30 de dezembro de 2010

"Coincidências"

Naquela manhã ele acordou mais tarde do que de costume. A noite anterior havia sido longa. O sono tornou o ritual diário de acordar anormalmente longo: dentes, banho, barba, café....

Então lembrou-se que precisava ir ao cartório. Problemas com a escritura da casa. Já havia ido no dia anterior, mas esqueceu um documento e preferiu deixar para o outro dia, em vez de ir pegá-lo em casa.

No cartório, ele passou bem mais tempo do que achou que passaria. Na volta, viu um livro numa banca e parou para folheá-lo. Foi então que a viu: uma antiga colega dos tempos de escola, vinha de óculos escuros, com passo apressado olhando para o outro lado, aparentemente para as vitrines da lojas. Ela não o viu. Ele tampouco a chamou.

Imediatamente uma avalanche de pensamentos e lembranças invadiram sua mente. Um sentimento desses sem nome que ele nem lembrava mais que existia, um passado desenterrado, e, no entanto, vivo como nunca....

Em casa não conseguia fazer seu pensamento parar de voar: se ele não tivesse saído na noite anterior e assim tivesse acordado mais cedo, se não tivesse decidido voltar ao cartório apenas no dia seguinte, se, meses antes, não tivesse surgido a inexplicável confusão sobre a escritura da casa, se não tivesse parado para olhar o livro....

Uma infinidade de pequenos eventos, que se não tivessem ocorrido, ou tivessem ocorrido com um minuto de atraso ou adiantamento, teriam impossibilitado aquele encontro.

Um pensamento intrometido veio para lhe dizer que "coincidências" como essas, na verdade ocorrem aos milhares, todos os segundos de nossas vidas, e nós apenas não nos damos conta.

Imediatamente ele expulsou esse pensamento quando lembrou-se da frase exata que lia quando a viu: -"Uma estrela brilha sobre a hora do nosso encontro."

Num antigo caderno, encontrou rabiscado o telefone dela. Pegou o celular. Se depois de tantos anos ela ainda tivesse o mesmo número, seria muita coincidência?

Um comentário:

Fahad M. Aljarboua disse...

"O bater de asas de uma borboleta no Atlântico pode provocar um tufão no Pacífico". (Teoria do Caos)