8 de janeiro de 2011

Apenas saudade

O sol estava quente como ele só consegue ficar nos domingos a tarde. O ar parado queimava as narinas. Nada de bom na TV. Nenhum amigo com disposição para sair. No silêncio que dominava a casa, o zumbido das moscas parecia dominar todo o ambiente.

Ele estava deitado no sofá, o suor, aparentemente atraía as moscas, e espantá-las era a única atividade que retirava por um instante a sua mente de seus devaneios: "por que ele estava tão entediado nos últimos dias? Para ele, as últimas semanas haviam sido uma sucessão interminável de domingos a tarde.

Por que as pessoas sentem essa necessidade de fazer algo? Os bois, os cavalos, e as moscas -malditas moscas! - contentam-se em viver eternamente saciando suas necessidades fisiológicas, comer, beber, reproduzir-se.... Apenas o homem sente essa necessidade eterna de fazer algo, de mover-se, de experimentar.... Os homens e os cães, essa espécie que nós criamos à nossa imagem e semelhança.

"Uma tarefa inacabada." A frase veio à sua mente num estalo, logo depois de espantar outra mosca: "o homem é uma tarefa inacabada que ele mesmo deve terminar". Tinha ouvido essa frase em algum lugar, mas as moscas não o deixaram lembrar onde.

Tentou lembrar desde quando sentia-se daquela maneira, naquele tédio incurável. Entre uma mosca e outra, e outros pensamentos - trabalho, futebol, listas de compras, problemas de matemática.... - que teimavam em rodopiar pela sua cabeça por mais que ele tentasse se concentrar num único assunto, uma única cena terminou por se fixar na sua mente: o dia da mudança!

Ele a ajudou a colocar os móveis no caminhão, despediu-se com um abraço que apenas para ela foi burocrático, - "ela não sabia, jamais saberia, jamais saberá"- um último olhar pelo retrovisor do carro dela, que já se afastava. E imediatamente aquela terrível sensação de que já é tarde demais, e de que o tempo não vai voltar.

Levantou-se e foi tomar um banho para espantar o calor e as moscas.

No fim das contas não era tédio.

Era apenas saudade.



Um comentário:

Fahad M. Aljarboua disse...

"O tempo passou, claro que passaria, como passam as vontades que voltam no outro dia..."


Mais um belo conto meu amigo, e sempre me lembra uma música. =D