais que isso, colocara em xeque o que sentia por João. Ele entendia, ela precisava daquela certeza, mas ele não suportava tanta agonia que o tomava.

Pior que isso, ele achava que não haveria amanhã. Esse tal tempo, parecia ser definitivo. Estavam se perdendo. Ele sabia que ela tinha um gênio forte, não adiantaria insistir, talvez até piorasse. Estava impotente. E no quarto vazio, com as mãos no rosto, sentia o cheiro do perfume que lhe trazia lembranças e sorrisos, por ora repletos de saudade e vagos de alegria.

Era esse perfume, esse aroma a única presença dela, o único consolo...


Abraço. Boa leitura.

3 de dezembro de 2010

Quem Comanda a Carruagem?

Faltam hoje menos de trinta dias para que Dilma Roussef assuma a Presidência da Ré-pública. Mas as disputas internas entre PT e PMDB azedaram antes da posse. E ainda tem o PSB correndo por fora. A nova presidente vai nomear milhares de auxiliares, o PMDB tem o rótulo histórico de fisiologista e o PSB está crescendo e quer espaços, isso sem falar nos partidos menores.

Mas e o PT, oras, enquanto o PMDB esperneia por cinco ministérios, o PT terá 17 ou 18. Não estou tomando partido de ninguém, mas se o PMDB com toda a fama de fisiologista quer 'apenas' cinco ministérios, o que dizer do PT com mais de 15?

Há quem diga que há possibilidade de ocorrer um racha entre os dois partidos antes da posse, pessoalmente cheguei a corroborar dessa tese, e diga-se de passagem simpatizar com a idéia de que isso deveria acontecer de fato. Mas analisando com calma, é impossível. Lembram do discurso que o Lula usou argumentando que a aliança com o PMDB era necessária para que houvesse a tal da governabilidade?

Pois bem, é em nome da tal governabilidade que Dilma irá ceder, o PT precisa do PMDB para governar e, aliás, o PMDB faz parte literalmente do governo, Temer é presidente do partido e é o vice de Dilma. Partindo desse princípio haverá quem diga que o PMDB mostra ter mais força que o PT. Eu digo que não. Se fosse verdade, seria o fisiológico PMDB que indicaria 15 ministérios, oras.

Agora, o governo de Dilma começa a mostrar uma mudança no quadro político, não é mais o PMDB o mais sedento por cargos. A sede fisiológica, a sede por cargos e pelo poder agora é muito maior vindo do PT, aquele partido que já gritou sozinho, feito louco no Congresso, e que hoje, infelizmente, é quem tem as rédeas do país. Eu, como já disse, sou simpático a tese de que o PMDB, deveria rachar. Mas isso não vai acontecer, o PT vai ceder. Demonstrando fraqueza, e demonstrando que mesmo com as rédeas ainda não é dono da carruagem.


Abraço. Boa leitura.

1 de dezembro de 2010

Elas Por Elas

Há alguns dias eu parei pra escrever sobre a derrota de Fernando Alonso no Mundial de Fórmula 1, o automobilismo - em especial a Fórmula 1 - me fascina, tanto quanto ou talvez mais que o futebol, paixão nacional. Mas o futebol ainda me comove, e muito. E pude ver dois fenômenos acontecerem no Brasil em um curto espaço de tempo, o que de certa forma me faz pensar um pouco.

Brasileiros de todo o país crucificaram a Ferrari, Felipe Massa e Fernando Alonso, pelo jogo de equipe no GP da Alemanha desse ano. Trapaceiros, vigaristas, antidesportistas, verdadeiros vilões, é como foram taxados os membros da equipe - equipe que como falei em outro texto é maior que a própria F1. Mas de repente nos útlimos quinze dias torcedores de todo o Brasil - e não só palmeirenses e são-paulinos - defenderam de forma inequívoca e escancarada que Palmeiras e São Paulo perdessem seus jogos contra o Fluminense, para prejudicar o Corinthians.

Eu também defendi essa posição - mas eu queria o Alonso campeão do mundo de F1 -, não dá pra ver o Corinthians campeão brasileiro. Principalmente depois de toda a papagaiada protaganizada no jogo contra o Cruzeiro. Só que tem uma coisa, quantos dentre os que clamavam pelo "entrega" de Palmeiras e São Paulo não desceram a lenha na Ferrari quando do jogo de equipe, inclusive chamando de marmelada?

Pois é, o brasileiro é mesmo um povo fantástico. Tão fantasticamente cretino que escancaradamente em um curto espaço de tempo apóia situações completamente distintas com um fervor quase religiosamente acéfalo. É o tipo da atitude que mostra que não são só os políticos os corruptos, o povo também é. É intrínseco a condição de brasileiro fazer aquilo que lhe traz mais vantagens. Incrível isso.

Em outras palavras o que se viu foi algo do tipo, marmelada pode se for em meu favor, contra mim jamais. Quer ver só, o que teve de corintiano falando merda esses dias por causa das atuações - bem abaixo da média - de Palmeiras e São Paulo. Mas vejam só, o Corinthians fez o mesmo ano passado. Perde ridiculamente para o Flamengo. Em bom português, ficou elas por elas.

Abraço. Boa leitura.

30 de novembro de 2010

O Segundo Super-Herói Brasileiro?

Me vem à memória a capa da revista Veja de alguns dias atrás com o Capitão Nascimento estampado e a menção: "O primeiro super-herói brasileiro". Tomado por um sentimento de desprezo e inconformismo com a corrupção e as injustiças que, como um câncer, corroem dia após dia o nosso país, ele pegou em armas e partiu numa guerra pessoal. Nos EUA, Tropa de Elite seria apenas mais um filme qualquer de ação, aqui virou sinônimo de inspiração e retrato da realidade para muitos.

E, coincidentemente, poucos dias após a estréia do novo Tropa de Elite, eis que o Rio entra em guerra. Não nas telonas, mas na vida real. Gueera de verdade. E uma figura começa a tomar certo destaque. Delegado Federal e Secretário de Segurança Pública do Rio de Janeiro, José Mariano Beltrame. Mas na verdade quem é esse cara, um escoteiro, um burocrata ou um novíssimo herói?

Não adianta se esconder diante de um cargo, de uma patente, de uma farda e dizer que tudo vai bem. Tem que colocar a cara pra bater, tem que dier quando as coisas não vão bem. E isso o Beltrame tem feito, pelo menos recentemente. Ele não fica em seu gabinete assinando papéis e tomando capuccino. Só me resta dúvida no que diz respeito à sua alçada até a Secretaria de Segurança Público, meios burocráticos, eu espero.

"Palavra de escoteiro", quem já ouviu isso? Eu já. A palavra de um escoteiro equivale a um contrato, ou seja, a verdade, e nada mais que a verdade. E ele disse que ia entrar no Alemão, e ele disse que ia prender os traficantes. Honrou sua palavra. Mas numa guerra não há lugar para escoteiros.

E de repente ele diz que pode entrar em qualquer lugar no Rio de Janeiro, quero ver ele honrar essa palavra e entrar no Bar da Praia ou no tradicional reveillon de Bruno Chateaubriand, no edifício Chopin. Lá, tradicionais pontos de encontro da high society carioca, ele vai poder ver quem financia o tráfico que ele combate. Mas ele vai ter coragem? Se tiver, quem sabe pode até virar herói.

Herói que ele, ainda, não é. Ele está somente cumprindo o dever. Eu estava certo quando concluí antes de escrever isso que ele é um Cap. (ou Ten. Cel. pra quem já viu Tropa 2, que eu não vi) Nascimento numa versão mais modesta, numa versão 'escoteiro'. Para combater de verdade o tráfico Beltrame tem que tirar o tom de escoteiro, nada de fazer bem aos animais, traficante é pra morrer. Não estou dizendo que ele não está de parabéns, ele está - e eu tô começando a gostar dele. Mas ainda não é hora mitificar José Mariano Beltrame. Ele precisa de mais pra ser herói, ele não é um burocrata, ele foi pra guerra, e numa guerra não há lugar pra escoteiros.


Abraço. Boa leitura.

28 de novembro de 2010

Quem Sustenta o Tráfico?

A outra face da moeda da guerra promovida no Rio não pode ser esquecida. Não podemos deixar de lado o detalhe mais aterrador dessa situação. O tráfico só existe porque alguém usa a droga. E não tô falando daquele maconheirozinho de faculdade ou de uma daquelas figuras raquíticas viciadas em crack que estampam matérias sobre uma das drogas mais devastadoras que existem.

A maconha e o crack são drogas razoalvemente pouco rentáveis se comparadas com o que realmente financia a mega-estrutura do tráfico no Rio, no Brasil e porque não dizer no mundo. O pozinho branco ocasionalmente visto nas telas de cinema é a engrenagem que faz girar todo a estrutura do narcotráfico. Elias Maluco, Isaías do Borel, Marcinho VP, Beira-Mar, entre outros são meros varejistas nesse meio.

Não passam de coadjuvantes tanto quanto aquele moleque que eles usam como "aviãozinho". A estrutura real ainda está oculta aos nossos olhos, passa por cima - e muito - disso tudo, tenham certeza que vai ter muitos políticos, e não se espantem se houver envolvimento das cúpulas que comandam a segurança nacional. Um quilo de cocaína pode custar até 100 vezes mais que um quilo de maconha e 5 ou 10 vezes mais que um quilo de crack. Aliando essas cifras à ideia de que todo homem tem seu preço, seria fácil conseguir corromper muita gente para facilitar as coisas.

