3 de setembro de 2010

Clichê

Romântico incurável, daqueles que acha que sonhos podem se tornar realidade, e que vai esperar - provavelmente em vão - por toda a vida um amor daqueles bem clichês.

Clichê, o que seria Miguel se não um clichê - e não, não me enganei no pronome é "o que" mesmo -, a vida toda ele tinha sido sempre um clichê, da primeira namorada à primeira virgem. Tratava todas as ocasiões de sua vida como um clichê.

Mas no fundo, tudo que ele queria era justamente o inverso, não queria um clichê. Não queria pipoca com Guaraná, nem fritas com Coca-Cola, menos ainda feijão com arroz. Ele queria mais, muito mais.

Queria algo único, que ele mal sabia o que era. Talvez um ouvir um samba do Cartola enquanto tomava vinho irlandês num pub do interior da Macedônia, ou quem sabe ouvir Brahms bebendo saquê numa boate carioca. É algo difícil de definir.

Cedo ou tarde ela se casaria, e mais um dos seus clichês chegaria ao fim, mais uma vez sem final feliz. Ele sentia vontade de pegar o carro na garagem, ir atrás dela e impedí-la, mas não podia deixar os compromissos de lado.

Do outro lado da rua, no bar da esquina Miguel observava a diversão alheia.


Abraço. Boa leitura.

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O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.
(Fernando Pessoa)

Um comentário:

Samuel disse...

o grande problema de viver clichês e não conseguir sair é a inércia.
Safada essa inércia, sempre fazendo com que as coisas fiquem mais fáceis se as deixarmos exatamente do jeito que elas são!

Grande abraço!