Dedilhando em finas cordas, sorriu ao vê-las cortarem seus dedos, que suavemente começaram a sangrar. Não conseguia mais prender a respiração e aquele ar começava a lhe sufocar. As luzes, de tão intensas, delicadamente foram tirando a visão de seus olhos. Ao falar, por um segundo, suas cordas vocais produziram uma voz tão estridente antes de romperem-se que seus ouvidos nada mais podiam escutar.
Fora-se o tato. O olfato. A visão. A fala. E a audição.
Restou-lhe um coração batendo lentamente. Restou-lhe um cérebro cheio de devaneios, os mais loucos. Outra vez o sorriso despido de qualquer malícia preencheu seu rosto, agora tomado de uma agonia incompreensível.
As forças foram-se indo, deixou a velha viola cair. O último elo com seus medos caiu no chão e partiu-se em pedaços. Mas não sabia disso, não teria como saber disso de forma alguma.
Cada segundo, que mais parecia uma eternidade, foi passando. E em instantes, quando já não lhe restavam mais forças, caiu. Lhe chegara o abraço da morte. Sem saber o que de fato lhe tirara a vida, que já não tinha.
Ná lápide estava escrito: "Jaz aqui quem tocou, respirou, viu, falou e ouviu à beira da morte, e tomado por todas as agonias da vida, morreu sorrindo da própria desventura".
Abraço. Boa leitura.
Revisão: Cláudia Brito.
É um prazer colocar meu nome na revisão dessa postagem, ficou linda.
2 comentários:
a vida se tornou um compasso composto
A morte muitas vezes não é necessariamente o repouso de um corpo, e sim a morte de um sonho. Quando perdemos os nossos sonhos, somos mortos que respiram.
Postar um comentário