E quem paga essa conta? Afinal o quilo de coca que deixa a Colômbia por 2 mil dólares, chega ao Brasil por 4,5 mil, vai pros Estados Unidos e custa 25 mil dólares, podendo variar entre 40 e 80 mil dólares da Europa ao Extremo Oriente. E numa conta razoável onde só no Rio de Janeiro em torno de 1 bilhão de reais por ano é movimentado pelo narcotráfico, não é difícil descobrir que quem financia não são os pobres, nem a classe média, quem financia o crime é a high society.

Daí fica fácil entender porque tem tanto ativista de Direitos Humanos falando em prol de traficante e bandido, como disse o Matias no primeiro Tropa de Elite, "são um bando de viciado, um bando de playboy filhadaputa". A sociedade devia deixar de ser hipócrita, quer usar droga? Legalize! Até quando vamos deixar hasteada a bandeira de que o crime compensa? Depois de excomungar os traficantes, as autoridades deviam fazer o mesmo com quem leva as drogas até a high society, porque tenho certeza que não é o favelado que faz isso, é outra pessoa.


Abraço. Boa leitura.

25 de novembro de 2010

O Rio de Janeiro Continua Lindo!

Já disse e repito: violência urbana existe em Natal, no Rio é guerra civil! E a cada dia que passa e cada vida inocente ceifada me faz acreditar que aquele ditado que diz que o crime não compensa é apenas uma lenda, e que, de fato, o crime compensa. Queria eu cair de paraquedas numa daquelas favelas com um kevlar, uma M-16 e duas .45, acho que eu ia morrer, provavelmente, mas levaria uns bandidos comigo, e bandido bom, é bandido morto.

Sou radical, pra mim não adianta prender 'aviãozinho', 'fogueteiro', traficante, 'dono-de-morro', e com isso inflar nossa justiça e nosso sistema carcerário, é muito mais fácil colocar esses caras num saco preto, com um tiro na cabeça e depois incinerá-los.

A polícia do Rio é ridícula, lá são formados policiais militares em 29 dias. Com o Rio em pé de guerra, agir dessa forma com homens é como colocar bois prontos para o abate. Numa guerra quem tem que lutar não é a polícia, são as Forças Armadas. Numa guerra morrem inocentes, isso se chama efeito colateral. Quem é conivente com o tráfico não é cidadão, é bandido também. Direitos humanos? Claro, sem dúvida, mas para os humanos direitos!

E a nossa imprensa que beleza, acha que e afirma que o Estado está fazendo o máximo para contornar a situação. Isso me faz rir ao mesmo tempo que me dá náuseas, as coisas não vão bem, mas o povo é trouxa e acredita em tudo que dizem. Talvez quando um daqueles repórteres da gigante platinada que estava cobrindo a guerra com um colete à prova de balas levar um tiro na cara eles comecem a tratar a situação como uma questão de segurança ao invés de mais uma matéria que dá audiência.

É isso, é hora de encarar a guerra como guerra e não como violência urbana ou ação do crime organizado. È hora de colocar a bem preparada Polícia Federal e as Forças Armadas treinadas para guerra nas ruas, e colocá-los na rua "Seu Lula" com licença pra matar, sem essa de mandar pra delegacia, tem que mandar pro IML.

Enquanto isso o Gil devia dar um tempo sem cantar: "O Rio de Janeiro continua lindo..."


Abraço. Boa leitura.

17 de novembro de 2010

Ele e Ela

Ele e Ela

E ela foi passando
E ele a olhando sorriu
E ela sorrindo partiu
E ele ficou pensando

Dias e noites passaram
Chuvas finas caíram
Algumas flores abriram
Noites e dias passaram

E de repente se encontraram
Cruzaram palavras soltas
Cheios de intenções outras
E de repente se conversaram

Uma conversa 'distante'
Mas em breve concluída
E antes da sua partida
Ele a deixou importante

16 de novembro de 2010

É Vencer ou Vencer...

O segundo colocado, segundo Nelson Piquet, é o primeiro perdedor. Para muitos isso seria uma afronta à esportividade, ao espírito esportivo e mais uma pá de ideais politicamente corretos do tipo: "O importante é competir".

Mas Piquet tem razão. Afinal, a verdadeira razão do esporte é vencer. Ninguém vai lembrar quem foi o segundo colocado, ou quem foi o vice-campeão. No futuro vamos lembrar quem foi o vencedor, o campeão. Daqui dez anos vamos nos lembrar que o alemão Sebastian Vettel foi o campeão mais novo da Fórmula 1 em 2010. E, em quase todo o mundo, ninguém vai lembrar que o vice foi Fernando Alonso.

"Em quase todo o mundo"?

Na Itália as coisas são um pouco diferentes quando se trata daquele carro vermelho e do cavalo rampante. A derrota de Alonso no domingo, por um erro grosseiro de estratégia da Ferrari, que não aconteceria nos tempos de Ross Brown e Jean Todt, vai custar a ser esquecida.

O sentimento lá é de que a culpa foi da Scuderia, que o time vermelho desperdiçou a chance de Alonso vencer. E lá as coisas acabam se extendendo para outros rumos, a derrota acabou se tornando uma questão política.

O ministro de gabinete do primeiro-ministro italiano chegou a sugerir que Luca de Montezemolo, presidente da Ferrari, fosse demitido. A reação do italiano, foi sutil e ridicularizou o ministro. Mas é isso, na Itália, quando a Scuderia perde alguém leva a culpa.

A paixão italiana pelo carro vermelho é tão grande, ou maior, que a paixão do brasileiro pelo futebol. Falem mal da comida, mas não da Ferrari.


Abraço. Boa leitura.

9 de novembro de 2010

Nossas Lutas e Nossas Crenças

Não me recordo se já havia postado esse texto antes, mas enfim, estou com vontade de postá-lo agora, mesmo que o tenha escrito há mais de 3 anos - puxa! como o tempo passa rápido.

***

Às vezes nós lutamos batalhas que não podemos vencer.

Como eu disse às vezes nós lutamos batalhas que não podemos vencer, mesmo sabendo que não podemos vencê-las, nós lutamos até o fim. Toda essa porcaria não é por um motivo banal ou por uma questão de respeito. Lutamos porque é aquilo que queremos. Exatamente isso, não é por um motivo banal nem por questão de respeito alguma. Simplesmente por ser o que queremos, por uma questão de honra. Por querermos mostrar que somos capazes ir até o fim por aquilo que queremos.

Em outros tempos muitos homens morreram por isso, por honra. Fizeram o que tinha que ser feito, pois acreditavam que era assim que as coisas deviam acontecer. Lutaram até o fim em batalhas perdidas antes mesmo de começar e fizeram isso por honra, e não por capricho. Eles lutaram até o fim por que quiseram e porque acreditavam nisso.

Mas hoje em dia as pessoas não pensam mais assim. Hoje em dia ninguém mais valoriza a honra o maior dentre todos os valores humanos. Ganância, cobiça, tão negra a cobiça do homem, a busca pelo poder, isso é tudo que importa para todos, inclusive para mim. O poder, o controle das coisas, desde tempos imemoriais sempre foi o que o homem quis para si. Mesmo que por muito tempo ele tenha se apegado a outros valores. E é essa busca pelo poder que, cada vez mais, está presente no nosso dia-a-dia. Seria isso uma busca ou uma doença?

Estou escrevendo toda essa bobagem não para você que está lendo, eu não dou a mínima para o fato de se você vai ler ou o que vai pensar quando ler, pouco me importa. Estou escrevendo para mim. Mas não espero que isso mude nada. Estou escrevendo, pois a única forma de fazermos com que aquilo que escrevemos leve alguém que lê a acreditar ou, mesmo sem acreditar, pelo menos considere o que está escrito, não é escrevendo para os outros e sim escrevendo para si mesmo e acreditando no que está escrito. Mas como eu disse: eu não acredito.

Isso é tudo que eu tenho para dizer. E você deve estar achando que eu sou um idiota, quem sabe eu seja. Toda essa bobagem é para, quem sabe, se um dia eu acreditar em mim mesmo, acreditar no que eu escrevi. E quem sabe nesse momento outras pessoas também acreditem. Se esse dia vai chegar eu não sei, quem sabe em outra vida ou quando for tarde demais. Quem sabe... ninguém sabe... em lugar nenhum... em tempo algum... pouco importa.


Abraço. Boa leitura.

7 de novembro de 2010

Inspiração

Inspiração

E a fase de poeta tem voltado,
O estado, de graça, ficado
Em verso e rima poetiso,
Sentimentos e emoções eternizo

Desde a primavera colorida
Passando pelo verão ardente
No outono, das flores: a caída
Até o inverno que frio sente
Passa a poesia cheia de vida
E inspira o poeta em sua mente

3 de novembro de 2010

Saudade, Saudade

Saudade, Saudade

Pense numa saudade danada
Numa saudade sem rima
Que sinto da minha menina
A quem eu chamo de amada

Saudade vivida, sentida
Uma canção cheia de melodia
Canção de amor e de alegria
Cantada na hora da partida

E o trem se foi veloz
Quase rasgando o vento
Ligeiro como pensamento
Só deixou saudade em nós

2 de novembro de 2010

Mais Uma Poesia

Mais uma poesia

Mais uma poesia
Sem querer cheia de saudade
E também de alegria

Pés descalços na areia
No rosto bate a maresia
No peito a paixão incendeia

Saudade dela
Pensando nela
Querendo estar com
Ela

31 de outubro de 2010

Hoje, Amanhã e Por Fim Ontem

Deixo bem claro minha posição, votei no Serra. Nunca votaria em Dilma. E me reservo no direito de não argumentar minhas razões, porque a campanha acabou.

