16 de janeiro de 2010

O Viajante

O viajante estava sentindo o cansaço há alguns meses. Afinal, estava nessa jornada há mais de vinte anos. E pouco tinha parado para descansar, sempre carregara consigo um ímpeto que por vezes se misturava com a estupidez. Outras vezes travestia suas vontades com uma ganância digna dos tiranos a quem ele nunca se curvou de fato.

Mas o viajante sempre carregou algo precioso consigo, um segredo precioso, que poucos conheciam, e menos ainda dominavam de fato. Carrega consigo um livro com conhecimentos os mais variados, algo que poderia transformar um homem em um deus se usado da maneira correta. E justamente essa maneira correta custava caro para quem o fizesse, tão caro que o homem relutava em usá-lo.

E muitas vezes acabava pagando preços ainda mais altos. Mas era nisso que acreditava, grandes sacrifícios traziam grandes recompensas. E ele não estava disposto a sacrificar nada importante para ele, e assim acabava sofrendo grandes perdas. O tempo foi passando e ele relutou sempre em sacrificar qualquer coisa, e incrivelmente perdeu tudo.

Afogou-se na tristeza, e por muito tempo não ousou sequer abrir novamente o tal livro. Mas nunca parou de viajar, era isso que nunca lhe seria tirado talvez. Conseguiu ser livre, de fato, mas o custo foi muito alto, muito mais alto que qualquer outro, ele perdeu tudo. Só lhe restou a liberdade.

Não aguentava mais, o cansaço dos últimos meses o afligia por demais. Encostou em uma árvore e descansou por algumas horas. Um descanso há muito desejado, mas talvez considerado desmerecido. Ao acordar, ele enxergou um senhor de roupas esquisitas parado diante dele, sentado, com as pernas cruzadas. Lendo o livro que ele carregara por tanto tempo.

Ao ver o livro, o viajante levantou-se indo na direção do homem, que olhou para ele, e acenou para a bolsa dele. O livro que o homem estava nas mãos era idêntico ao do viajante, mas não era o dele. O velho perguntou desde quando ele carregava o livro, o viajante deu de ombros, o tinha desde sempre. Foi quando o homem simplesmente rasgou o livro que lia, e foi embora.

O viajante gritou chamando-o, o homem parou e olhou pra trás. Pôs o dedo na cabeça e fez um sinal de negativo, em seguida apontou para o coração. O viajante sorriu. Deixou o livro debaixo da árvore, já o havia lido completamente, não precisava mais dele. E começou a caminhar rumo ao horizonte. E o doce viajante atravessou o Universo e foi além do arco-íris.


Abraço. Boa leitura.

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