4 de setembro de 2011

Sem ela

Ele estava só. Como sempre.

O quarto estava escuro, a casa estava escura, suas únicas companhias eram Johnny Walker e Luciano Pavarotti, um escocês e um italiano que estavam sempre dispostos a lhe dar um apoio nos momentos difíceis.

"Una furtiva lagrima
Negli occh suoi spuntò...."

Um espelho refletia a sua imagem: gravata frouxa, camisa meio desabotoada, uma barba que pedia para ser feita a pelo menos dois dias e um olhar que falava a qualquer um que o conhecesse que ele estava pensando nela.

Olhou para a sua imagem na penumbra e pensou em como estava feio, e então em como ela era bela. Olhou para a lua pela janela, e pensou que em algum lugar ela poderia estar olhando para a mesma lua. Pensou então que isso é bobagem, as probabilidades são ínfimas, e mesmo que ela esteja, isso não significa absolutamente nada. Pensou então em como os pensamentos se sucedem rápidos na nossa cabeça e não nos damos conta. Então um agudo de Luciano o tirou de seus devaneios e lee não pensou em mais nada.

"Un solo instante il palpiti
Del suo bel cor sentir!..."

Fechou os olhos enquanto o italiano dizia tudo o que ele queria dizer, mas não sabia escolher as palavras.

As lágrimas escorreram enquanto ele se levantava e punha seu amigo escocês sobre o criado-mudo. Ergueu os olhos para o teto e inspirou profundamente, como se quisesse aprisionar em seu corpo o "gran finale" da música....

"Cielo, si può morir;
Di più non chiedo."

Desligou o aparelho de som e deitou-se com a mesma roupa que estava. Sabia que não dormiria, mas ainda assim deitou-se, o dia seguinte se aproximava. Mais um dia sem ela se encerrava, outro dia sem ela começava. E ela seguia tranquila sua vida, indiferente ao sofrimento dele.

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