Lula é a exceção a todas as regras. É possível que nunca apareça uma figura política tão carismática quanto ele, mas Lula não é um estadista, mostrou isso durante a campanha. É um mero cabo eleitoral, colocou Dilma embaixo do braço, saiu pelo Brasil e a fez presidente.

Transformou uma desconhecida em Presidente da República. Poderia ter feito isso com qualquer um, mas ele a escolheu, bateu o pé e impôs que era Dilma a candidata do PT. E mostrou que estava "certo", ela venceu. Mas mostrar que estava certo, sem as aspas, só em 2014.

Diferente de alguns eleitores do Serra, não quero que o governo de Dilma seja um desastre, menos ainda torço para isso. Pelo contrário, espero que ela faça um bom governo, um excelente governo, sou brasileiro, e ela é Presidente para todos.

Mas com o resultado anunciado pelas urnas, fica a minha torcida, minha maior torcida, para que no mais importante dia para a democracia brasileira, não tenham mais de 50 milhões de brasileiros sido co-autores do assassinato da democracia brasileira.

Que Dilma não nos traga um golpe de esquerda, que Dirceu não deseje mesmo que a imprensa seja controlada pelo Estado, que o Lula esqueça o que disse sobre extirpar partidos políticos de oposição e que Dilma não dê um pé-na-bunda do Lula. Porque os mais de 50 milhões de brasileiros não votaram em Dilma ou no PT, votaram em Lula, a exceção das exceções. Lula está para o PT, como a Ferrari está para a Fórmula 1, Não existe PT sem Lula, não existe Fórmula 1 sem Ferrari.

Encerro parafraseando uma declaração de Lula nos idos da campanha presidencial de 1990, quando era, o hoje aliadíssimo, Fernando Collor o seu adversário: "É uma pena para o Brasil, é uma pena para a democracia, o povo brasileiro votar com a barriga e não com a consciência". Pois é, concordo com ele.


Abraço. Boa leitura.

27 de outubro de 2010

Sorriso Aquarela

Sorriso Aquarela

Olha ela, olha ela
Um sorriso tão incrível
Em tons de aquarela

25 de outubro de 2010

Bobagem

Bobagem

Feito bobo
Bobo feito

Um sorriso
Um abrigo no seu peito
Teu carinho
Teu afago é perfeito

18 de outubro de 2010

[re]Encontro

Algumas horas de viagem depois, ele finalmente chegou. O trânsito parecia tranquilo, e era fácil percorrer as ruas daquela cidade, mesmo sem conhecê-las. Lembrou que precisava passar numa loja de roupas e comprar uma gravata para o congresso.

Atravessava as ruas sem pensar muito na palestra do próximo congresso, o carro ia devagar, observava as pessoas atenciosamente. Avistou então um lugar que lhe pareceu agradável. Uma cafeteria. Estacionou e foi até lá. Sentou do lado de fora e pediu um café espresso.

Continuava observando as pessoas ao redor. A cidade estava muito diferente do que era há dez anos atrás. Como de costume, após o café acendeu um cigarro. Do interior da cafeteria, fazendo seus olhos piscarem seguidas vezes, ela saiu. E vinha na sua direção.

Ele sabia que ela não fumava, mas atendeu quando ela pediu-lhe um cigarro, enquanto fazia de conta que não o tinha reconhecido. Em seguida, sentou com ele. Chamando a garçonete pelo nome, pediu uma dose de conhaque, a garçonete sem entender bem atendeu a patroa.

Os dois começaram a conversar, e em um instante ela pediu licença para colocar uma música na vitrola. Na volta perguntou a ele se eles se conheciam de algum lugar, ele então percebeu que ela não o tinha reconhecido. E então falou da música, e ele disse que estava excelente.

Era uma de suas músicas preferidas, ela sabia. Mas ele não entendia o que se passava. Ela baixou a cabeça, porque ele não compreendia o que ela queria. Ele pagou o café, e teve que ir embora, o congresso começaria em breve, e ele nem tinha comprado a gravata.

Ela ficou frustrada. E ele no carro, ouvindo de novo a mesma música, entendeu o que ela deixou no ar. Deu meia-volta e entrou em disparada na cafeteria, procurou por ela e ela sentava ao lado de um outro homem, hesitou e não foi até ela. Saiu e perguntou a garçonete quem era a mulher que sentara com ele, ela disse que era esposa do dono da cafeteria.

Partiu, mais uma vez repleto de solidão.


Abraço. Boa leitura.

5 de outubro de 2010

Idiota Vota? Vota, Idiota!

O voto de protesto no Tiririca é tão, ou mais, idiota que o próprio personagem. Quem votou nele para protestar, votou, por exemplo, pra eleger Genoíno, aquele que participou do mensalão. E essa conversa de dizer que quem o elegeu foi o mesmo povo que elegeu o Lula, o povo com pouco estudo é bobagem, teve muita gente com estudo que votou no Tiririca.

É ridículo, o povo brasileiro tem os políticos que merece, é fato. E contrariando toda a lógica do slogan do Tiririca, pior do que está, vai ficar sim, a próxima legislatura transforma o Congresso Nacional num circo de aberrações que são fruto da estupidez do brasileiro em achar que tudo está muito bem obrigado.

Mas o que se esperar de um povo que acha que voto tem preço, que político não precisa respeitar a ideologia do partido e que todo político rouba mesmo e nada vai mudar isso, não dá pra se esperar nada muito diferente.

E prestem bem atenção, muito mais corrupto do que o político que compra votos, é o bandido idiota que vende o voto, por uma cesta básica, uma consulta médica, uma reforma na casa ou simplesmente dinheiro. Enquanto essa prática for corrente, vamos continuar observando o desrespeito ao povo e aos interesses da nação enquanto alguns se perpetuam no poder.

Eu não vou conseguir mudar o Brasil, e talvez nem me importe em tentar, só não acho justo alguns pagarem pela idiotice de muitos. Não há direitos iguais quando o poder só está acessível para poucos. Não há democracia quando a representatividade é comprada. Aos idiotas que acham que voto é moeda de troca, deixo meus sinceros lamentos, porque vão ter que esperar as próximas eleições para terem valor novamente.


Abraço. Boa leitura.

1 de outubro de 2010

La Solitudine*

Apreciando os sabores mais amargos da vida como uma criança comendo algodão doce. É assim que José vive cada dia como se fosse o último e dobra cada esquina como se tivesse alguém lhe esperando com um revólver.

Ele encontra até mesmo nas marchas fúnebres sensações que nenhuma outra pessoa do mundo é capaz de experimentar, se ele fosse milionário o chamariam de excêntrico, se fosse pobre seria chamado de louco, mas ele não é ninguém, e assim é chamado.

Ele já quis jogar a culpa de tudo no mundo, mas o mundo, maior que ele, o jogou no lixo, o fez caminhar nas latrinas mais repletas de fezes, nos becos mais cheios de podridão, onde até mesmo veneno lhe parecia agradável.

Por décadas enfrentou guerras e mais guerras em nome de causas perdidas. Uma atrás da outra, primeiro o isolamento, depois a indiferença, passou então pela desconfiança, seguida da descrença e por fim, enfrentou a saudade que deixou seu peito despedaçado sem nunca tê-la encarado.

José arquejava, após mais uma batalha eram quase inaudíveis os seus suspiros ofegantes e repletos de dor. Embriagava-se então na solidão dos homens mortais.


Abraço. Boa leitura.

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"La solitudine fra noi questo silenzio dentro me
è l'inquietudine di vivere la vita senza te"
(Legião Urbana)

26 de setembro de 2010

Dias de Saudade

Dias já haviam se passado desde que Miguel falara com ela pela última vez, desde então nenhuma palavra, nenhum sinal de vida. Parecia que suas vidas haviam se desligado, era como se as lembranças do que nunca existiu de fato começassem a desfazer-se.

Naquela madrugada de segunda-feira Miguel ainda sentia o cansaço das comemorações do final de semana, ele havia finalmente conseguido realizar o antigo sonho de escrever um livro.

Saiu com os amigos, bebeu, ensaiou até cantar um samba, o preferido dela, por coincidência. Sair pra uma festa no dia seguinte, se distraiu, e se distraiu.

Mas era incrível como mesmo depois de dias, ela ainda permanecia. Em casa, deitado na cama, olhou o lugar onde costumava manter o porta-retratos com a foto dela, não encontrou, mas ainda assim ela veio em sua mente.

Imaginou como ela estava, o que estava fazendo naquele exato instante, intensamente quis estar com ela. Até pensou em ligar pra ela, mas hesitou e desistiu. Virou-se de lado e tentou adormecer, esperando encontrá-la nos sonhos ou em qualquer outro lugar algum dia.


Abraço. Boa leitura.


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"Sinto que é como sonhar
que o esforço pra lembrar
é a vontade de esquecer..."
(Los Hermanos)

19 de setembro de 2010

"Ele Brilha Lula-lá!"

Estamos há alguns dias das eleições e em grande parte do Brasil o quadro já se mostra com algumas definições, figuras esdrúxulas irão se tornar membros do Congresso Nacional, além é claro dos tradicionais pilantras, e a mulher do Lula parece que vai ganhar.

Mas o que me assusta mesmo são as recentes declarações do Lula, que mostram uma face do Lula que eu, particularmente, sempre apontei e sempre fui criticado: Lula é um fascista tirano!

Primeiro falou em "extirpar o DEM da política brasileira", uma sugestão absurda num momento eleitoral afinal que tipo de ditadura democracia defende o Lula onde não existe oposição?

