31 de dezembro de 2010

Repostando...

Há pouco mais de dois anos eu havia feito uma postagem aqui no blog, com o título "Para estar com ela...", falando de um filme muito bom, que após escrever eu vou rever, chamado O Ilusionista, de Neil Burguer. Edward Norton interpreta um famoso ilusionista, chamado Eisenheim, que reencontra seu primeiro, e possivelmente único, amor: a duquesa Sophie von Teschen, interpretada por Jessica Biel.

Mas o príncipe Leopold, herdeiro do Império Austro-Hungárom está noivo de Sophie, e fará de tudo para casar com ela e realizar seus planos de dar um golpe no pai. A trama do filme é muito bem estruturada, e o final é surpreendente. Mas eu não sou fã de spoillers, vejam o filme, vale a pena. No decorrer do filme, usando suas ilusões Eisenheim passa a ser perseguido pelo chefe de polícia.

***

Já nos momentos decisivos do filme, quando questionado pelo chefe de polícia por que insistia em tais atitudes, Eisenheim limitou-se a responder: "É apenas para estar com ela...". Apenas mais tarde o chefe de polícia entenderia que o ilusionista estava apenas fazendo mais um truque, um truque "vivo". Mas o interessante nessa parte, é a fala do ilusionista, para estar com ela...

E sabem, se pararmos para pensar um pouco as vezes fazemos isso. As vezes fazemos algo, um sacrifício ou não, apenas para nos sentirmos perto de alguém, ou para estarmos perto literalmente. Sempre movidos por algum sentimento forte, seja uma paixão ou uma grande amizade. O fato é que quando situações assim acontecem, é porque existem pessoas com as quais nos importamos e nos preocupamos, e pessoas que de uma forma ou de outra amamos de verdade.

Sabem, eu já parei uma vez, já deixei tudo que eu estava fazendo para me sentir perto de alguém muito importante pra mim, e não me arrependo. Porque quando sentimos essa necessidade de largar tudo, fazê-lo nos traz tranquilidade, calmaria e, acima de tudo, nos deixa felizes. E é isso que importa, ser feliz. É curiosa uma observação que Eisenheim faz no começo do filme: "Nunca tivemos a sensação de que um lindo momento pareceu passar tão rápido e queriam que pudéssemos faze-lo durar mais? Ou ver que o tempo não passa em um dia tedioso e queriam que pudéssemos faze-lo passar mais rápido?"


Abraço. Boa leitura.


N.A.: É a primeira vez que posto algo que já postei antes.
Outra N.A.: A parte em itálico após a quebra do texto foi retirada da postagem original.

30 de dezembro de 2010

"Coincidências"

Naquela manhã ele acordou mais tarde do que de costume. A noite anterior havia sido longa. O sono tornou o ritual diário de acordar anormalmente longo: dentes, banho, barba, café....

Então lembrou-se que precisava ir ao cartório. Problemas com a escritura da casa. Já havia ido no dia anterior, mas esqueceu um documento e preferiu deixar para o outro dia, em vez de ir pegá-lo em casa.

No cartório, ele passou bem mais tempo do que achou que passaria. Na volta, viu um livro numa banca e parou para folheá-lo. Foi então que a viu: uma antiga colega dos tempos de escola, vinha de óculos escuros, com passo apressado olhando para o outro lado, aparentemente para as vitrines da lojas. Ela não o viu. Ele tampouco a chamou.

Imediatamente uma avalanche de pensamentos e lembranças invadiram sua mente. Um sentimento desses sem nome que ele nem lembrava mais que existia, um passado desenterrado, e, no entanto, vivo como nunca....

Em casa não conseguia fazer seu pensamento parar de voar: se ele não tivesse saído na noite anterior e assim tivesse acordado mais cedo, se não tivesse decidido voltar ao cartório apenas no dia seguinte, se, meses antes, não tivesse surgido a inexplicável confusão sobre a escritura da casa, se não tivesse parado para olhar o livro....

Uma infinidade de pequenos eventos, que se não tivessem ocorrido, ou tivessem ocorrido com um minuto de atraso ou adiantamento, teriam impossibilitado aquele encontro.

Um pensamento intrometido veio para lhe dizer que "coincidências" como essas, na verdade ocorrem aos milhares, todos os segundos de nossas vidas, e nós apenas não nos damos conta.

