15 de dezembro de 2010

Refrão de Bolero*

Não era tristeza que lhe afligia, mas saudade. As lembranças estavam tão frescas e eram tão doces, que ocasionalmente ele se pegava, feito bobo, sonhando acordado. Já tinham se passado quase duas semanas desde o fim do verão, mas ele não conseguia tirar aquele sorriso, aquele olhar e aqueles beijos de sua lembrança. E de súbito ele lembrava daquele refrão de bolero do Gessinger...

Teus lábios são labirintos, Ana.

Queria mesmo era ligar pra ela, fazer uma proposta irrecusável, mesmo sabendo que ela iria recusar pela n-ésima vez. Cansou, foi até a adega da casa, pegou os melhores vinhos que tinha e embriagou-se enquanto ouvia o blues de Sonny Boy Williamson. Diferente do costume e da cerimônia tradicional, bebeu como se fosse aguardente, ao passo de que sequer podia contar quantas garrafas vazias estavam espalhadas pela casa.

Tombando conseguiu chegar ao jardim, na metade da noite, uma hora perfeita para desabar e dar de cara com uma imensa lua prateada no céu. Fixou o olhar por uns instantes, e logo em seguida podia enxergar, como se olhasse um retrato, o contorno daquele rosto que tanta falta lhe fazia. E ainda tinha a mesma certeza, não estava aflito de tristeza, era saudade.

Adormeceu ali mesmo, ao amanhecer não foram os raios de Sol que o acordaram, mas as cócegas que uma magnífica borboleta colorida fazia parada em seu nariz, desejou agora que alguém pudesse tirar uma fotografia daquela cena inesquecível, mas era em vão. Em uma fração de segundos a borboleta bateu asas e voou. E ele nada podia fazer, como nada podia fazer quando Ana decidiu partir...


Abraço. Boa leitura.


*É, os títulos das canções de Engenheiros sempre me inspiram.

Nenhum comentário: