22 de junho de 2011

Pôr-do-Sol

E o sol ia se pondo...

Toda vez que parava olhando as fotografias velhas do tempo em que podia rir bem alto tarde da noite enquanto tomava um vinho barato e ouvia Caetano Veloso com uma de suas namoradinhas de motel, ele acabava bebendo sem parar tendo lembranças fúnebres de sua juventude.

Era, hoje, um homem bem sucedido. Um apartamento no Leblon, um carro de luxo e um saldo bancário de fazer inveja a qualquer outro companheiro de trabalho. A sutil diferença é que Lucas estava solitário, uma solidão que já durava mais de vinte anos.

Nunca lhe faltaram trepadas, sempre tinha uma outra querendo sair com ele nas noitadas da vida. Mas ele não tinha uma que pudesse lembrar quando fosse reencontrar os amigos de infância, casados e com filhos. E ele tinha um filho, de quem não tinha notícias tinha mais de três anos.

Miguel, seu filho, havia deixado a casa do pai ao completar dezoito anos. Não carregou consigo sequer uma camiseta que tivesse sido paga com dinheiro de Lucas. Foi ao banco e recebeu a herança que recebera de seus avós quando sua mãe ainda era viva. Nunca engoliu o pai, mas este nunca aceitou que o filho fosse parar num lar para abandonados.

Foi à adega, pegou uma garrafa de Vino Nobile di Montepulciano, era impossível identificar a safra, tinha pelo menos uns dez anos de adega. Abriu sem cerimônias, como se fosse um daqueles vinhos baratos de trinta anos atrás. Pegou o telefone e ligou para Sofia, uma prostituta que ele adotara como particular e a quem "doava" quase metade do seu salário.

Ela veio atender seu único cliente, já tinha uma chave do apartamento e era conhecida do porteiro. Ao chegar deparou-se - numa cena quase invariável - com as velhas fotos dispersas por todo o chão do apartamento e Lucas completamente bêbado ao lado de duas garrafas de vinho vazias. Percebeu também o que parecia ser vestígio de cocaína sobre a mesa.

- Tire sua roupa mulher, arrume esta bagunça e depois terei com você - resmungou Lucas como se não tivesse bebido qualquer coisa alcoólica.

Ela o atendeu, sem questionar. E depois partiu, sem se despedir. Ele olhou pela janela, o Sol nascia e ele lembrou de uma velha música de sua juventude: "O Sol nasce pra todos só não sabe quem não quer..."


Abraço. Boa leitura.

Um comentário:

Aline Dantas disse...

De uma sensibilidade... Um dos meus preferidos.