Imediatamente ele expulsou esse pensamento quando lembrou-se da frase exata que lia quando a viu: -"Uma estrela brilha sobre a hora do nosso encontro."

Num antigo caderno, encontrou rabiscado o telefone dela. Pegou o celular. Se depois de tantos anos ela ainda tivesse o mesmo número, seria muita coincidência?

29 de dezembro de 2010

Intuição

David estava um pouco irritado, Jaqueline não lhe dera qualquer sinal de vida. Ele não sabia se iriam ao cinema juntos ou não, e ficava cada vez mais tarde. Ele estava incessantemente fumando e tomando café, não conseguia se controlar na frente da TV, sempre passando as mesmas bobagens de sempre.

O telefone toca.

- Desculpas meu querido. Não dei notícias porque estava no hospital, mas já estou bem.

- Estar no hospital é mais um motivo para que eu não te desculpe. Eu teria ido te visitar.

- Eu sei, por isso não te liguei.

Ele já imaginava que ela não queria vê-lo, mas essa foi a gota d'água. Sentiu vontade de explodir ao telefone, mas hesitou, e hesitar com ela era ceder. Mesmo assim não a desculpou, mesmo sabendo que isso faria pouca diferença. Foi rude, foi chato, irônico e depois desligou o telefone.

Não parou de pensar nela por um segundo sequer, enquanto deixava de lado a televisão por um gole de cerveja e um jazz dos anos 30. A cerveja acabou e ele se viu compelido a continuar bebendo, foi até o buteco da esquina. E continuou.

Bebeu, bebeu, bebeu...

Não ficou bêbado, não perdeu a noção, e não parou de pensar nela. Foi para casa. Abrindo a porta, ouviu o telefone tocar, tentou abrir a porta mais rápido, opção errada a chave emperrara. Quando conseguiu abrir, e se agarrar o telefone...

Beep-beep... beep-beep... beep-beep...

Ele tinha certeza que era ela, e dormiria com essa certeza. Pensou em telefonar, mas ainda estava com o orgulho ferido.


Abraço. Boa leitura.

28 de dezembro de 2010

Madrugada

Eu ia falar de armas, ia falar de Samuel Colt e da máxima que diz que "armas não matam pessoas, pessoas matam pessoas". Mas, por acaso, apertei num link no Twitter para o perfil do "Pequeno Príncipe" (@OPeqPrincipe), e descobri que vai ter uma série animada no segundo semestre do ano que vem e que será exibida aqui por algum canal, até agora não confirmado. E daí? Alguns podem estar se perguntando.

Eu comecei a ler pedaços soltos do texto de Saint-Exupéry, e me dei conta que nunca li esse livro. Pra ser sincero não sei sequer de que trata a história, além do deduzível que é a história de um pequeno príncipe. Já ouvi inúmeras pessoas falando desse livro, sou um fã de livros, mas nunca o li. Na verdade, a primeira vez que esse livro passou em minhas foi há alguns dias quando acabei presenteando alguém com ele.


Introduções de lado. Vamos ao que interessa.

"Foi o tempo que você dedicou a sua rosa que a fez tão importante". É tão óbvio o que Exupéry diz, que chega a passar despercebido. Mas vamos pensar um pouco. Se eu dedico meu tempo ao trabalho, o trabalho se tornará importante, se eu dedico meu tempo ao estudo, será o estudo a se tornar importante. Se dedicamos nosso tempo a uma pessoa, essa pessoa se tornará importante.

Mas porque com as pessoas é diferente? Porque o insucesso com pessoas importantes nos afeta mais que nos estudos ou no trabalho?

Isso me lembra um filme bobo, A Ilha, dele só é possível aproveitar a definição de Deus ("Sabe quando você quer muito alguma, fecha os olhos e pede? Deus é o cara que ouve e te ignora".), o espetáculo que é a Scarlett Johansson e uma outra passagem falando sobre previsibilidade e curiosidade.

***

Deu tilt aqui na postagem, perdi a concentração e o raciocínio, por estar dedicando tempo a uma certa rosa - ou seria uma erva venenosa (risos).

Mais uma do Pequeno Príncipe pra encerrar. "É preciso proteger as lâmpadas com cuidado: um sopro as pode apagar..."


