10 de novembro de 2009

Sem Destino

Era o dia seguinte, depois daquela festa maluca, depois daquela noite maluca. Era tempo de voltar a realidade, ônibus, metrô, e mais um tanto de passos até chegar ao que chamava de lar. A velha carola que morava no apartamento vizinho o observou das botas ao cabelo despenteado, diferente do usual desajeitado. E quando entrava no apartamento ela lhe atirou uma série de conselhos morais inaplicáveis, afinal, mal sabia ela como girava sua rotina.

Deitou-se no seu quarto, mas logo sentou na cama e pegou a viola. Dedilhando alguns acordes mal projetados, começou a versar sobre um amor que nunca experimentara, pelo menos não de fato, pelo menos não ainda. Horas e horas depois, quando o dia já tinha virado noite, e a noite transformado-se em madrugada, ele ainda estava lá, dedilhando e versando.

Tocou o telefone. E quase que como um surto ele largou da viola e correu para atender.

O anseio logo se transformou em desânimo, e ele atendeu o telefone quase sem querer. E não pensou muito para dizer que não ia mais sair de casa ao seu amigo que o convidava para alguns goles. Foi de volta para a cama e pegou a viola mais uma vez. Agora nem os versos e nem as melodias eram mais de amor, ele sentia-se sozinho.

Largou da viola, e foi tomar banho. A água meio fria, não lavou-lhe a alma como ele esperou. Enquanto trocava de roupas uma idéia lhe veio, e ele resolveu sair um pouco. Vestiu-se, perfumou-se, desajeitou o cabelo. E saiu. Dessa vez na sua velha motocicleta. Acelerava sem rumo e pensava, pensava incessantemente nela, na carta não respondida, nos olhares distantes, no medo de ir até ela.

Parou em um posto de gasolina, precisava comprar cigarros, e aproveitou para dar uns goles numa cerveja gelada, esperando que o seco de sua garganta fosse cortado, de nada adiantou, ainda engolia seco quando pensava nela. Acendeu um cigarro, e encostou na moto. Enquanto fumava se perguntava porque a noite passara tão rápido naquele dia, porque o tempo não se arrastara enquanto ele esteve com ela, e ficava matutando isso.

Cansou. Jogou o cigarro. Subiu na moto. E acelerou. Não sabia ao certo o que ia fazer, mas partiu.


Abraço. Boa leitura.

2 comentários:

Marcelo Mayer disse...

esse cara se chama josé, como drummont

@febrandao disse...

Lindo texto.
Foi como s você tivesse escrevendo um amigo meu, sabia? rs acho que vou passar o teu link para ler isso aqui! :) Acho que de dias assim e de sentimentos acumulados que nascem as mais belas canções de amor.

Adorei.

"começou a versar sobre um amor que nunca experimentara, pelo menos não de fato, pelo menos não ainda. " E essa parte é incrível. Queria ter escrito isso.

Beijos, meus.