Parou o carro numa esquina e encostou a cabeça no volante, os olhos fechados, dezenas de perguntas cujas respostas ele já sabia passavam pela sua cabeça. Por que ele não disse o que precisava ser dito antes? Ele já sabia a resposta: sabia qual seria a resposta dela. Um choro, um pedido de desculpas e tudo nunca mais seria como era antes. "Melhor deixar como está."
Covarde! Poderia ter arriscado! Não, não poderia. Há certos riscos que não valem a pena ser corridos. Perder a companhia dela era um risco alto demais....
Mas agora tudo estava perdido. Não havia mais nada a fazer. Por que não disse o que precisava ter dito? Pelo menos retiraria da garganta aquele nó que não o deixava respirar direito.
Não. Agora ela estava feliz e era isso que importava. Ele não tinha direito de interferir dessa forma. "Não é covardia. É abnegação", mentia ele para si mesmo.
"Eu sou apenas um homem, não sou um herói." Ele gostou dessas últimas palavras. Tirou a cabeça do volante e percebeu que a esquina em que tinha parado era a de uma padaria. O dia já amanhecia, a padaria estava abrindo e ele estava com fome.
Entrou e pediu um café. A bebida quente passando pela garganta deu uma sensação boa e aliviou o peso que sentia no peito. "Eu não sou um herói."Repetiu em voz baixa. "Não esperem grandes atos de mim." Sorriu, mas se alguém estivesse vendo seus olhos notaria-os baixos e sem brilho.
Só o que precisava agora de tempo, muito tempo, e mais uma xícara de café.
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