Abraço. Boa leitura.

P.S.: Até um título foi difícil depois dessa.

27 de dezembro de 2010

Detalhes (2)

Era o último congresso maluco da faculdade de Filosofia, Pedrenrique nunca conhecia pessoas como ele nesses lugares, eram sempre os mesmos loucos de sempre, uns fumando baseado, outros bebendo vinho, ele não tinha preconceito algum, porque todos sempre ouviam música clássica. O problema é que ele não fumava maconha e preferia beber Coca-Cola nesses lugares.

E ele nunca encontrava ninguém normal, ninguém como ele, o que o fazia pensar que ele podia parecer anormal pra os companheiros de academia. Depois das palestras, saiu para conhecer a cidade com Clara, o mais próximo de colega que ele tinha feito no decorrer do curso. Embora em alguns momentos ela fosse incrivelmente chata, de tão previsível.

Pararam num buteco meio underground, estava lotado, exceto por duas cadeiras vazias numa mesa onde estavam sentadas três moças e dois rapazes. Pedrenrique quase gritou assustado, quando uma senhora puxou ele e Clara até a mesa e disse sorrindo - e sem alguns dentes: "sentem-se, já lhes trago bebida. Para o rapaz Coca-Cola, e você moça o que quer?"

Ele ficou mais assustado, como ela poderia saber o que ele ia pedir. Em seguida, se acalmou podia ser coincidência, afinal, ela perguntou a Clara o que ela iria beber. Foi então que Clara respondeu: "Estou indecisa ainda". E a senhora deu de ombros e saiu.

De repente, ele ficou ainda mais surpreso, Clara - contrariando a sua tradicional previsibilidade - começou a falar com a turma que já estava sentada. E parecia que ela os conhecia há anos, e a conversa parecia nunca acabar. Vez ou outra ele se metia e falava alguma coisa, mas ainda estava admirado com a desenvoltura nada corriqueira da sua amiga. E vez ou outra o olhar dele cruzava com o dela, e vez ou outra a mão dela tocava a dele.

Mas ele deixou passar esses detalhes tolos. Foi ao banheiro e quando voltou Clara não estava mais lá, nem os novos colegas, olhou ao redor e procurou a senhora, nenhum sinal. Pediu uma cerveja no balcão e saiu. Nunca mais viu Clara, mas vez ou outra aquela noite vinha na lembrança e ele acabara percebendo que havia estado apaixonado por Clara. Ele prestava muita atenção nela, por isso ela era tão previsível.

E sempre se perguntaria porque tinha deixado passar os detalhes tolos.


Abraço. Boa leitura.

26 de dezembro de 2010

Detalhes

O último show, debaixo de uma forte chuva, havia lhe tirado um pouco da voz, ainda bem que não faria mais nenhum show naquele ano, o que significava nas próximas duas semanas. Tempo o bastante para recuperar a voz, com certeza. Olhou pra Lucy, sua amada guitarra, e foi tomar banho.

Como sempre, fazia questão de ser pontualmente inglês - mesmo que dessa vez não houvesse uma hora exata para o jantar. Enquanto tomava banho, um pensamento passou pela sua cabeça, como era possível ter tanta certeza de que sentiria saudades dela mesmo que nunca a tivesse conhecido. Sabia que mesmo que nunca desconfiasse sequer seu nome ou se de fato ela existia, sentiria saudades dela, como conjunção estelar.

Além disso estava inquieto, mesmo sem saber o porque. Arrumou-se, foi à garagem, ficou na dúvida de qual carro escolher, e resolveu ir caminhando. E na caminhada só pensava nela. Se perdeu um pouco na hora, e na caminhada, e quando chegou já estavam todos lá. Jantaram, conversaram por horas e horas e horas, e foram se despedindo um após o outro.

No fim ele percebeu uma coisa estranha. Não que ele não estivesse concentrado na conversa, ele estava, mas de alguma forma seus olhos teimavam em olhar para uma certa direção. E mais, teimavam em querer cruzar com outros olhos no caminho. No fim, como os outros, partiu.

Dias depois, percebeu que havia deixado algo passar despercebido. Não sabia exatamente o que, mas havia.


Abraço. Boa leitura.

