8 de setembro de 2011

O Sommelier

Estava sentado na poltrona da sala quando a campanhia tocou, pensou em chamar a empregada, mas resolveu ir ele mesmo abrir a porta. No caminho entre o meio da sala e a porta acendeu um cigarro. Soprou a fumaça para, só então, abrir a porta e ter um surpresa. Era um entregador.

- Tenho uma entrega para o senhor Salazar - falou o entregador muito bem vestido.

- Sou eu mesmo - respondeu secamente, com um palpite estranho.

- Assine aqui por favor.

Ele assinou onde o homem indicou e recebeu o pacote. O entregador saiu sussurrando algo que ele não conseguiu ouvir direito. O que ele acabara de receber não era tão leve quanto parecia. E ele entendeu porque assim que abriu a embalagem de papel. Era uma caixa de madeira que ele reconheceria em qualquer lugar.

Era uma caixa feita de mucibo, um tipo de madeira quase extinto, vindo de Angola. E ele já sabia o que estava no interior sem precisar abrir. Era um Montrachet, um vinho antológico que ele vira alguns dias antes em uma casa de vinhos que visitara.

Não fazia ideia de quem podia ter lhe mandado tal presente, aliás, não era um presente comum. Não era todo dia que se presenteava alguém com um vinho daquela natureza. E ainda mais com aquela embalagem de mucibo que praticamente dobrara o já elevado valor da garrafa no interior.

Resolveu abrir a caixa em busca de um cartão ou algo parecido. Ao abrir o cigarro lhe caiu da boca, se não estivesse sentado teria ele mesmo ido ao chão. Era um outro vinho que estava no interior, um Romanée-Conti. Outro vinho não, outra garrafa, pois aquela não continha qualquer líquido, estava aberta e vazia.

Ele agora sabia quem tinha mandado o "presente". Era o sinal que ele precisava para abandonar os velhos sonhos e trocá-los por novos. Pensou em arremessar a garrafa contra a parede e partí-la em mil pedaços, não o fez. encontrou no canto da caixa de madeira a rolha, sentiu o aroma daquele vinho, então colocou novamente a rolha e fechou a garrafa vazia.

Levantou, foi até a estante e colocou lá, ao lado das comendas que já recebera como sommelier. Com um punhal que também estava na estante, talhou na madeira uma frase: "Aqui jaz um sonho sem dono".


Abraço. Boa leitura.

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