Depois criticou veementemente a imprensa, acusando, sem citar, que há jornais e revistas que funcionam como partidos políticos. Isso porque a imprensa vem divulgando escândalo após escândalo envolvendo pessoas ligadas ao governo de Lula. E esquece o Lula os tempos em que era o PT que usava a velha copiadora para vazar documentos à imprensa. Os escândalos são tantos que "escandâlo do PT" virou o novo "morrem 6 na Cisjordânia": é algo grave e inconcebível, mas acabou perdendo valor como notícia por ser algo tão comum.

Não a toa Lula é o presidente mais popular da história do Brasil - alegam os petistas -, mas o detalhe é que antes do Lula receber essa alcunha, era Médici o mais popular entre os presidentes. Pra quem não sabe, o governo Médici foi considerado o mais obscuro e repressivo da história do Brasil independente.

Médici respondeu em entrevista que daria um tiro na cabeça se ganhasse um salário mínimo. E o Lula o que faria?


Abraço. Boa leitura.

12 de setembro de 2010

Ideais Falidos

Miguel estava sentado em sua poltrona favorita, ouvindo Ella Fitzgerald, fumando um charuto cubano, tomando "vinho" escocês e desdenhando do pensamento de Karl Marx, enquanto via as cenas da execução do Saddam.

A poltrona começou a ficar desconfortável, o disco arranhado na vitrola começou a soar estranho, o charuto foi ficando mais forte no fim, acabou o uísque. Ele olhou pro teto e concluiu: o amor, a justiça e o socialismo são ideais falidos.

Levantou-se, tomou um banho, pegou a viola colocou nas costas e saiu sem destino. Era incrível a presença que Luiza ainda exercia em sua vida, ainda que o tempo e as tarefas estivessem sendo demasiadamente generosos com Miguel.

Na noite passada, quando um quase desconhecido observou a fotografia de Luiza, que ele carinhosamente escondia num dos bolsos do casaco velho, e disse que ela parecia "extremamente incrível", ele só conseguiu imaginar que mal sabia aquele homem o quanto incrível ela realmente era, mais do que seja possível descrever em uma folha de papel.

Parou no meio do nada, uma praça deserta, sentou e começou a dedilhar suavemente acordes repletos de saudade e de dor.


Abraço. Boa leitura.

6 de setembro de 2010

Vaquejadas: História, Cultura e Tradição

Esses dias recebi um e-mail sobre o fim das touradas espanholas, pondo em xeque as vaquejadas, questionando se deveriam assim como as touradas espanholas acabar. E consegui organizar um pequeno raciocínio acerca do tema.


As touradas foram, de fato, proibidas na Catalunha porém muito mais por questões políticas do que por questões de respeito aos animais ou dinamização da cultura, a decisão, do ponto de vista de especialistas, foi uma 'revanche' do líderes políticos da Catalunha que buscam a autonomia da região. Eu sou contra as touradas, por uma razão simples, não me parece razoável machucar, muitas vezes de maneira letal, um animal por puro e simples entretenimento. E é justamente nesse sentido que - mesmo não sendo fã - eu defendo as vaquejadas, é uma situação completamente da brutalidade praticada nas touradas. Os vaqueiros surgiram para, principalmente, pegar os bois "brabos", e o boi diferente de alguns homens "brabos" não pode ir ao psicológo, era necessário o uso da força (não-letal). No Nordeste, desde a colonização, o gado sempre foi criado solto. A coragem e a habilidade dos vaqueiros eram indispensáveis para que se mantivesse o gado junto. O vaqueiro veio tangendo os bois, abrindo estradas e desbravando regiões. Foram eles os grandes desbravadores do sertão nordestino, e muito especialmente do sertão do Seridó, região cheia de contos e lendas de bois e de vaqueiros. Ignorar a história e a tradição pelas quais os vaqueiros são responsáveis e compará-los às brutais touradas da Espanha, é no mínimo irresponsável, podendo passar pelo profano e chegar ao preconceito. A vaquejada, principalmente para mim que fui criado aqui no Seridó, muito embora não seja um fã e não tenha o costume de ir assistí-las, é uma das manifestações culturais mais importantes do Nordeste brasileiro, renegá-la não é luta de quem defende a cultura nordestina. Na minha humilde opinião, é coisa de quem acha que cultura é apenas um quadro de Picasso, um poema de Álvaro dos Campos, uma escultura de Aleijadinho e gêneros afins, mas acaba esquecendo que não há cultura maior que a história e aqueles que a constroem, e esses merecem respeito, honrarias e lembranças sempre. Não sei se as vaquejadas serão proibidas, mas não espero que sejam.

Quanto a iraniana que será executada, ela relacionou-se enquanto estava casada e é, inclusive, suspeita da morte do marido. Não digo que ela é culpada, até sustento que ela é inocente enquanto não for provado o contrário. Porém acho que as pessoas tem que se preocupar mais com aquele pivete de 11 anos que fuma crack a madrugada inteira muitas vezes a poucos metros de distância de nossas casas, ou nos preocupar com a garota de 14 anos que já transou mais vezes que minha mãe de 53. Essas coisas preocupam-me muito mais que corrida de boi, mas perdoem minha ignorância.


Abraço. Boa leitura.

3 de setembro de 2010

Clichê

Romântico incurável, daqueles que acha que sonhos podem se tornar realidade, e que vai esperar - provavelmente em vão - por toda a vida um amor daqueles bem clichês.

Clichê, o que seria Miguel se não um clichê - e não, não me enganei no pronome é "o que" mesmo -, a vida toda ele tinha sido sempre um clichê, da primeira namorada à primeira virgem. Tratava todas as ocasiões de sua vida como um clichê.

Mas no fundo, tudo que ele queria era justamente o inverso, não queria um clichê. Não queria pipoca com Guaraná, nem fritas com Coca-Cola, menos ainda feijão com arroz. Ele queria mais, muito mais.

Queria algo único, que ele mal sabia o que era. Talvez um ouvir um samba do Cartola enquanto tomava vinho irlandês num pub do interior da Macedônia, ou quem sabe ouvir Brahms bebendo saquê numa boate carioca. É algo difícil de definir.

Cedo ou tarde ela se casaria, e mais um dos seus clichês chegaria ao fim, mais uma vez sem final feliz. Ele sentia vontade de pegar o carro na garagem, ir atrás dela e impedí-la, mas não podia deixar os compromissos de lado.

Do outro lado da rua, no bar da esquina Miguel observava a diversão alheia.


Abraço. Boa leitura.

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O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.
(Fernando Pessoa)

27 de agosto de 2010

Perfeita Simetria

Ele estava cansado das brigas constantes, estava cansado das horas perdidas ao telefone discutindo bobagens ou, as vezes pior, horas de contato frio, como se fossem duas pessoas que não se conheciam - não de fato, não ainda.

Ele sabia que o devaneio que a irritara e, por certo, a magoara também, não havia sido nada senão a gota d'água que fez o pote transbordar. Mas e então, o que veio antes ao ponto de encher o pote? Ele não sabia.

Ele não podia achar que Luiza era um ex-amor, porque de fato e pesarosamente nunca viveram um amor juntos, foram parceiros. Mas ele a amava, cada gesto dela, cada sorriso incrivelmente incrível, cada palavra tão doce quanto algodão doce, cada uma das dúzias de fotos que ela tinha espalhadas em murais em seu apartamento.

Ele amava cada detalhe de Luiza, e a dor que o afligia era deveras forte em saber que os anos se passariam e ela ia acabar esquecendo dele - ou não. Não suportava imaginá-la casada com outro, com uma casa enorme e um casal de filhos, viajando por cada cidadezinha e outras tantas cidades grandes país afora.

Esses planos eram seus, eles haviam sonhado juntos. Jamais iria acusá-la de traição, ela estava em busca de realizar os sonhos de quando era jovem. E os sonhos dele, agora, eram repletos de aflição porque ele a queria de volta.


Abraço. Boa leitura.

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"Ao tempo em que nada
Nos dividia
Havia motivo pra tudo
E tudo era motivo pra mais
Era perfeita simetria
Éramos duas metades iguais"
(Perfeita Simetria - Engenheiros do Hawaii)

19 de agosto de 2010

Caçador Caçado

José abriu a temporada de caça, como ele chamava a hora de ir se divertir nas boates daquela cidade que parecia nunca dormir. Depois de um bom banho vestiu com as tradicionais etiquetas da moda, o tênis da Nike e usou um pouco daquele perfume da Carolina Herrera que as meninas não resistem.

Pegou escondido as chaves do carro do pai, que chamava muito mais atenção que o próprio. Foi pra o posto de gasolina onde era costume os jovens de sua idade se divertirem, e lá fez questão de comprar o mais caro uísque disponível, isso pra esbanjar que estava com muita grana - da carteira do pai.

Lá já intimou três meninas, daquelas que não podem ver um som alto e uma garrafa de uísque, que já pensam: "Hoje eu pego esse!"

Saiu pra boate, com as três. Pagou pra todas, entradas, bebidas, drogas, tudo mesmo. No fim da noite os papéis se invertem. É a vez delas pagarem, mas como não têm grana, pagam com sexo. José - e aí de quem chamá-lo de "Zé" - fatura as três. A caçada foi um sucesso.

Hora de ir pra casa. No caminho, cruza um sinal vermelho e encontra um caminhão no caminho. Morrem os quatro.


Abraço. Boa leitura.

12 de agosto de 2010

Eu tenho um segredo para te contar, sonhei contigo na noite passada. Fiquei bastante surpreso não por ter sonhado, mas pela essência do sonho.