22 de dezembro de 2010

Um dia a mais

Todo dia ele a via no trabalho, e toda noite ele a via nos seus sonhos.

Que nome se dá a esse sentimento tão forte por uma pessoa que não se conhece? Por uma pessoa de quem nada se sabe? Como pode uma total desconhecida ocupar assim de forma tão permanente a mente de uma pessoa?

Aliás, pensando bem, ela nem chegava a ser uma pessoa. Para ele, ela era apenas uma pele clara, um par de olhos escuros, um jeito gracioso de andar, e um delicioso perfume. Acima de tudo um perfume!

Naquela manhã, depois de sonhar (novamente) com ela, ele pensou em com aquilo era loucura! Como é possível conhecer uma pessoa pelo perfume, mas não pelo nome? Andando pela rua, ao cruzar com uma mulher que usasse a mesma fragrância, ele imediatamente reconhecia: "é o perfume dela!". Mas "dela" quem? Afinal, quem é ela, que toda noite ocupa os seus sonhos?

Naquele dia ele resolveu perguntar.No caminho ia pensando que essa é uma pergunta banal, que pode ser normalmente feita entre dois colegas de trabalho que nunca se falaram sem que um ache que o outro sofre de algum problema. Ele não sabia se seu pensamento estava correto, mas pelo menos era bem mais confortável do que a opção oposta.

Lá chegando, foi em busca dela, guiado pelo perfume. Qual é o seu nome? Um olhar de estranhamento pela pergunta que foi mais disparada do que perguntada e em seguida uma resposta. Uma troca de sorrisos burocrática.

Ela continuava não tendo nome. Aquele nome (ainda) não significava nada para ele. Em seus sonhos ele continuaria chamando-a simplesmente de "você". Depois de toda a reflexão e da decisão tomada na cama ao acordar naquela manhã, ela continuava não tendo nome. O que ela tinha agora era uma voz. E que doce voz!

20 de dezembro de 2010

Encontrando-me

One tree hill tem ocupado uma parte muito grande dos meus dias, tenho assistido uns 10 capítulos por dia. É uma série muito boa, estou gostando mesmo, porque me obriga a me questionar infinitas coisas a respeito de mim mesma e sempre acaba me colocando contra a parede.
Um tema muito frequente é a questão do 'dom'. Na verdade não sei exatamente que termo usar para descrever isso. Pode ser dom, pré-disposição, afinidade, saber... enfim... na série a maioria dos personagens sabem fazer alguma coisa, e são muito bons no que fazem.
Um é ótimo jogador de basquete, outra é uma excelente cantora, outra desenha muito bem, outra tem uma linha de roupas muito famosa... e cada um deles se dedica da forma que pode para fazer suas respectivas habilidades serem reconhecidas. Fazem por amor, trazer suas habilidades para o cotidiano é a realização de um sonho para eles. E isso me encanta. E isso tem feito com que, dia após dia, eu me pergunte e procure algo em que eu seja boa o suficiente, algo que eu possa agarrar e impregnar no meu cotidiano, algo que possa me trazer felicidade e paz, trazer a sensação de estar viva dentro daquilo, de realização.
Ainda não sei que coisa é essa, escrever com certeza não é, cantar também não. No fundo, acho que queria ter o dom (isso aqui eu vou chamar de dom) que uma das personagens tem, ela salva vidas com palavras. E de todos, de tudo, isso foi o mais bonito.
Então fica a deixa para vocês... se tiverem algo para falar, por mais idiota que possa parecer, tente expor de alguma forma, talvez exista alguém em algum lugar esperando apenas por essas palavras. Talvez salve alguém.

Ficou aqui a minha tentativa que, com certeza, está salvando a tranquilidade de Fahad.

Abraço, boa leitura.
Cláudia Brito.

18 de dezembro de 2010

Novo escritor no blog

Atendendo a convites do grande amigo Fahad, eu vou a partir de agora colaborar com alguns textos para o Infinito & Finito. Essa primeira postagem é apenas de apresentação.

Me chamo Sávio, sou caicoense, assim como Fahad sou estudante de Direito, escuto Engenheiros e Los Hermanos. Diferente dele, creio em Deus e na Santa Igreja (hehe)....

Tricolor nato, confesso, praticante e hereditário, desde antes do ventre materno; e jogador de rúgbi nos finais de semana.

