11 de agosto de 2009

Ganhar ou ganhar?

Mais um conto do meu "baú sempénemcabeça". Divirtam-se mais uma vez.

Ganhar ou ganhar?

Ele olhou pela janela do quarto, viu o sol se nascendo. E um filme de sua vida passou diante de seus olhos, tudo que ele desejara a vida inteira era apenas ser livre. Livre do mundo, livre no mundo, livre de dores, de angústias, livre de certos vícios, e de certas virtudes. Naquele momento tinha certeza que não estava arrependido de nenhuma das coisas que tinha feito, das escolhas que tinha tomado, dos caminhos que tinha seguido.

Mas uma dúvida que jamais sanaria ainda o incomodava: quem ele era ou quem ele poderia ter sido, qual o melhor que ele pudera ser? Não importava o quanto ele estava bem naquele momento, e o quanto ele poderia estar mal, mesmo sem estar arrependido ele estava atormentado.

Mas o que ele poderia ter mais? Já tinha o emprego que sempre sonhou, já era dono dos próprios caminhos, já havia realizado quase tudo que sempre desejara com intensa paixão durante a vida inteira. É isso mesmo, paixão pelos sonhos e por fazê-los se tornarem reais, essa paixão o havia movido a vida inteira, por caminhos hora sinuosos, hora cheios de pedras, hora linhas retas e fáceis de seguir.

Mas de nada adiantaria, o seu tormento existiria da mesma forma, muito embora pudesse ser pior. Não importava como tinha seguido sua vida, a dúvida de ter escolhido o outro lado da moeda iria sempre incomodá-lo.

De repente, uma leve garoa começou a cair, mesmo com o céu claro, limpo e ensolarado. O resultado foi um arco-íris incrível, que ele jamais havia vislumbrado antes, e que trouxe consigo uma doce lembrança. E então ele parou, era como se todo o tormento de sua vida tivesse simplesmente deixado de existir. Finalmente, ele pode perceber que, de fato, tudo pode ser, percebeu que não havia escolha "certa" ou "errada", era uma escolha, mas era ganhar ou ganhar.

Virou-se para o quarto, e observou atentamente sua esposa, enquanto uma lágrima suavemente cruzava o seu rosto. E naquele instante arrependia-se verdadeiramente pela primeira vez em sua vida. Percebera que jamais deveria ter pensado tanto naquilo que o atormentava, pois esse tormento sim havia arruínado sua vida. Não se tratava de ser melhor ou pior, se tratava de querer agradar a gregos e tróianos, e todos sabemos que isso não é possível.

Deitou-se na cama ao lado da esposa, abraçou-a e com ambos despidos sentiu o calor de seu corpo junto ao dela, a sensação que outrora temeu jamais sentir de novo, agora simplesmente o fazia sentir-se invunerável. E muito embora não se tratasse disso, sabia que agora estaria preparado para tudo que pudesse acontecer, e que tudo poderia acontecer.

Abraço. Boa leitura.

Um comentário:

Unknown disse...

Que texto lindo, adoro os seus contos. Parecem uma história do seu futuro. ;*

Eu te amo, tonto.