Você estava ao meu lado, não era um daqueles clichês hollywoodianos, nem era um daqueles casamentos politicamente corretos. Era algo muito parecido conosco, pelo menos eu acho. Seu sorriso me aparecia mais fantástico, para não dizer incrível, do que em qualquer outra vez que eu tenha o visto, ou mesmo sonhado com ele. Aì me bateu saudade, e depois culpa.

É, culpa. Uma culpa irracional, naquela noite há 5 anos, quando você me deixou sem sequer se despedir, e nos meses seguintes em que não respondia minhas cartas, me senti culpado, mas era algo irracional eu não sabia porque sentia tal culpa.

Foi então que ele fechou os olhos, prendeu o ar, sonhou, e continuou sendo um sonho qualquer.
Um sonho, uma pena...


Abraço. Boa leitura.

10 de agosto de 2010

Monotonia Pressentida

Eduardo acordou cedo, fez o café e enquanto fritava ovos com bacon teve a estranha sensação de que não seria um bom dia no trabalho. Ligou a TV em busca de algum sinal, e nada. Ligou o rádio, e ainda nada. Mais uma vez só podia ter razão em seus pressentimentos. Fez a comida, comeu e depois levou uma bandeja pra namorada que ainda dormia no quarto. Não quis acordá-la, lhe escreveu um bilhete e saiu para trabalhar.

No caminho, nada mudou. As mesmas caras na porta do prédio, o mesmo barbeiro na barbearia da esquina, o mesmo velhote vendendo café ao lado do seu trabalho. Tomou um café, acendeu um cigarro, e ficou pensando. Enxergou lá longe umas nuvens cinzas era o agouro que lhe faltava. Subiu para sua sala, e deu início ao seu frenético ritmo de trabalho.

Ficou cerca de uma hora encarando a tela do computador tentando encontrar as palavras certas para escrever. Procurou, procurou, e nada. Fitava o papel e sentia um estalo, uma claque, mudos. E de repente um silêncio ensurdecedor. Chegou a hora do almoço e praticamente não tinha escrito uma só palavra. Foi almoçar.

Na volta, mal sentou-se novamente na frente do computador, foi interrompido pelo seu chefe. Que esbravejou-lhe dizendo que ele precisava mudar a forma de tratar as situações, a editora responsável pela revista havia recebido o quinto processo por danos morais em menos de dois meses. Todos em matérias escritas por ele.

De forma serena manteve o emprego, afinal precisava pagar as contas no fim do mês. E no fundo aquela rotina lhe agradava. O tempo passou, e ele foi se sentindo preso. Um dia ficou de saco cheio. "Já chega de tanta loucura, tanta vaidade. Eu so quero a verdade. Escrita em uma folha de papel reciclado usando um lápis sem tinta". Escreveu, não se demitiu, mas conseguiu ser promovido.


Abraço. Boa leitura.

9 de agosto de 2010

Microconto #7 e #8

Sutilmente

Eduardo queria acabar o namoro, chamou a namorada pra um café, mas não sabia o que dizer. E gritou pra garçonete:

- Moça, eu quero um café e um amor. Quentes, por favor!



Falta de Ar

Durantae a viagem Julia estava se sentindo esquisita, sentia culpa de algo que fizera, mas definitivamente não sabia o que era. Instantes depois o telefone toca, era Raul, seu marido, reclamando que estava sendo despejado porque ela gastara o dinheiro dos últimos cinco meses de aluguel com roupas, maquiagem e viagens.


Abraço. Boa leitura.

5 de agosto de 2010

Planos, planos, planos...

O mundo é mesmo um moinho, uma engrenagem de torre de relógio, algo incrivelmente fantástico e que funciona, porém...

Não importa o quanto sejamos capazes de planejar, de nada vale se não pudermos agir. De repente, vai chegar uma hora que vamos chegar na frente do espelho e perceber que as coisas estão erradas, e que não adianta tentar consertar o relógio quebrado, ele não voltará a funcionar.

E sabe o que acontece, é justamente parados diante do espelho numa noite qualquer que descobrimos que alguns planos não passam de idiotices. Em qualquer sentido que isso possa tomar, planos de beber num domingo de férias com os amigos de infância, planos de escrever um livro, planos de visitá-la no seu aniversário...

Planos, planos, planos...

Olhando ao redor, olhando bem, a verdade é que só vale a fé que cada um deposita em si mesmo, e ponto. Não duvido das pessoas e se acontecer algo que me deixe triste, não enxergo maldade, tem explicação. Algumas vezes não me importa a tal explicação, não vai mudar nada. Outras...

Agora me falta um vinho forte e um samba na vitrola, amanhã talvez me falte o vinho novamente, mas o samba se faltar eu invento.


Abraço. Boa leitura.

31 de julho de 2010

Dick Esquerdista

Não sei porque as pessoas ainda perdem tempo discutindo esquerda e direita. Liberalismo e socialismo. Marx, Lênin, Stálin, Fidel e por aí vai, afinal todos eles são - assim como nós - grandissíssimos idiotas. Afinal dependem do fracasso dos outros para terem sucesso.

Depender do fracasso dos outros para ter sucesso, é algo que nos lembra o Dick Vigarista, personagem de desenho animado. Sejam homens, criem o próprio sucesso, cresçam e mudem, de fato, o mundo. É fácil criar o "caminho da felicidade" em um escritório rodeado do pensamento das mentes mais brilhantes da história da humanidade. Mas isso é cretino, é medíocre.

Olhemos pro Chico Buarque, inquestionavelmente um artista, um grande poeta, um músico de qualidade, mas no fundo um babaca. Nasceu no Rio e cresceu num berço de ouro enquanto o pai dirigia o Museu do Ipiranga, em São Paulo. Ele deveria parar de falar bobagens sobre caridade, ou deixar de cobrar altos cachês em suas apresentações.

Nos finais de semana, eles reúnem-se para encher a cara, um bom vinho de alguns milhares ou um scotch de primeira. Falam mal até de quem já morreu, sem pudor algum. Depois, quem sabe, uma pulada de cerca com uma prostituta de quinta, daqueles que não sabe quem são e não vai chantageá-los no futuro. Afinal, chantagem é coisa da direita. E no fim, ainda podem acabar dizendo pra ela lutar pela profissionalização das putas e o reconhecimento dos puteiros como lugar de trabalho.

É, como disse Bob Fields, na definição mais brilhante que já vi da elite intelequitual de esquerda. "É divertidíssima a esquizofrênia de nossos artistas e intelectuais de esquerda: admiram o socialismo de Fidel Castro, mas adoram também três coisas que só o capitaslismo sabe dar: bons cachês em moeda forte, ausência de censura e consumismo burguês. Tratam-se de filhos de Marx numa transa adúltera com a Coca-Cola".


Abraço. Boa leitura.

24 de julho de 2010

"Uma Mente Brilhante"

Miguel estava cansado da rotina, estava cansado das mesmas conversas sem sal de sempre, o mundo girava e ele continuava no mesmo lugar. Até que um dia, sem esperar ele teve uma conversa que se não mudasse o rumo de suas escolhas, pelo menos deveria. Passara um ano desde que ele conhecera uma das poucas pessoas que ele poderia incluir num seleto rol de amigos, era Sofia.

E ela listou em uma conversa, quase que pública, inúmeras qualidades de Miguel, qualidades que poucos eram capazes de enxergar, e menos ainda de reconhecer. Segundo ela, ele estava muito à frente de todos ao seu redor. Era uma mente quase inigualável, capaz de fazer qualquer coisa como em um simples truque de mágica.

Sofia lhe jogou na cara que o marasmo em que estava sua vida era culpa, única e exclusiva, do próprio Miguel. Ele era senhor de suas escolhas, e elas definiam quem ele realmente se tornava. Para Sofia, Miguel tinha em si o poder de mudar o mundo, de tornar reias todas as suas vontades, só precisava desejar isso. E seguir em frente.

Dias depois ele saiu pelas ruas da cidade, como sempre procurando por respostas, como sempre pensando em Luiza. Olhava as pessoas ao seu redor, queimava o amigo de filtro vermelho. Pensava, e pensava. E subitamente lhe veio em mente o que Sofia lhe jogara na cara no outro dia. E ele viu que ela tinha razão.

Mas ele não sabia por onde começar. Voltou pra casa, encostou no travesseiro e fechou os olhos, novamente, buscando respostas.


Abraço. Boa leitura.

13 de julho de 2010

Causa Mortis: Dunga

Futebol razoável, aos trancos e barrancos, deslumbres momentâneos da verdadeira identidade do futebol brasileiro. O que para muitos foi motivo de decepção, de lágrimas, de tristeza, para mim foi apenas a confirmação de um trabalho nebuloso, vencedor da Copa América, Copa das Confederações e classificado em primeiro lugar nas Eliminatórias Sulamericanas para a Copa do Mundo.

Cheio de resultados positivos em 60 jogos, mas sempre resultados provenientes não da majestade a que faz jus o futebol brasileiro, mas do destaque individual de alguns jogadores. Ora Adriano, ora Kaká, ora Robinho, ora Luiz Fabiano, mas nunca um destaque coletivo com dedo do técnico(?). Esse é o retrato da "era Dunga".

A deprimente derrota para a Holanda e o despreparo emocional apresentado pela seleção brasileira são o espelho de um pseudo-técnico que em quatro anos passou de técnico aspirante e inexperiente a oficial nazista, autoritário e arrogante. Foi orgulhoso e barrou Ronaldinho Gaúcho e Paulo Henrique Ganso. Levou Kléberson e Júlio Baptista para que eles assistissem os jogos da beira do gramado ao invés de ver pela televisão.