Disseram por aí que eu tinha algum talento pra escrever então ele me chamou para colaborar, depois não vá se arrepender....

Em breve eu estarei colocando por aqui alguns contos, crônicas, comentários sobre atualidades, antiguidades e os rumos da catilogência; na esperança de que vocês tenham paciência pra ler e, quem sabe, comentar.

Pois bem, por enquanto é só. "That's all folks!"


Eu como sou metido, vou bagunçar a postagem de Sávio. Dou minhas boas vindas ao amigo. Que já se sentiu em casa, e nem pediu permissão pra entrar. Brincadeiras a parte, como eu te disse meu amigo, a regra aqui é uma só: escrever. Não se preocupe, não me meto nas próximas. Essa aqui é só um bate-papo, então pode.

Abraço. Boa leitura. Fahad.


Ahhh, eu também vou bagunçar a postagem de Sávio!!! hehehe. Sinta-se em casa, rapaz... estou muito feliz por ser a única menina aqui, me dá uma sensação de poder =P Brincadeiras à parte, não leve Fahad muito a sério, eu nunca escrevo e ainda sou membro do blog, claro: nenhum orgulho quanto a isso. Agora sério, acho mesmo que poderá fazer um bom trabalho por aqui, espero encontrar sempre postagens suas... quem sabe apareça uma minha algum dia. Beijão.

Beijão com sabor de boas vindas para Sávio, e com sabor de boa leitura para os demais. Cláudia Patrícia.

Cervejas, Garoa e Uma Violeta

Longos anos se passaram, e vez ou outra ele ainda sentia falta dela. Estranhamente a triteza de sua partida nunca o afligira, a única coisa que lhe infestava era uma saudade indomável. Ele ainda mantia o porta-retratos em sua escrivaninha, sem saber porque. E acabava se distraíndo às vezes olhando para aquele retrato. Mas no fundo, sabia que não precisava olhar aquela fotografia para se distrair, qualquer leve pensamento que o levasse até ela o fazia se distrair.

Naquela noite, sem qualquer razão aparente, não seguiu sua rotina. Ao invés de um tradicional vinho, abriu uma cerveja. E depois outras tantas. Caminhou pelo jardim com a garrafa na mão, sem se incomodar com a leve garoa que as nuvens despejavam com suavidade.

Encontrou, perdida no jardim, uma violeta. Escondida o bastante para ele saber que estava ali desde muito tempo, porque sequer lembrava quando fora a última vez que o jardineiro colocar violetas no jardim. Com cuidado, arrancou-a do chão e a levou para a estufa. Lá procurou um vaso e deparou-se com mais uma lembrança dela. Um vaso quebrado, desde o dia que ela partira.

Fez com que ele lembrasse o porque de sua partida. E pra aquela saudade que o infestava, diria que faria ela se apaixonar por ele todos os dias se isso fosse preciso. Uma lágrima, um sorriso tímido e alegre, uma batida mais forte e mais rápida no coração e um curioso desejo de mais três beijos, foi essa mistura de sensações que sucederam-se após a lembrança.


Abraço. Boa leitura.

17 de dezembro de 2010

Apenas Um Velho Clichê

É Natal, tempo de alegrias e confraternizações. Deixamos um pouco de lado os problemas, reunimos nossas famílias, nossos amigos e comemoramos o tempo do bom velhinho. É, mas o Natal não é diferente de outros tantos clichês. E me perdoem, não que eu não goste de clichês, eu até simpatizo com alguns, mas aquele "Feliz Natal", "Feliz Ano Novo", "Feliz Aniversário", "Tudo de bom pra você", "Muitas felicidades", entre tantos outros, é tão verdadeiro quanto uma manchete no jornal dizendo que a corrupção foi erradicada do Congresso.

E eu falei de corrupção não por coincidência, mas porque essa nossa falsidade diária, essa aparência que mantemos na sociedade, nada mais é do que corrupção também. Diariamente não estamos praticando a roubalheira tradicional que existe nos corredores do poder, mas corrompemos algo, ao meu ver, ainda mais precioso: corrompemos valores.

