21 de julho de 2011

Velha Nova Página...

Miguel estava cansado. Trabalho, projetos, ideias e mais trabalho, era uma rotina que fazia ele manter seus pensamentos distantes de Luiza. Ou pelo menos durante a maior parte do tempo, afinal, quando era noite, sentado na sala com a caneca preferida dela cheia de café e ouvindo Chico Buarque, era impossível não lembrar daquele sorriso.

Os dias haviam virado semanas e, em breve, virariam meses. Ele sabia que ela tinha conseguido um bom emprego na Europa e em breve partiria, para voltar sabe-se lá quando. E ele pensou, e ponderou, mas não conseguia mover uma palhar sequer. Ele precisava de algo mais para correr, de algo que nunca tivera certeza se ela lhe ofereceria.

No mais íntimo de sua saudade, o que ele queria mesmo era que os sonhos de todas as noites se tornassem reais. Ele, ela, dois sorrisos e um conto de fadas. Suspirava pensando nisso e desanimava em seguida, a vida real era muito mais dura.

Levantou da poltrona e foi até a cozinha buscar mais café. Na volta o vento fez a janela da sala bater forte e ele teve um pequeno susto, derramando café no chão. Normalmente ele deixaria aquela mancha de café ali por dias, até que resolvesse chamar a diarista. Mas, por uma ironia qualquer, foi até a cozinha, molhou um pano e foi limpar a sujeira.

Quando limpava o chão ele viu o reflexo de alguma coisa sob a poltrona, esticou-se e não alcançou. Tirou a poltrona do lugar e encontrou um porta-retratos, era uma foto sua com Luiza. Uma foto boba, que eles tiraram no último dia do curso de fotografias que fizeram juntos, estavam tão felizes, tão sorridentes.

A lembrança boa lhe arrancou uma lágrima, não de tristeza. Sorriu e resolveu arrumar todo o apartamento.


Abraço. Boa leitura.



Quem quiser mais contos de Miguel e Luiza clique aqui.

11 de julho de 2011

Celebraremos!

Ver num dos jornais mais importantes do país que existe a posssibilidade de que um dos crimes do processo do Mensalão prescreva me faz sentir vergonha de ser brasileiro. É uma coisa que, pessoalmente, me faz acreditar cada vez menos naquela remota possibilidade de que as coisas podem mudar com naturalidade.

O processo em questão vem arrastando-se com vagareza na mais alta Corte do país desde que a Procuradoria da República teve sua denúncia recebida em 2007. É isso mesmo, há quatro anos um dos processos mais importantes da história do nosso país, aquele que poderia vir a ser o divisor de águas de uma nova era de moralidade, está prestes a prescrever parcialmente sem julgamento.

E eu arrisco a dizer que o Olimpo, digo o Supremo, vai manobrar para tal sem qualquer cerimônia. E, assim, o nosso tão desacreditado Judiciário vai ficando cada vez mais desacreditado. È lamentável, é deprimente e é preocupante, pelo menos para mim.

Ultimamente, tenho pensado muito uma tese de que apenas uma revolta popular nos moldes daquelas que viraram do avesso o mundo árabe poderia salvar nossa Nação. Só que aqui tem o Carnaval, as Festas Juninas, o Campeonato Brasileiro, uma infinidade de outros feriados, o Faustão aos domingos, e assim as pessoas vão elegendo outras prioridades, sempre têm algo mais importante com o que se preocupar.

Caberia aqui um trecho de uma música da Legião Urbana: "Vamos celebrar nossa justiça, a ganância e a difamação (...) Vamos celebrar nossa bandeira, nosso passado de absurdos gloriosos. Tudo que é gratuito e feio, tudo o que é normal".


Abraço. Boa leitura.

5 de julho de 2011

Desastre de Ordem

Pouco menos de 90% dos bacharéis em Direito que se submeteram ao Exame de Ordem foram reprovados. Algumas instituições de ensino superior conseguiram a façanha de não ter nenhum egresso aprovado. O que se observa do quadro é um caos generalizado tomando conta das faculdades de Direito, fruto principalmente da banalização do ensino superior em nosso país.

