24 de novembro de 2009

Estranha Sintonia

Acendeu uma flor. Plantou uma vela. Enfeitou com cravos a coroa de espinhos e delicadamente espetou-a em sua cabeça. Ajoelhou-se, mas não rezou. Suava, mas o sangue era o molhado que sentia no rosto. Chorava, mas o gosto no canto da boca era de sangue.

De pés descalços começou a correr nas ruas cheias de cacos de vidro. Não sentia dor alguma, e não sabia porque. Desejava que o vidro lhe cortasse os pés. Voou alto com a força do pensamento, e quando estava bem perto do Sol, simplesmente desejou cair. E caiu.

Caiu de cara no chão, quebrou o maxilar e alguns dentes lhe saltaram a boca. E mesmo assim não estava satisfeito. Queria mais, ansiava pela dor, não podia seguir sem ela.

De repente, uma moça lhe estende a mão. Ele a observa com temor, e enxerga uma beleza que até o faz desconfiar - já diz o ditado, quando a esmola é demais, o santo desconfia. A mão continua estendida, e ele continua fitando-a com o olhar.

A moça se curva e fica de cócoras. E ele estranha, não é comum uma garota ficando de cócoras. Ela tira um lenço, limpa o sangue do seu rosto, lhe remove suavemente a coroa de espinhos. Levanta-se e novamente lhe estende a mão. Ele hesita mais mais uma vez, mas acaba dando-lhe a mão.

E os dois são caminhando, passos curtos e largos, alternadamente. Mas sempre passos em sintonia, às vezes estranhamente sintonizados, mas sempre assim. E saem, os dois por aí. O amor e a compaixão.

Abraço. Boa leitura.

3 comentários:

Anônimo disse...

Lindo!

O amor e a compaixão.

Luna disse...

ai, eu senti a dor.
mas gostei tanto de como acabou.

=)

Karine Ribeiro disse...

As vezes vivemos em meio a dor, e parece que tudo o que queremos é sentir mais dor, pq temos um medo absurdo de sermos felizes.