Deixamos de lado qualquer sentimento de moral, de respeito, e porque não dizer de humanidade. Vivemos e nos tratamos como robôs, autômatos programados para dizer "Bom dia. Como você está? -Eu estou bem. E você?". Isto é ridículo, a sociedade age ridiculamente mas há quem se ache "chique" vivendo assim. É por isso, que mesmo simpatizando com alguns, esses velhos clichês me irritam e eu os evito.

Por isso, para os caríssimos - anônimos ou não - que perdem tempo lendo minhas balbucias, sem o velho clichê de feliz Natal. Mas a gratidão por todos os elogios que recebi ao longo do ano - sinceros ou não - e a garantia de que próximo ano continuarei por aqui, balbuciando bobagens que poucos leem e menos ainda refletem.


Abraço. Boa leitura.

15 de dezembro de 2010

Refrão de Bolero*

Não era tristeza que lhe afligia, mas saudade. As lembranças estavam tão frescas e eram tão doces, que ocasionalmente ele se pegava, feito bobo, sonhando acordado. Já tinham se passado quase duas semanas desde o fim do verão, mas ele não conseguia tirar aquele sorriso, aquele olhar e aqueles beijos de sua lembrança. E de súbito ele lembrava daquele refrão de bolero do Gessinger...

Teus lábios são labirintos, Ana.

Queria mesmo era ligar pra ela, fazer uma proposta irrecusável, mesmo sabendo que ela iria recusar pela n-ésima vez. Cansou, foi até a adega da casa, pegou os melhores vinhos que tinha e embriagou-se enquanto ouvia o blues de Sonny Boy Williamson. Diferente do costume e da cerimônia tradicional, bebeu como se fosse aguardente, ao passo de que sequer podia contar quantas garrafas vazias estavam espalhadas pela casa.

Tombando conseguiu chegar ao jardim, na metade da noite, uma hora perfeita para desabar e dar de cara com uma imensa lua prateada no céu. Fixou o olhar por uns instantes, e logo em seguida podia enxergar, como se olhasse um retrato, o contorno daquele rosto que tanta falta lhe fazia. E ainda tinha a mesma certeza, não estava aflito de tristeza, era saudade.

Adormeceu ali mesmo, ao amanhecer não foram os raios de Sol que o acordaram, mas as cócegas que uma magnífica borboleta colorida fazia parada em seu nariz, desejou agora que alguém pudesse tirar uma fotografia daquela cena inesquecível, mas era em vão. Em uma fração de segundos a borboleta bateu asas e voou. E ele nada podia fazer, como nada podia fazer quando Ana decidiu partir...


Abraço. Boa leitura.


*É, os títulos das canções de Engenheiros sempre me inspiram.

6 de dezembro de 2010

Perfume...

Sentado na cama João reunia as lembranças. Uma após a outra. Desde o dia em que esbarrou em Maria na fila do supermercado, e eles passaram horas e horas conversando. Os versos que ele escreveu e esqueceu de levar no dia em que ela foi acompanhá-lo no aeroporto, mas ele acabou se atrasando tanto que sequer conversaram direito. A longa conversa no dia em que ela lera os versos toscos que ele fez e que antecedeu aquele primeiro beijo, longamente aguardado.

Fitava o branco teto do quarto e não conseguia desviar o pensamento para nada mais. Eram incontáveis os momentos repletos de sentimentos agradáveis, e naquele instante todos suprimidos por um único recuo. Maria lhe pedira um tempo para pensar, mais que isso, colocara em xeque o que sentia por João. Ele entendia, ela precisava daquela certeza, mas ele não suportava tanta agonia que o tomava.

Pior que isso, ele achava que não haveria amanhã. Esse tal tempo, parecia ser definitivo. Estavam se perdendo. Ele sabia que ela tinha um gênio forte, não adiantaria insistir, talvez até piorasse. Estava impotente. E no quarto vazio, com as mãos no rosto, sentia o cheiro do perfume que lhe trazia lembranças e sorrisos, por ora repletos de saudade e vagos de alegria.

Era esse perfume, esse aroma a única presença dela, o único consolo...


Abraço. Boa leitura.

3 de dezembro de 2010

Quem Comanda a Carruagem?

Faltam hoje menos de trinta dias para que Dilma Roussef assuma a Presidência da Ré-pública. Mas as disputas internas entre PT e PMDB azedaram antes da posse. E ainda tem o PSB correndo por fora. A nova presidente vai nomear milhares de auxiliares, o PMDB tem o rótulo histórico de fisiologista e o PSB está crescendo e quer espaços, isso sem falar nos partidos menores.