Eu arriscaria dizer que a maior parte daqueles poucos que lograram êxito no Examde Ordem o fez não por mérito da faculdade que frenqüentaram durante quatro ou cinco anos, conseguiram por mérito próprio. Conseguiram porque foram as cadeiras da universidade em busca não de levar adiante a tradição familiar ou para realizar o sonho pessoal dos pais, mas foram em busca de ascensão social.

É esse, no fundo, o propósito de quem estuda pra valer. Mas isso é ainda mais raro nas cadeiras das faculdades de Direito, por melhores e mais dedicados que possam ser os professores, é difícil ensinar a quem não quer aprender. É difícil quando a grande maioria dos acadêmicos de Direito encaram a faculdade como extensão do ensino médio, e não é assim.

É em face desse tipo de pensamento que esse resultado desastroso no último Exame de Ordem não é uma culpa que pode ser atribuída apenas à dificuldade do Exame, à inépcia da maioria das faculdades particulares ou as dificuldades de português de alguns estudantes, esses são apenas agravantes dessa situação obituária do estudo das ciências jurídicas num país onde não se discutem perspectivas nas universidades, onde a discussão é o tipo de questão que a Fundação Getúlio Vargas vai utilizar no próximo Exame.

Não pode ser esse o propósito das universidades. Devemos ir para lá discutir cidadania, debater ideias e, principalmente, defender a justiça que tanto vem sendo maltratada nas mais diversas instâncias de nosso país.


Abraço. Boa leitura.

Lembranças, Disfarces e Reviravoltas... - Minissérie #2

Como já era de se esperar, ela não atendeu. Não estava dormindo, mas queria saber até onde a inquietação do rapaz o levaria. Anita já sabia onde estava pisando, e não foi à toa que às 10h recebeu uma mensagem de Luiz, perguntando se poderia vê-la novamente. Ela respondeu que sim e completou dizendo que sempre almoçava num restaurante perto da praia e que ele reconheceria o lugar.

Fazia muito tempo que não fazia isso, mas Luiz queria impressioná-la. Depois de muito tempo sentiu necessidades de impressionar alguém. Pegou a velha motocicleta e saiu cortando as ruas da cidade até a praia, contava os segundos para a hora marcada. Quando foi se aproximando da praia, um flash veio em sua memória, ele lembrara exatamente de Anita quando estudaram juntos. Mas iria aguardar o momento ideal para revelar isso.

Luiz chegou ao restaurante na hora marcada e ficou esperando Anita por uns 30 minutos ainda. Lá vem ela. Encantadora como sempre, senta-se a frente do barman e ele sorri dizendo que ela ainda não perdera o hábito de chegar atrasada aos lugares. Ela desconversa.

Ele não conseguia comer, deu umas duas garfadas apenas na comida, fitava descaradamente os olhos verdes de Anita. Ao terminarem ele a chamou para ir caminhar na praia. Ela relutou um pouco, confirmando o que ele já tinha certeza, mas acabou aceitando o convite.

Anita tentou aguardar o momento certo para aquela pergunta, mas percebeu que dependendo de Luiz o momento certo nunca chegaria, foi quando ela resolveu cortar o assunto pela metade e perguntar ao rapaz o que levou um homem que carrega uma aliança dourada na mão esquerda sair ao encontro de uma antiga colega de classe, que, sabiam os dois, não era qualquer colega.

- Foi difícil reconhecê-la. Eu achei que a parte da amiga de colegial era apenas um pretexto para flertar, mas que de certa forma me atraiu. Só quando vinha para a praia foi que me dei conta. Eu agora sei como foi que a achei familiar, Diana. Foi pelo seu sorriso, ainda é inconfundível. Mesmo com o cabelo pintado e as lentes de contato que nunca lhe foram peculiares. Mas e você porque me procurou depois de tanto tempo? Mudou de ideia ou quer apenas mais uma? – falou secamente demonstrando irritação pelo teatro que a moça tinha feito.

