14 de novembro de 2009

Sem Destino II

Ele acelereva contra o vento, assim como era apaixonado por Janis - apelido carinhosos da sua velha viola -, amava loucamente a velocidade e a adrenalina de Lucy, sua Harley-Davidson '69. Cortava as ruas da cidade e não se preocupava se guardas iriam aparecer para multá-lo, não seria estranho se ele os conhecesse pelo primeiro nome.

Mas nada adiantava, ele não conseguia tirar da cabeça aquele cheiro, aquela voz, aqueles cabelos, aquela pele, aquele beijo. Ele não queria, e mesmo que quisesse, não conseguiria tirar aquela mulher da sua cabeça por nenhuma razão. Foi um encantamento tão estranho, ele talvez nem a amasse, mas qualquer música que ele ouvisse ou tocasse lhe faziam lembrar dela.

Resolveu ir até o barzinho onde a conhecera.

Era do outro lado da cidade, e àquela hora seria mais rápido cortar alguns caminhos, até por uma questão de segurança. Mas ele preferiu ir pelo caminho usual, não teria feito muita diferença. Ele apenas talvez tivesse chegado em tempo de ver o rapaz da viola sendo agredido por um garoto de 17 anos que não sabia o que era Música Popular Brasileira.

Mesmo com a confusão ainda havia uma certa quantidade de pessoas, que acabaria indo embora já que não tinha mais música. Ele entrou e foi cumprimentar o dono do lugar, com quem ele fizera amizade no outro dia. Pediu uma tequila enquanto ouvia o homem narrar-lhe o acontecido. E observou o desânimo no semblante do homem, ao ouvir que iria fechar por não ter mais música.

Tomou mais uma tequila, e viu seu dinheiro ser recusado quando tentou pagá-las. Sorriu para o dono e então voltou para a moto. Frustrado. É fato, esperava encontrá-la por aí. Pouco antes de subir na moto deu uma olhada para Janis, e olhou de volta para o bar. Pensou, e pensou. Pegou sua viola e voltou.

A garoto do som já ia começar a desligar os equipamentos, quando ele assobiou e acenou para que não desligasse ainda. Entrou e perguntou ao dono se podia tocar algumas músicas, o homem ficou surpreso e feliz ao mesmo tempo. E com um sorriso no rosto agradeceu muito. Ele então foi sentar no banquinho, enquanto tirava Janis de sua case.

Alguns olhares espantados com a beleza daquela viola, um desenho de olhos em um fundo azul metálico. E o braço carregava o desenho de uma serpente. Ligou os cabos, viu se ela estava afinadinha, e ensaiou umas notas de um forró daqueles ele achava ridículo, só pra ver se havia chances de alguém ali compreender o que ele ia tocar.

Nas mesas da frente, apenas um olhar de reprovação, de um cara que certamente sabia muito mais que ele sobre música. Lá no fundo alguns rapazes e moças já foram se levantando como quem ia começar a dançar. Alguns risos em outras mesas. O dono ficou meio sem entender. E nenhuma outra manisfestação relevante.

Cumprimentou a todos, não disse como se chamava, apenas apresentou Janis, e disse que ela era a fonte da música, ele era apenas um meio para o fim. Desejou que apreciassem a música e enrolou um pouco mais enquanto terminava o cigarro. Antes de começar a tocar. Terminou o cigarro e então começou a dedilhar um de seus blues preferidos.

E mais uma vez observou as reações, de todos ali, o homem próximo estava muito mais do que surpreso com sua música, o pessoal do fundo estava meio sem entender. Em algumas mesas as pessoas batiam palmas, mesmo parecendo que não sabiam o que tocava. E o dono do bar aparentemente havia voltado ao trabalho.

Parou mais uma vez, pediu uma tequila. E para sua surpresa, o dono do bar já vinha trazendo-lhe uma tequila, além de outra coisa na bandeja. E só quando chegou mais perto ele pode ver o que era, uma gaita. O dono sorriu, e ele bebeu a tequila rapidamente. Pegou a gaita e começou a soprar-lhe sua alma.

Não sabia o que soprava ao certo, era algo novo. Mas sabia o que viria quando começasse a tocar. Guardou a gaita. E começou a dedilhar, dedilhando com mais paixão que em qualquer outro tempo de sua vida. Começou a cantar os versos que compusera mais cedo em sua casa. A paixão começou a contagiar a todos.

E tocou a noite inteira. E ninguém saia de lá. E todos pediam mais uma quando ele terminava uma música. E ele já tinha perdido as contas de quantas tequilas havia tomado. E o dia amanhecia.


Abraço. Boa Leitura.

Um comentário:

Marcelo Mayer disse...

eu diria que foi luc in he sky na motocicleta. parando em qualquer posto de gasolina para uma cerveja