Mas e o PT, oras, enquanto o PMDB esperneia por cinco ministérios, o PT terá 17 ou 18. Não estou tomando partido de ninguém, mas se o PMDB com toda a fama de fisiologista quer 'apenas' cinco ministérios, o que dizer do PT com mais de 15?

Há quem diga que há possibilidade de ocorrer um racha entre os dois partidos antes da posse, pessoalmente cheguei a corroborar dessa tese, e diga-se de passagem simpatizar com a idéia de que isso deveria acontecer de fato. Mas analisando com calma, é impossível. Lembram do discurso que o Lula usou argumentando que a aliança com o PMDB era necessária para que houvesse a tal da governabilidade?

Pois bem, é em nome da tal governabilidade que Dilma irá ceder, o PT precisa do PMDB para governar e, aliás, o PMDB faz parte literalmente do governo, Temer é presidente do partido e é o vice de Dilma. Partindo desse princípio haverá quem diga que o PMDB mostra ter mais força que o PT. Eu digo que não. Se fosse verdade, seria o fisiológico PMDB que indicaria 15 ministérios, oras.

Agora, o governo de Dilma começa a mostrar uma mudança no quadro político, não é mais o PMDB o mais sedento por cargos. A sede fisiológica, a sede por cargos e pelo poder agora é muito maior vindo do PT, aquele partido que já gritou sozinho, feito louco no Congresso, e que hoje, infelizmente, é quem tem as rédeas do país. Eu, como já disse, sou simpático a tese de que o PMDB, deveria rachar. Mas isso não vai acontecer, o PT vai ceder. Demonstrando fraqueza, e demonstrando que mesmo com as rédeas ainda não é dono da carruagem.


Abraço. Boa leitura.

1 de dezembro de 2010

Elas Por Elas

Há alguns dias eu parei pra escrever sobre a derrota de Fernando Alonso no Mundial de Fórmula 1, o automobilismo - em especial a Fórmula 1 - me fascina, tanto quanto ou talvez mais que o futebol, paixão nacional. Mas o futebol ainda me comove, e muito. E pude ver dois fenômenos acontecerem no Brasil em um curto espaço de tempo, o que de certa forma me faz pensar um pouco.

Brasileiros de todo o país crucificaram a Ferrari, Felipe Massa e Fernando Alonso, pelo jogo de equipe no GP da Alemanha desse ano. Trapaceiros, vigaristas, antidesportistas, verdadeiros vilões, é como foram taxados os membros da equipe - equipe que como falei em outro texto é maior que a própria F1. Mas de repente nos útlimos quinze dias torcedores de todo o Brasil - e não só palmeirenses e são-paulinos - defenderam de forma inequívoca e escancarada que Palmeiras e São Paulo perdessem seus jogos contra o Fluminense, para prejudicar o Corinthians.

Eu também defendi essa posição - mas eu queria o Alonso campeão do mundo de F1 -, não dá pra ver o Corinthians campeão brasileiro. Principalmente depois de toda a papagaiada protaganizada no jogo contra o Cruzeiro. Só que tem uma coisa, quantos dentre os que clamavam pelo "entrega" de Palmeiras e São Paulo não desceram a lenha na Ferrari quando do jogo de equipe, inclusive chamando de marmelada?

Pois é, o brasileiro é mesmo um povo fantástico. Tão fantasticamente cretino que escancaradamente em um curto espaço de tempo apóia situações completamente distintas com um fervor quase religiosamente acéfalo. É o tipo da atitude que mostra que não são só os políticos os corruptos, o povo também é. É intrínseco a condição de brasileiro fazer aquilo que lhe traz mais vantagens. Incrível isso.

Em outras palavras o que se viu foi algo do tipo, marmelada pode se for em meu favor, contra mim jamais. Quer ver só, o que teve de corintiano falando merda esses dias por causa das atuações - bem abaixo da média - de Palmeiras e São Paulo. Mas vejam só, o Corinthians fez o mesmo ano passado. Perde ridiculamente para o Flamengo. Em bom português, ficou elas por elas.

Abraço. Boa leitura.