- Você sabe que eu não mudo de idéia, mas se eu tivesse mudado o que aconteceria? Afinal, você resolveu mesmo casar! Finalmente encontrou alguém que aceitasse viver a mesma coisa até a morte – falou em tom de deboche, o que irritou mais ainda o rapaz. – Talvez eu tenha ficado com saudade de alguma coisa em particular.

- Se foi apenas saudade o que você sentiu, acho que ambos perdemos tempo vindo aqui. É melhor irmos embora – falou o rapaz sinalizando dar as costas, mas rapidamente sendo interrompido por Diana agarrando sua mão. – O que mais te trouxe aqui Diana?

Ainda continua...

2 de julho de 2011

"Final Feliz"

Ele se viu olhando nos olhos dela, a encarava e fazia todo o barulho ao redor sumir. A música alta, as conversas nas mesas ao lado, os gritos do gerente com os garçons, tudo era suprimido pelo olhar dela, que parecia dizer mais que qualquer outra coisa. Ou pelo menos era o que ele pensava, até ela falar.

- O que você tem em mente? - perguntou sem fazer ideia do que ele realmente tinha em mente.

Em tanto tempo, essa talvez fosse a oportunidade mais clara de dizer tudo o que ele sempre quisera, mas estivera impedido por todas aquelas coisas que ele costumava chamar de princípios. Estavam lá, apenas os dois. Mas ele hesitou. Não daria aquela resposta.

- Não é nada importante. Você nem acreditaria se eu lhe dissesse - falou tentando parecer soberbo.

Jantaram, conversaram e foram embora. Ele a levou em casa, sentaram em um banco nos jardins da alameda em que ela morava e conversaram mais. Vez por outra ela insistia em tentar voltar ao assunto e ele desconversava. Ele sabia que nunca teria coragem de dizer a verdade.

Já tarde da noite ele a acompanhou até a entrada de sua casa. Se despediram e quando ele deu as costas, ela o puxou pelo casaco e o beijou. Uma, duas, três, quatro vezes.

- Agora você pode ir.

E ele fez exatamente o que ela disse. Rindo por dentro, feliz e ao mesmo tempo desconcertado. Entrou no carro e saiu dirigindo para casa.


Abraço. Boa leitura.


Nota: pra quem andava reclamando da falta de finais felizes por aqui, espero que esse agrade. ;D

1 de julho de 2011

Vanessa

Passava da meia-noite, Samuel estava irritado, embora não conseguisse tirar os olhos de Vanessa. Nunca tinha feito isso de forma tão clara, os olhos dela eram como um feitiço, um encanto.

Ele a queria do lado, a queria perto. Aquela ligação havia despertado aquilo que ele antes tentara esconder. Ele tinha se encantado por aquele sorriso doce, um sorriso encantandor, um sorriso que não merecia ficar escondido.

E mesmo depois de estar por perto ele queria mais. Queria aquela pele macia, aquele perfume atraente, mas mais que tudo aquele sorriso e aquele olhar que o tiravam do sério.

Mas ele precisava cessar, não podia saltar em mais um abismo...

E agora o que será que aconteceria?

30 de junho de 2011

Pérola

Mais um dia de trabalho chegava ao fim, não suportava mais a rotina. Casa, trabalho, casa. Precisava de diversão, de ausência de responsabilidades e sabia que nunca mais teria isso como nos tempos em que fora jovem. Jogou-se na cama e encarava o teto, foi quando o telefone tocou.

Espantou-se imediatamente, era uma mensagem de texto de Pérola. Abriu, mas para seu lamento estava corrompida mensagem, algo havia dado errado no envio. Ele telefonou para ela, o celular estava desligado. Ficou intrigado, não esperava que ela lhe mandasse uma mensagem.

Tentou mais algumas vezes telefoná-la, em vão. Voltou para a cama e ficou mais uma vez encarando o teto. Agora ela ocupava sua mente, mas muito mais que qualquer traço que ela carregasse ele afundava seus pensamentos naquele sorriso que ela carregava, doce, tão doce. Da janela veio um vento, um tanto quanto frio.

