21 de março de 2011

Músicas e lembranças

As dificuldades daquele show começaram já nos preparativos: o site problemático fez com que por vários momentos eu duvidasse da efetivação da venda dos ingressos. Foi preciso enviar um e-mail para o titular da conta em que tinha sido depositado o dinheiro para que eu finalmente me assegurasse da venda. Depois veio a carteira de estudante, foi preciso tirar a de 2010 para poder comprar a meia entrada porque eu não possuía a carteira (mea culpa, mea culpa, mea maxima culpa) ou seja, minha carteira serviu/servirá tão-somente para a compra dos ingressos, já que se vencerá daqui a poucos dias, já vou logo adiantando que foram os treze reais mais bem gastos da minha vida.

Com a carteira em mãos apenas dois dias antes do show, lá fomos Sérgio e eu rumo a Natal para o show dos nossos sonhos. Mas as dificuldades não parariam por aí. Chegando às portas do teatro com várias horas de antecedência descobrimos que Tácio, por ter 17 anos, 10 meses e 23 dias, precisaria da companhia dos pais para entrar no teatro. Tentamos argumentar de todas as formas, trouxemos a mãe dele para autorizá-lo a entrar na nossa companhia e funcionária dizia que não adiantava autorizar, era preciso acompanhar. Os ânimos se exaltando. Uma pequena multidão de jovens com o mesmo problema que ele já se amontoava às portas do teatro e ameaçava fazer uma rebelião. E o tempo passava.

Nove da noite. Era hora de o show começar. Desconsolados despedimo-nos dele e entramos no hall. Quando estávamos às portas do teatro propriamente dito, a multidão de menores de idade irrompe porta adentro. Aparentemente por uma falha de uma das funcionárias permitiu-se que uma garota entrasse sem os pais. "Agora que eu entrei só saio arrastada." Pronto, todos os outros tinham o pretexto de que precisavam para entrarem também. E quem conseguiria segurar aquela multidão de jovens vivendo num país sedento de cultura e ávidos por um momento de embriaguez da boa música?

Posicionamo-nos estrategicamente a uma ou duas pessoas de distância da grade que separava a pista do palco. O palco do teatro é baixo, assim quando o pano preto caiu estavam lá à altura dos nossos olhos Gessinger e Leindecker. Tocam o primeiro acorde e cantam o primeiro verso: "amanhã talvez esse vendaval faça algum sentido". Amanhã não. Hoje. O vendaval pelo qual passamos para chegar àquele momento foi instantaneamente esclarecido. "É justo que muito custe aquilo que muito vale", já diria Santa Teresa.

A próxima uma hora e meia foi inesquecível. Cantando as músicas de Engenheiros, descobrindo e me deliciando com as (até então desconhecidas para mim) músicas de Cidadão Quem.

O que torna uma música boa é a capacidade que ela tem de fazer você lembrar. Lembrar de pessoas, de fatos, de pensamentos. Em cada música, vinha a tona um momento, vinha a tona uma pessoa, vinha a tona uma emoção:

"Diga a verdade ao menos uma vez na vida, você se apaixonou pelos meus erros."

"Que amor era esse que não saiu do chão? Não saiu do lugar. Só fez rastejar o coração."

"Teus lábios são labirintos, Ana, que atraem os meus instintos mais sacanas."

"Ei mãe, eu tenho uma guitarra elétrica! Durante muito tempo isso foi tudo que eu queria ter."

"Deve haver alguma coisa que ainda te emocione."

E finalmente, no clímax do show, todos enchem os pulmões para entoar o hino:

"....mas não precisamos saber pra onde vamos, nós só precisamo ir!"

Todos voltam para casa renovados. O show acabou. Mas as músicas, e principalmente as lembranças que elas trazem continuarão nas nossas cabeças por muito tempo!

2 comentários:

Tácio Medeiros disse...

Todos os planos de invasão ao teatro caso o relógio chegasse às tão esperadas 21 horas foram (felizmente) frustrados graças à determinação da nossa heroína que colocou o irmão de 16 anos praticamente à força portas adentro.

Tanta espera para uma hora de "introdução" que me lembrou de quando fazemos nossas rodas de violão adaptando todas (todas mesmo!) as músicas para nosso ritmo. E então o pernambucano saiu para dar início à contagem regressiva mental que só terminaria quando anunciassem os nomes que não são tão fáceis de serem pronunciados.

Toda a expectativa, a tarde de autógrafos, o nervosismo na hora de enfim falar e tirar uma foto com o ídolo vindo da terra do chimarrão que não entendeu facilmente meu nome... encerrados com os momentos que me fizeram perceber que enfim havia encontrado o caminho das pedras. Pode não ser o mais agradável, mas seguindo por ele se chega ao destino.

Fahad M. Aljarboua disse...

É amigos, Gessinger já bem disse: "se fosse achar o caminho das pedras, tantas pedras no caminho não seria ruim..."