Dunga não foi linha dura, como se diz no futebol, ele foi além disso. Agrediu a imprensa, inclusive a toda-poderosa Globo. E nem a Globo, enquanto maior órgão de comunicação do país e carregada de mazelas merece ser agredida. O Brasil foi à Copa com formulário de óbito em mãos apenas com a data a preencher, lá estava escrito: "Causa Mortis: Dunga".


Abraço. Boa leitura.

30 de junho de 2010

Às Cinzas de São João

Eis que ele sentou à luz da lua e ao calor das cinzas de uma ex-fogueira de São João e começou a pensar nela. Pela primeira vez teve medo, temia nunca vê-la. Mais que isso, temia que tudo não passasse de sonhos, e sonhos.

Encostou um cigarro numa das cinzas aquecendo-o até que ele começasse a queimar, e fumou para espantar o frio que o abatia mesmo bem próximo do calor das cinzas. O seu pensamento era um só.

Olhou para o céu cheio de estrelas e tentou juntá-las de forma que escrevessem o nome dela, conseguiu. O que lhe arrancou um sorriso tímido, levantou-se e saiu caminhando pela fazenda se distanciando das pessoas que estavam em povorosa por ali comemorando a noite de São João.

Ficou se perguntando onde ela poderia estar, ou o que poderia estar fazendo. Queria que ela também estivesse pensando nele, mas sabia que era uma coincidência que já acontecera antes, teimou consigo e mesmo assim acreditou.


Abraço. Boa leitura.

4 de junho de 2010

Relacionamentos Impossíveis

Renato estava sentado na beira da praia, tentava arrancar alguns acordes na viola enquanto ficava olhando belas moças passarem indo e vindo. Uma, até que lhe soltou um sorriso seguido de uma piscadela, mas ele fez vista grossa, deu um gole na cerveja, pôs a viola de lado e pegou o maço de cigarros.

Ficou encarando um dos mais confiáveis amigos com quem ele já convivera. E resolveu encerrar a amizade. Seu telefone tocou, estava na hora, levantou-se apanhou seus pertences, deixando na areia apenas o velho maço de cigarros com filtro vermelho.

Deu alguns passos pensando na vida, nas escolhas que fazia diariamente, fossem simples ou não. Pensou naquela mulher, ousada, definitivamente apaixonada pela liberdade. Pensou no quanto a queria ao seu lado, e no que vinha fazendo para conseguir. E ele pensou, e pensou, e pensou, e pensou.

Encarou o deslumbrante sol que ia caindo e dando lugar à noite. E pensou em todas as mulheres que poderia ter, nas que já tivera, na ligação que recebera na madrugada passada. E pensou, e pensou, e pensou, e continuou pensando.

Mas esse era o seu talento especial - como o Richard Gere, em "Uma Linda Mulher" -, relacionamentos impossíveis. E se perguntou porque só no cinema é que as coisas terminam bem. Simplesmente não era justo.


Abraço. Boa leitura.

1 de junho de 2010

De Vez em Sempre

E de vez em quando
No circo
Na multidão
Sem rumo
Sem direção

Me sobram partidos
Altos e baixos
E bate um vento
No relento
Na solidão

E nela me lembro
Do sorriso
Do riso
Incrivelmente
Incrível

Seu
Para mim
Espero
Desejo
Um beijo



Abraço. Boa leitura.


P.S.: Há quanto tempo eu não escrevia uma poesia aqui? Acho que foi dia 21 de Dezembro. E foi pra ela também.

24 de maio de 2010

Genialidade Degenerada

Os homens são realmente seres muito estúpidos. Acham de inventar cada coisa inútil, que criações geniais parecem aos olhos um pouco mais atentos ainda mais geniais. Mas dentre todas as genialidades dos homens ao longo dos tempos tem uma que merece um putaquepariu, e é tão genial que diversos gênios quiseram ter a sua própria - Maradona que o diga.

O cara que inventou a primeira religião do mundo era um gênio, sem dúvida. Mas como segundo as leis universais: nada se cria, nada se perde, tudo se copia. Outras surgiram, e com o tempo, uma invenção genial virou uma das piores degenerações da raça humana.

É fanático vestindo um colete de C4 e matando centenas. É líder maior dando curso de como extorquir os fiéis. É padre comendo criancinha. E por aí vai. Seria tão mais humano se a religião fosse usada para o fim que foi criada, uma válvula de escape para os problemas e dúvidas do homem, ao invés de ser usada para manipular massas e obter vantagens.

Eu sinceramente nunca me importei, nem gosto de discutir. Mas se tem uma coisa que me irrita é quando interfere na minha vida, obviamente se for de forma desagradável. Lennon morava em uma imensa propriedade no Dakota, e falou num mundo sem posses, um tanto cretino. Será que seria cretinice de minha parte imaginar um mundo sem religião morando numa paróquia submersa em forte fervor religioso?

Abraço. Boa leitura.

18 de maio de 2010

À Procura da Felicidade

Nos dias atuais boa parte das pessoas, usualmente, adotam a riqueza como um fator essencial para sermos felizes, e mal sabem essas pessoas que séculos antes de Cristo, na Grécia Antiga, o filósofo Aristóteles defendia que a felicidade - que ele chamou de "sumo bem" - dependia, e se assemelhava, muito mais da virtude - da ética - que da própria riqueza.

Não é possível negar que nos dias atuais, a riqueza seja, sim, um instrumento capaz de nos trazer os mais variados prazeres - e a falta dela os mais diversos sofrimentos. Todavia, tratar a riqueza como fonte única e inesgotável de prazer e felicidade, pensando como Aristóteles, seria no mínimo irresponsável. Tomando como exemplo a recente tragédia carioca, onde a chuva destruiu casas e muitas pessoas seguem desaparecidas, o sofrimento dos que perderam nada tem haver com a falta de riqueza, e asseguro que para quem tem um ente querido desaparecido, encontrá-lo seria muito mais prazeroso que ganhar na loteria.

Dona Olinda, possivelmente pobre, procura o marido Tião, mulato, pobre e feio, que com muito suor de pedreiro conseguiu erguer uma casinha no Morro do Bumba, a chuva levou a casa. Agora será possível imaginar a alegria do casal se ele estiver vivo e eles se reencontrarem? Pois é, a felicidade, aquela de Aristóteles, que talvez nem exista de fato, pode estar muito distante dos carros importados, das belas modelos em roupas de grife e de vultuosas quantias em dinheiro.


Abraço. Boa leitura.

12 de maio de 2010

E Eu Escrevo Pra Você

No fundo. Eu também. O outro bobo. Que sonha. E de novo. Acorda. Vive na lua. Na verdade. Espera. O dia. Que custa. E cansa. Amanhece. Volta a noite. Na madrugada. Eu deliro. O desejo. Que machuca. E alimenta. As vezes. Volta.

No silêncio. Eu ouço. O seu grito. Que carrega. E aumenta. A saudade. Vontade. Não me falta. Eu quero. Os planos. Que tinhamos. E espero. Ainda termos. Volta.

Na esquina. Eu vejo. O carteiro. Que me traz. Eu espero. A carta. Vinda de longe. Num dia. Escuro. O céu. Que chove. E lava. A saudade. Volta.

Na verdade. Eu tenho. O segredo. Que fiz. Escondido. Aqui. Veja. Não duvide. Eu digo. O que digo. Que sinto. E sinto. As aves. Voando.

E elas levam o que eu te escrevo.


Abraço. Boa leitura.


E vejam "Eu Escrevo Pra Você", da Fernanda. (Mais uma parceria não-autorizada)

11 de maio de 2010

O Dunga e Sua Coerência

O Dunga entende de futebol, mas daí chamá-lo de técnico, ainda mais da Seleção Brasileira, é um abismo gigantesco. Mas a verdade, e todos temos que reconhecer gostando ou não, é que estatisticamente a "era Dunga", no combinado nacional é quase impecável.

São dois títulos (Copa América e Copa das Confederações), classificou-se em primeiro lugar nas eliminatórias sulamericanas e não foi mal nos chamados "jogos difíceis".

A torcida mais chata do Brasil vai dizer que o Dunga foi ingrato em não levar o Adriano, afinal ele foi decisivo várias vezes com a amarelinha durante a "era Dunga". Mas reconheçam que o Adriano está fora de forma. A mesma coisa vale pra Ronaldinho Gaúcho.

Neymar e Ganso - parece até nome de dupla sertaneja - são dois garotos ainda, e não faria bem pra eles ir pra Copa. Por um motivo simples, na África, ou talvez apenas na volta ao Brasil, ganhando se sentiriam deuses do futebol e perdendo seriam, junto com Dunga, os "culpados" pela não vinda do Hexa.

Não vi ninguém falando, mas acho que o Dunga deveria ter levado o Roberto Carlos. Que vem jogando muito. O Dunga também deveria ter levado aquele maluco que tem trinta e tantos anos, já fez oito cirurgias e sente dores no corpo todo. Acho que o Romário merecia uma nova chance também. E quem sabe Zico, e Pelé!

E sabem, eu estou morrendo de preocupação com o Brasil na Copa do Mundo. Meu palpite é que a Copa pode até vir pras Américas, mas acho difícil que ela venha em um voo verde-amarelo.

Boa sorte ao Dunga e sua "coerência", é a máximo que vou torcer pelo Brasil esse ano.


Abraço. Boa leitura.

10 de maio de 2010

Mas Ele Ainda Sonha...

Miguel estava cansado, a correria da sua vida e os seguidos estresses o tiravam do sério e, vez por outra, ainda tiravam o tempo que ele tinha pra lembrar dela. Mais uma vez no caminho para casa, acabou parando no barzinho do outro lado da rua. Resolveu variar, pediu uma cuba libra.

