27 de dezembro de 2010

Detalhes (2)

Era o último congresso maluco da faculdade de Filosofia, Pedrenrique nunca conhecia pessoas como ele nesses lugares, eram sempre os mesmos loucos de sempre, uns fumando baseado, outros bebendo vinho, ele não tinha preconceito algum, porque todos sempre ouviam música clássica. O problema é que ele não fumava maconha e preferia beber Coca-Cola nesses lugares.

E ele nunca encontrava ninguém normal, ninguém como ele, o que o fazia pensar que ele podia parecer anormal pra os companheiros de academia. Depois das palestras, saiu para conhecer a cidade com Clara, o mais próximo de colega que ele tinha feito no decorrer do curso. Embora em alguns momentos ela fosse incrivelmente chata, de tão previsível.

Pararam num buteco meio underground, estava lotado, exceto por duas cadeiras vazias numa mesa onde estavam sentadas três moças e dois rapazes. Pedrenrique quase gritou assustado, quando uma senhora puxou ele e Clara até a mesa e disse sorrindo - e sem alguns dentes: "sentem-se, já lhes trago bebida. Para o rapaz Coca-Cola, e você moça o que quer?"

Ele ficou mais assustado, como ela poderia saber o que ele ia pedir. Em seguida, se acalmou podia ser coincidência, afinal, ela perguntou a Clara o que ela iria beber. Foi então que Clara respondeu: "Estou indecisa ainda". E a senhora deu de ombros e saiu.

De repente, ele ficou ainda mais surpreso, Clara - contrariando a sua tradicional previsibilidade - começou a falar com a turma que já estava sentada. E parecia que ela os conhecia há anos, e a conversa parecia nunca acabar. Vez ou outra ele se metia e falava alguma coisa, mas ainda estava admirado com a desenvoltura nada corriqueira da sua amiga. E vez ou outra o olhar dele cruzava com o dela, e vez ou outra a mão dela tocava a dele.

Mas ele deixou passar esses detalhes tolos. Foi ao banheiro e quando voltou Clara não estava mais lá, nem os novos colegas, olhou ao redor e procurou a senhora, nenhum sinal. Pediu uma cerveja no balcão e saiu. Nunca mais viu Clara, mas vez ou outra aquela noite vinha na lembrança e ele acabara percebendo que havia estado apaixonado por Clara. Ele prestava muita atenção nela, por isso ela era tão previsível.

E sempre se perguntaria porque tinha deixado passar os detalhes tolos.


Abraço. Boa leitura.

Nenhum comentário: