29 de janeiro de 2010

O Causo do Queijo de Coalho

Ocasionalmennte, me darei ao luxo de contar mais causos da Longínqua Paróquia de Nossa Senhora da Perpétua Ignorância. Segue um muito curioso: O Causo do Queijo de Coalho.

***

Em um dos poucos redutos do pensamento levianamente considerado profano, ou ponderadamente dotado de um mínimo de moral, estavam reunidas diversas facetas da desnivelada pirâmide social para um evento de extrema riqueza cultural para uns e extrema estranheza cultural para outros.

E lá estava o homem inconveniente, com suas galochas de borracha sintética, a velha calça rasgada e um corselete de couro batido, de posse do tradicional cachimbo* em uma caneca de pau de jucá a observar cada detalhe: os ricos em cultura e os ricos em "chiqueza". E assim dividiu a noite em momentos gratificantes e risadas comedidas para não chamar atenção.

A literatura transmitida com maestria naquela noite de céu estrelado ao redor de uma alta fogueira deu lugar a um momento em que, instintivamente, todos os seres humanos dão uma pausa no pensamento, e focam-se no alimento. A comida posta à mesa, detinha das mais variadas especiarias.

As cozinhas dos mais diversos países saciavam a fome de todos os presentes, ou pelo menos serviam como um meio de despistar as lombrigas dos mais afoitos. Escargô, diversas variedades de pizza, sushi, sashimi, um potiche com um chá de ginseng, diversos tipos de carne, e o item que proporcionaria ao homem inconveniente o clímax da noite: queijo gorgonzola.

Enquanto degustava um dos vinhos oferecidos acompanhando-o com o sabor de um exótico queijo de origem hindu-australiana, ele foi abordado por uma daquelas damas, que mais parecem o Senhor Fantástico** de tão esticada a face. A madame, curvou-se do seu lado esticando-se para alcançar o queijo gorgonzola, pegou alguns pedaços e engoliu com uma fineza digna de um gorila.

Antes de sair, sorriu para o homem ali prostrado em sua frente e exclamou: "Esse queijo de coalho com orégano está delicioso". Contido, o homem calmamente deixou o lugar para em seguida gargalhar demasiadamente pelo resto da noite.


Abraço. Boa leitura.


*N.A.: "Cachimbo", refere-se a uma bebida preparada com cachaça e mel de abelha.
**N.A.: O Senhor Fantástico é um integrante do Quarteto Fantástico, grupo de heróis de histórias em quadrinhos da Marvel Comics, ele também é conhecido como Homem Elástico.

3 comentários:

Ferdi disse...

HAHAHAHAHA, queijo coalho com orégano foi foda, hahahaha, só se o queijo coalho tivesse digievoluído, cara, nossa, nada a ver, estou rindo, q

Maríllia Graziella disse...

Ri muuuuito! kkkkkkkkk... Adorei! Acho até que conheço umas damas desse nível ae! HSIUHAUISH :P

Willian Pinheiro Galvão disse...

Fahad ao ler o seu texto lembrei de uma estória:

Um dia Drummond acordou e sentiu falta de algo, por mais que procurasse ou tentasse lembrar, não encontrava. Buscou entre os livros da velha estante de mogno, sobre a imperial escrivaninha de jacarandá, entre os diversos papéis poeticamente inacabados. Da paciência estremada ao dissabor da ausência daquilo que lhe pertencia e não mais estava ali.
Reticente, chamou Muslim, seu jovem ajudante, para ajudá-lo na árdua busca. O jovem chega e pergunta ao poeta: - Que buscas mestres? Pensativo, o velho poeta murmura desconexas palavras.
- Não sei! responde cabisbaixo. Após um breve instante em silêncio profundo, o poeta sentencia:
- Podes ir! Nada resta a procurar. Já entendi o que ouve.
Melindrado com a atitude do poeta, Muslim segue seu caminho disfarçadamente.
Em seguida, num rasgo de ódio e descontentamento o velho Drummond lamenta:
- Por quê? Por quê?
- Minhas pedras não faziam mal algum.