Acendeu um cigarro, chamou o garçom e pediu pra ouvir sua banda favorita. Bebeu o primeiro copo como quem acabara de encontrar um copo de água após um longo tempo no deserto. Cada música que ouvia o fazia lembrar dela. Especialmente do sorriso incrivelmente incrível.

Nunca se sentiu tão ansioso para encontrar alguém, mas os encontros e desencontros da vida já estavam o deixando irritado. Mais ainda por saber que, diferente do que haviam planejando e por um pequeno detalhe não acontecera, não sabia quando a encontraria novamente.

Ele nunca duvidou, por um segundo sequer, das palavras de Luiza. E enchia os olhos de lágrimas de alegria sempre que conversavam pelo telefone, ou nas raras vezes que ela respondia uma de suas cartas.

Mas a noite anterior foi diferente.

Eles conversaram um pouco, mas muito. Já era tarde, quase dia, quando eles terminaram de conversar. E no fim, ele dizia o que não queria dizer, mantinha-se firme para que ela não percebesse a voz trêmula no telefone, mas derramava lágrimas incontáveis.

Tinha certeza que estava agindo corretamente, não tinha o direito de exigir nada dela, no máximo um sorriso de vez em quando. Mas ele não dormiu naquela noite, chorou o quanto pode, e depois sentou na janela do décimo terceiro andar, bebendo e acompanhado do velho companheiro de filtro vermelho.

Mas ele ainda sonha...


Abraço. Boa leitura.

8 de maio de 2010

Carta

Mais uma daquelas cartas que nunca vão chegar?

Eu sinto sua falta, sinto muito sua falta. Sei lá, a sua presença tem diminuído, não consigo mais te encontrar como antes, as nossas conversas não estão mais como antes, alguma coisa mudou. E não sei o que foi.

Talvez - e eu espero que seja - eu esteja apenas tendo uma impressão errada, ou ainda as nossas obrigações e afazeres estejam nos tomando o tempo demasiadamente. Mas o fato é que eu tenho sentido sua falta continuamente, e como eu sempre te disse, no fundo, isso me incomoda. Eu pensei em sumir várias vezes, pensei em tentar enxergar como mera casualidade, daquelas que vêm e vão como ondas do mar, mas simplesmente não consegui, não consegui passar sequer um minuto pensando assim. Era como se eu estivesse baleado e tentasse remover a bala sem anestesia e sem uma bebida forte para aliviar a dor.

Estou numa fase em que tudo me irrita facilmente, principalmente se esse "tudo" for ligado a não te ter por perto. O seu professor de computação me irrita, aquele carinha que você vem ficando desde o Carnaval me irrita, a minha incapacidade de fazer qualquer coisa pra estar por perto me irrita, e até mesmos as perguntas que eu achei que fossem suas estão me irritando também.

Tenho convivido com isso, mas não tem sido fácil, e acho que ainda vai ficar pior.

Beijos.

Do seu, Miguel.

3 de maio de 2010

Por Onde Andam Minhas Idéias?

Tenho lido tanta bobagem, tanta coisa irrelevante, que acho que estou emburrecendo, estou perdendo o jeito de escrever. Ultimamente só tenho falado de 'amor', de sentimentos - não que tenha feito isso por obrigação, é uma opção, até porque me sinto à vontade falando sobre isso.

Mas sinto certa falta das tiradas de onda, das lições de moral e dos raros tapas na cara que muitas vezes eram direcionados para mim mesmo inclusive. Mas enquanto as coisas não mudam, vou tentar voltar a ler coisas produtivas, ao invés das besteiras que ando lendo.

Nunca pensei que fosse, mas começo a achar que a estupidez é contagiosa.

Abraço. Boa leitura.


P.S.: Espero que tenham gostado do novo visual do blog.

27 de abril de 2010

Memórias Sem Fim

O dia de trabalho tinha sido longo, nada melhor que um bom scotch à moda dos cowboys para relaxar e aproveitar o merecido descanso. Mas antes, passou no edifício onde sua esposa trabalhava, já tinha dias que mal se viam devido oas muitos afazeres de ambos. Ao chegar ela estava em uma reunião importante já há algum tempo, esperou cerca de uma hora até que ela saísse. Lhe deu um abraço bem forte, estava com saudades.

Ela disse-lhe que dali teria que ir até uma cidade próxima, tratar de alguns assuntos da empresa, e só chegaria um pouco tarde da noite. Ele a beijou, despediu-se e foi até o velho bar no subúrbio, que ele frequentava há quase vinte anos.

Lá, cumprimentou a todos, e antes que pedisse já fora servido com a bebida que mais lhe fazia bem: uísque, puro e sem gelo. Passou um bom tempo lá, jogando conversa fora e obsevando o movimento da rua, repleta de pequenos bares, grosseiramente parecidos com os famos pubs londrinos. Partiu só ao cair da noite.

Em casa, tomou mais alguns goles de uísque, até que a bebida começou a lhe parecer amarga, já sabia que era hora de parar. Resolveu procurar alguma outra coisa pra fazer. Por insinto ligou a TV. Ironicamente passava um filme que lhe trazia muitas lembranças, da época de sua juventude, boas e ruins.

Sentiu um aperto no peito, e desligou a TV. Mas já era tarde, mais uma vez péssimas lembranças o afligiram. Foi até a biblioteca, abriu o cofre e pegou um anel que ele havia comprado de um bêbado há muitos anos atrás.

Um anel, que não tinha nenhum valor material, era um anel de brilhante, mas faltava a pedra preciosa, o cristal. E na parte interior do anel uma inscrição que ele mandara fazer: "Viverei por toda minha vida como esse anel, que não tem o seu cristal".

Passou algum tempo chorando, até que começou a se recompor pois logo sua esposa chegaria. E ela não poderia vê-lo naquelas condições. Tomou um banho frio, e deitou-se esperando por ela.


Abraço. Boa leitura.

15 de abril de 2010

No Meio da Noite

Ja contara um mês desde que Miguel vira pela última vez o sorriso dela. Não sabia de onde vinha tanta dor, pra não falar da saudade. Desistira de parar com os cigarros, a alegria que ela trouxera com o sorriso parecia simplesmente ter ido embora. Foi pra algumas noitadas nesse meio tempo, mas não conseguia encontrar outra graça que não o doce e agradável sorriso dela.

Até mesmo o mal jeito com a viola tinha piorado, e o pior as músicas já não tinham mais o mesmo tom suave e agradável, eram como tempestades arrasadoras que ele nem sequer passava pro papel, esse último deserto de tudo. A melancolia era tão grande que observar o porta-retratos não confortava, mas feria.

Deitou-se, tentando dormir.

No meio da noite acordou, assustado e ainda mais triste. Sonhou com ela. No sonho, ele tinha partido à procurar por ela. Estava confuso, muitas pessoas, muitos carros, parecia um estacionamento. De repente, pessoas vindo de algum lugar. É quando ele a vê, rapidamente se esconde atrás de um caminhão. Faltou coragem de encará-la.

Algumas pessoas passam por ele e o olham com estranheza. Ele vai sair pelo caminho contrário ao que as pessoas estão tomando, quando dá de cara com ela - acompanhada, aos beijos. Apesar da barba, do cabelo grande, dos óculos escuros e de ter simplesmente a ignorado, ele tem a impressão que ela o reconheceu, mas ele seguiu como se não a conhecesse.

Acordado. Olhou para o porta-retratos, quando uma lágrima caiu. Virou-se e foi dormir novamente.


Abraço. Boa leitura.

11 de abril de 2010

Idiota de Plantão

Idiota de plantão. Se procuram por um, tem um monte disponível vinte e quatro horas por dia, sete dias por semana - mas corram a oferta é por tempo indeterminado. Se precisam de um idiota, conheço um monte. Doutor em tudo, medicina, psicanálise, relevo afegão, xintoísmo, política escandinava, prostituição na terceira idade, entre outros diversos temas que influenciarão a humanidade no próximo milênio.

Bem perto de você, no centro da cidade. Atendimento domiciliar. 0800-IDIOTA. Ligue já!

Não perca tempo procurando idiotas em celebrações cristãs, feriados nacionais, muito menos no lançamento de campanhas eleitorais. Eles não estão lá. Já disse, o idiota de plantão está mais perto do que você imagina.

Afinal, o idiota de plantão não compra terreno no Reino de Deus, nunca viaja no feriadão e não vai vender o voto por cinquentinha do sábado pro domingo. E eu como não sou idiota, já comprei meu terreninho lá em cima, viajo todo feriadão - e no fim do ano vou pra Europa, porque é chique - e tô só esperando aparecer aquele companheiro pra me dar os cinquentinha em troca do voto.

Agora lembrem-se, Forrest Gump foi sábio e disse: "Idiotas são os que fazem idiotices".


Abraço. Boa leitura.

1 de abril de 2010

Castelos de Areia

A noite caía lentamente e ele continuava sentado na beira da praia. Fitava o castelo de areia que havia demorado toda a tarde para terminar, e via cada vez mais as ondas se aproximarem, prestes a destruir o seu cuidadoso empenho de uma tarde inteira. E nada podia fazer, se não esperar.

E o que breve aconteceria com o seu castelo de areia, muito se parecia com o que acontecia com seus planos nos últimos dias. Da mesma forma, ele nada podia fazer enquanto seus planos desmoronavam como o castelo de areia atingido pelas ondas do mar.

Apenas quando não restava mais nenhum vestígio do castelo de areia que ele tanto havia se esforçado para erguer, é que ele foi se afastando da praia.

Em lentos passos começou a sentir uma leve garoa cair.