E ele já quase dormia quando o celular toca novamente. Dessa vez uma mensagem da operadora, avisando que ela tinha ligado o celular. Ele ligou, imediatamente. Ela atendeu já dizendo que seu celular havia descarregado e perguntando da mensagem. Ele pode sentir um certo alívio do outro lado da linha quando disse que a mensagem havia chegado corrompida, ilegível.

Ele então perguntou o que estava na mensagem e ela disse que não era nada importante, em seguida disse que precisava desligar, já era tarde e ela trabalharia amanhã cedo. Ele desligou com uma curiosidade infindável. Do outro lado, ela sorriu pois a mensagem dizia justamente que ela queria apenas ouvir a voz dele.


Abraço. Boa leitura.

27 de junho de 2011

Lembranças, Disfarces e Reviravoltas... - Minissérie #1

Luiz caminhava lentamente até a boate onde trabalhava como barman, até que começou a sentir pingos de chuva que o fizeram apressar o passo. Chegou à boate, um pouco molhado, e foi até o vestiário trocar de roupa, pouco antes de entrar lá viu de relance uma bela ruiva encostando-se ao balcão. Ela lhe parecia familiar, mas ele não lembrara imediatamente.

Entrou no vestiário com a imagem da ruiva na cabeça e torcendo para que tivesse a oportunidade de atendê-la. Vestiu-se rapidamente e correu até o balcão. A moça, indecisa, ainda não havia escolhido o que beber e foi aí que Luiz viu a oportunidade, sugerindo a ela o drink da casa. Ela sorriu, encarou o barman e disse que "podia ser", mas, antes que ele saísse, ela completou com uma frase que o deixou mais intrigado:

- Conheço você!

Ele sorriu ao ter a confirmação da impressão que tivera, mas de imediato viu dois problemas: não sabia de onde e nem sabia o nome dela. Foi então que mais uma vez a moça foi incisiva, quase como se estivesse lendo a mente dele:

- Anita, nós estudamos juntos no colegial. Você se chama Luiz não é?

- É me chamo Luiz, tinha tido impressão de conhecê-la. Só não me lembrava de onde. Mas como você me reconheceu? Eu mudei muito desde os tempos de moleque.

- Eu não te reconheci de agora, tenho vindo muito aqui ultimamente. Foi numa dessas noites que tive a certeza!

- Mas isso ainda não responde a parte do “como você me reconheceu”, como teve “a certeza”? – falou soltando um riso malicioso.

- Existem pessoas que a gente vai reconhecer pelo resto da vida.

Ele se virou para atender outra pessoa, quase que ignorando o que a bela moça acabara de dizer. Ela já ia lhe dizer umas boas verdades quando viu passando pelo balcão o gerente da boate. Enquanto fazia o drink, olhou para ela e mexeu os lábios torcendo que ela fosse boa em leitura labial. Ela entendeu, com sorte é verdade, o que ele dissera:

- Começo a achar que você está flertando descaradamente comigo.

Aproveitando o momento, Anita abaixou a cabeça, abriu a bolsa, tirou a quantia certa para pagar o drink e já ia se retirando quando sacou da bolsa uma caneta que usou para escrever em uma das cédulas o seu telefone.

Ele pegou o dinheiro e guardou no bolso, enquanto acenou para o colega no caixa, passando a mensagem que a bebida da moça era por conta dele. Depois que a moça partiu foi como se cada minuto durasse uma hora e ele não via a hora de ligar para ela, estava realmente intrigado. Passava um pouco das cinco da manhã quando ele foi liberado, imediatamente ligou para a moça.

***

To be continued...

Nota dos Autores: o texto é uma parceria - do tipo "cada um escreve um pedaço" - entre Fernanda e eu (Fahad). E a continuação é por conta dela postar, já está escrita, ou quase, só falta ela escrever o fim, portanto, se faltar o fim não é culpa minha (risos).