Subiam-se e desciam-se mais de uma centena de léguas, por entre serras e florestas, para que enfim fosse possível chegar até a longínqua paróquia de Nossa Senhora da Perpétua Ignorância. Uma pequena cidade paroquiana - porque dizer que era um lugar provinciano seria colocá-lo anos luz de modernidade à frente - nos embrenhados do país da Bruzundanga*.
Havia pois, naquela paróquia tantos motivos para riso quanto fosse possível, ou até mais. Afinal, o mundo é uma tragédia para os que sentem e uma comédia para os que pensam. E era exatamente assim na pequena paróquia. Era cômico observar a santa ignorância dos homens, de todos os tipos, mas todos pseudo. Pseudo-artistas, pseudo-soldados, pseudo-elegantes, pseudo-políticos, pseudo-modestos, e até, pasmem, pseudo-clérigos.
Mas dentre todos os homens dali, havia um, que esse conseguia ser o mais incoveniente de todos. Não pela sua ignorância, mas pela forma que tratava a ignorância alheia, para ele, era sempre cômico. Do seu ponto de vista, os olhares atravessados que recebia, nada mais eram de que o mérito de pensar, algo deveras raro, naquela paróquia submersa em um proselitismo multifacetado e ignóbil.
Ser rotulado como um membro ignorável da pseudo-sociedade paroquiana era algo que o desagradava, mas não por outro motivo, se não porque ignoráveis eram todos os fakes produzidos por aquela high society mesquinha, que teimava e anseiava em ser "chique", a um bom jornalista - profissional incomum pela paróquia - não faltariam gafes para uma coluna social. E não sobrariam restos mortais de sua reputação depois que os urubus sociais a escarniçassem.
Mas o bom, era provocar a pseudo-classe. E zombar de seus olhares esganiçadores e espantados ao ver que, um daqueles que eles taxam ignoráveis, está fazendo algo que, em seu cérebro de noz, só seria possível a um de seus iguais, jamais por um ignorável. E isso, aquele homem, o mais inconveniente de todos sabia bem fazer, só lhe custava ser discreto, pouco aguentava ter que manter-se firme, quando o gosto seria desdenhar.
Mas há um tempo para tudo. Aos membros da pseudo-classe, que o tempo do homem inconveniente nunca chegue.
Abraço. Boa leitura.
*Nota: "Bruzundanga", é uma menção à República dos Estados Unidos da Bruzundanga, país fictício, cenário do livro Os Bruzundangas, de Lima Barreto.
3 comentários:
"Aos membros da pseudo-classe, que o tempo do homem inconveniente nunca chegue."
Massa... tenho pseudo-memórias que me fazem acreditar que eu já estive nessa paróquia!
Ótimo texto, Fahad! Como disse Alan, acredito que já estive nessa paróquia também, hehehe. Parabéns ae!
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