E agora foi inevitável, em muito lembrou-se daquele dia de chuva em que se conheceram. Sentou encarando o mar, levou sua mão ao bolso e pegou um retrato em preto e branco tirado naquele dia. Derramando lágrimas com cada lembrança.

A chuva começou a borrar o retrato, ao ponto de que não era mais nada além de um papel manchado de tinta borrada. Era possível apenas ler o verso, seco, que tinha as inciais "M" e "L". Largou o retrato ali mesmo e levantou-se desolado.

Miguel mais uma vez caminhava sozinho no meio da multidão.


Abraço. Boa leitura.

25 de março de 2010

Promessas

Aprendi um dia que não devemos fazer promessas que não podemos cumprir, não devemos dar nossa palavra em vão. E sempre tive muito cuidado ao prometer qualquer coisa - umas mais importantes que outras. E, também, me preocupei sempre em cumprir minhas promessas.

Reconheço que o mais difícil são as promessas que fazemos na frente do espelho, aquelas que ninguém sabe que fizemos, que fazemos questão de não contar pra ninguém, e que muitas vezes acabamos não cumprindo.

Mas quero falar de outra coisa. Prometi uma coisa a alguém, e não sei se vou poder cumprir. (Eu sei que isso não é da conta de ninguém, mais ainda, sei que não estão muito interessados em meus problemas, mas sei também que alguém que se importa está lendo, e dessa vez é pra esse alguém que escrevo.)

Imaginem um garoto que é fascinado por chocolate - Diamante Negro, o meu preferido -, talvez seja aquilo que ele mais gosta. Agora pensem que todos os dias o garoto passa em frente uma confeitaria e vê na vitrine centenas de chocolates, mas nunca pode comer sequer um, sequer provar. É triste. Mas não acaba aí, o garoto por algum motivo acredita que isso nunca vai mudar. Assustador. Passar o resto da vida nessa angústia.

Só consigo enxergar duas saídas: ou ele quebra a vitrine e corre o risco de se ferir, ou ele passa a andar por outro caminho.


Abraço. Boa leitura.

20 de março de 2010

Um Trago de Verdade

Hoje é não é um dia normal. Agora não é uma hora alegre. Talvez antes pudesse ter sido hoje, talvez hoje pudesse ser depois. Talvez nunca. Talvez, talvez, talvez...

Parafraseando Belchior, te digo que minha dor é descobrir que apesar de termos dito tudo o que dissemos ainda somos os mesmos. E sem paráfrase, é verdade, viver é melhor que sonhar. E só concordo, porque quando acordamos - como agora o fiz - somos tomados pela raiva não de outrem, mas de nós mesmos.

Mas como eu pude esquecer, como pude deixar passar justamente o que eu mais acredito, sem respeito algum, o que eu te falo, o que você me fala, são só palavras.

Nunca esperar nada, eu preciso aprender a conviver com essa idéia.

E amanhã, quando tocar o telefone, ou quando subir a janela no canto do monitor, ou ainda quando o carteiro me trouxer uma carta. Eu serei o mesmo cara de antes, continuarei a viver como se nada tivesse acontecido e a raiva de agora já vai ter passado.

O motivo é simples: é assim que são os bobos. E é por isso que eu costumo não gostar de ser chamado de bobo. Salvo raras exceções, quem nos chama de bobo, nos faz de bobo.


Passar bem.

6 de março de 2010

Prego Batido, Ponta Virada!

Os seres humanos são realmente criaturas intrigantes. Dia após dia sustentam "convicções" e, repentinamente, as jogam pela janela do último andar, muitas vezes em um processo de auto-flagelação. Frequentemente leio uma frase que me inspira e ao mesmo tempo não me comove. "Acreditar em algo, e não o viver é desonesto", é um pensamento de Gandhi.

Eu diria que todos os dias todas as pessoas do mundo fazem justamente o contrário do que Gandhi sugere, sem exceções. As pessoas preferem alimentar-se de ilusões, devaneios e impossibilidades. Preferem pontuar com reticências o que muitas vezes nem precisa começar para merecer um ponto final.

E o que falo parece contraditório, é verdade. E faço isso de propósito. É o que todos fazem!

Eu quero comer salgado, mas peço bolo. Eu quero beber suco, mas peço água. Eu acredito em Papai Noel, mas não escrevo carta pedindo presente.


Abraço. Boa leitura.

26 de fevereiro de 2010

Sobre uma Saudade (II)

E Miguel nem se importava mais quando ela o chamava de bobo, o tratamento que antes o deixava sem graça, agora o fazia sorrir agradável e timidamente. O revigorava, literalmente, de alegria e tranquilidade.

A saudade infindável era suprimida de uma forma tão intensa quando conversavam por telefone, ele sentia como se ela estivesse deitada no quarto ao lado, enquanto ele suspirava sua paixão na sala. Embora depois, quase que com a mesma intensidade a saudade o afligisse ao desligar o telefone.

A distância que separava Miguel de seu anjo era tão grande, e mesmo as suas tentativas de fazer parecer pra si mesmo que nem era tão longe eram em vão. Ele contava o tempo aguardando a hora de encontrar com ela, e iria mover céus e terras para que isso logo acontecesse.

Sentou na janela do quarto, pegou sua gaita, que ele nunca aprendera a tocar de verdade, e tentou tirar algum som dela. Como de costume desafinou.

Voltou-se para o quarto e ficou fitando o sorriso no porta-retratos ao lado de sua cama. Uma lágrima lhe percorreu o rosto, e ele percebeu que sua vida já estava muito além das palavras.


Abraço. Boa leitura.

14 de fevereiro de 2010

Sobre uma Saudade

Já era tarde da noite, Miguel estava cansado. Não tinha mais o fôlego de anos atrás, mesmo algumas cervejas após um dia de trabalho eram o bastante para o deixar cansado e sonolento. A correria diária o deixava sempre nervoso, mas o que realmente o perturbava era a saudade.

Não cansava de deitar na cama e fitar o porta-retratos com uma foto de seu anjo, não cansava de observar aquele sorriso indissolúvel e o brilho intenso dos olhos dela. Àquela hora não sabia nada dela, e isso aumentava a saudade latente.

Deitado na cama, rolava de um lado para o outro, a noite parecia não passar. E o sono, não chegava. Nunca desejou tanto estar com alguém, nunca desejou tanto não estar onde estava.

Há léguas dali, ela sentou na beira da cama. Olhou o celular e viu a mensagem que Miguel lhe enviara, mais uma vez um trecho de uma música. Ela sorriu timidamente, como de costume. Encostou a cabeça no travesseiro lendo mais uma vez, e deixou para respondê-la depois, dado o cansaço que lhe abatia. Sem saber que longe dali, Miguel anseiava por aquela resposta.

Miguel fechou os olhos e tentou dormir, na esperança de encontrá-la em algum sonho e poder se encantar com aquele sorriso.


Abraço. Boa leitura.

30 de janeiro de 2010

A Fantástica Banda Musical

Seguindo os relatos da Paróquia de Nossa Senhora da Perpétua Ignorância, hoje será descrita a banda musical da cidade, que será uma das chaves em estórias futuras. Com vocês, A Fantástica Banda Musical.

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Havia naquela prodigiosa e distante paróquia, uma banda musical. Que seria fantástica, se não fosse trágica. E seria trágica, se não fosse cômica. Pouco ensaiavam, mas apresentavam-se normalmente nos dias de Marte e nos dias de Júpiter, pontualmente no mesmo horário e com a "graça de deus".

Três membros daquela vultuosa banda eram categoricamente unidos, embora raramente a música de cada um estivesse harmonizada com a do parceiro ao lado. Eles eram carinhosamente apelidados de "O Gordo, o Magro e o Feio", e embora não fossem músicos notórios faziam enorme barulho na banda. O Gordo e seu pandeiro-de-boi, o Magro e seu oboé e o Feio e sua balalaica.

Havia outros dois membros bastante intrigantes nessa banda, discretos e inusitados, eu diria. O Professor Dr. Fausto, vindo da Magnífica Escola de Física Nuclear, especialsta em tocar órgão e dividir tempo entre as partituras e o jornal de ontem. E também, El Comodoro, proprietário de um circo itinerante que se chegou na cidade e nunca mais partiu, um homem simples porém muito mais discreto, ignorante ao seu modo, era extremamente habilidoso com um tamborim.

O mais velho músico não merece menção, pois afinal ele sopra um apito, seria incapaz de tocar outra coisa. O homem mais estranho da banda, Gargamel*, em seus dias de cão não respeitava ninguém com seu teremim, mas dizem que a sua esposa nunca lhe fala duas vezes. A mulher que integrava aquela banda, era esperta como uma víbora, há quem sustente que ela deseja um dia se tornar a maestrina e assumir o lugar do Regente, assim liderando a banda com sua lira.

Por último, o Regente e seu xilofone. O Regente era um homem rude, despido de educação e elegância, mas como a maioria dos paroquianos, tentava esconder isso em uma "chiqueza" transvestida de poder. Levava a banda em punho de ferro, e não admitia erros nem mesmo dos Carnivales, assim eram chamados os que auxiliavam os músicos.

Era uma banda musical fantástica, despida de cultura, de conhecimento musical e de qualquer outra veia de cultura. O que importava mesmo era o "Bolsa-Música", um programa estatal que (bene)financiava os músicos da Bruzundanga. Assim, encerro a apresentação dessa banda fantástica.


Abraço. Boa leitura.


*Nota: Gargamel é o personagem de um antigo desenho infantil, "Os Smurfs". Na animação Gargamel é o principal inimigo dos Smurfs.