30 de novembro de 2009

Muito Além do Cidadão Kane

Alguém por aí já assistiu a um documentário, não tão famoso, que data de 1993 entitulado "Beyond Citizen Kane", em alusão ao filme de Orson Welles, Cidadão Kane. Em miúdos é um relato do quão podre e suja é a conduta da Rede Globo de Televisão. Recomendo a todos que puderem assistirem, aqui.

E sabem porque tô falando isso? Por causa de uma paixão nacional. O futebol. Não, não é choro de torcedor porque o Flamengo vai ser campeão brasileiro, talvez eles nem tenham culpa. Mas que ninguém me apareça pra dizer que a Globo - que outrora fez campanha para "salvar" o Fla da degola que o rebaixaria à Segunda Divisão - não tem dedo na conquista desse ano.

Vamos parar um pouco, o Flamengo chegou a estar 15 pontos atrás do então líder Palmeiras, há umas 13 rodadas do fim do campeonato. Não lembro bem. Atlético-MG, Internacional, Palmeiras, São Paulo, e inclusive o Góias, foram aplamente prejudicados por erros grosseiros de arbitragem durante as últimas rodadas, sem contar com uma rigidez nunca antes vista nos julgamentos do STJD. Tudo bem foi coincidência.

Mas ouvir o Kléber Machado gritar o gol do Flamengo hoje como se fosse gol da Seleção em final de Copa do Mundo, é demais para mim. Mesmo que minha "teoria consipiratória" esteja errada, um cara desses num merece ser narrador de futebol. Tá certo que a Globo é carioca, e Band paulista. Mas vamos ser imparciais um pouco.

Não peço nada demais - será mesmo que não? -, só queria poder ver TV sem ter que me preocupar em ter que checar outras opiniões depois pra ver se tava tudo certo, isso porque não há jornalismo em qualquer escala no Brasil, senão uma mídia de interesses que vira-casaca ao simples brilho de uma moeda.

Prefiro ver o SESC TV ou o Tom Brasil no domingo, ou melhor ainda, passar a semana baixando um filme na minha conexão discada - sejam contra a pirataria, não apoiem o roubo de barcos - e poder vê-lo no domingo, não há nada mais prazeroso.

Abraço. Boa leitura.

27 de novembro de 2009

Solidão a dois(?)

Que esperar das pessoas é, de longe, a melhor forma de decepcionar-se com elas, não há o que discutir. Mas daí a não esperar nada de ninguém, é um pessimismo que nem eu consigo sustentar. Prefiro guardar um pouco de esperança, lá no fundo.

Mas não esperar nada de ninguém - se é que isso é possível -, pode nos mostrar uma outra coisa. Ficar sozinho não é uma condição, estar só não é uma condição, não é algo que nos é imposto. É muito mais que isso, é uma opção, que qualquer um pode fazer em qualquer tempo. Afinal, não esperar nada de ninguém, nada mais é do que escolher ficar sozinho, mesmo rodeado de pessoas.

A grande questão é: será que isso vale a pena? E se vale, até que ponto?

Quem nunca quis distanciar-se do mundo, por qualquer motivo que seja, ir para uma ilha deserta, ou pra algum lugar onde ninguém possa conhecê-lo? A maioria esmagadora das pessoas que já se decepcionaram tiveram essa vontade. A frase clássica é "Eu queria sumir".

Pois eu digo, não suma. Não sumam. Porque em algum momento, por alguma razão, sua ausência será sentida. E pode até ser que não seja pela razão que você deseja, mas sentirão sua falta.

O bêbado que sempre senta na primeira mesa, sente falta daquela linda cantora que o enfeitiçava com a voz e o encantava com o sorriso. O cara que sempre chamava a menina de óculos pra ir ao cinema, sente falta do cinema, mas muito mais da companhia. O chato um pouco atrapalhado que não sabia dançar, sente falta da mulher que ele mal conhecia quando ela disse que estariam juntos para sempre. O escritor falido sente falte daquela jovem que ele prestara atenção uma ou duas vezes pessoalmente, mas que sempre o surpreendia nas salas de bate-papo durante a madrugada.

E aquele garoto que queria mudar o mundo, e agora assiste a tudo em cima do muro, sente falta de sua vontade de mudar o mundo, principalmente porque não sabe mais o que é o mundo.

Abraço. Boa leitura.

24 de novembro de 2009

Estranha Sintonia

Acendeu uma flor. Plantou uma vela. Enfeitou com cravos a coroa de espinhos e delicadamente espetou-a em sua cabeça. Ajoelhou-se, mas não rezou. Suava, mas o sangue era o molhado que sentia no rosto. Chorava, mas o gosto no canto da boca era de sangue.

De pés descalços começou a correr nas ruas cheias de cacos de vidro. Não sentia dor alguma, e não sabia porque. Desejava que o vidro lhe cortasse os pés. Voou alto com a força do pensamento, e quando estava bem perto do Sol, simplesmente desejou cair. E caiu.

Caiu de cara no chão, quebrou o maxilar e alguns dentes lhe saltaram a boca. E mesmo assim não estava satisfeito. Queria mais, ansiava pela dor, não podia seguir sem ela.

De repente, uma moça lhe estende a mão. Ele a observa com temor, e enxerga uma beleza que até o faz desconfiar - já diz o ditado, quando a esmola é demais, o santo desconfia. A mão continua estendida, e ele continua fitando-a com o olhar.

A moça se curva e fica de cócoras. E ele estranha, não é comum uma garota ficando de cócoras. Ela tira um lenço, limpa o sangue do seu rosto, lhe remove suavemente a coroa de espinhos. Levanta-se e novamente lhe estende a mão. Ele hesita mais mais uma vez, mas acaba dando-lhe a mão.

E os dois são caminhando, passos curtos e largos, alternadamente. Mas sempre passos em sintonia, às vezes estranhamente sintonizados, mas sempre assim. E saem, os dois por aí. O amor e a compaixão.

Abraço. Boa leitura.

20 de novembro de 2009

Mas Que Droga!!

Desculpem a ausência. Sentida, ou não. Estive recluso em meus pensamentos esses dias. Precisando de alguma coisa que não consegui descobrir o que era. Resultado: ainda continuo puto. Estou cansado da mediocridade alheia, e da minha própria deveras vezes.

Cansei de ouvir ofensas contra minha inteligência, cansei de ouvir condenações sobre crimes que não cometi, cansei de viajar todos os dias. Queria ganhar na loteria. Nunca mais trabalhar, nunca mais estudar. Viajar, ler, escrever, fotografar, e outras coisas que me dão prazer - é senhores, o sexo se encaixa nessa categoria.

Cansei de ver o Jornal Nacional - e o Fantástico -, estou cansado de fazer como todo mundo. Mas o que eu posso fazer se eu não posso nada?

Exceto nada, não consigo praticar a maioria dos meus direitos. E enquanto eu tenho que dar um duro filho da mãe para ganhar alguma grana, lá no distrito alguém dá uma canetada ilegal e ganha alguns dígitos - ou muitos dígitos. Esse é o retrato do nosso país. Aristocratas decadentes que hoje vivem sustentados por uma viúva - negra não, verde e amarela.

É triste.

Abraço. Boa leitura.

16 de novembro de 2009

Microconto #5 e #6

Pré-grávida

Ela e o namorado sentaram sérios, na frente dos pais dela.
- Pai, mãe. É algo sério.
O pai logo fez uma cara de mal, esperando pelo pior. E a mãe timidamente sorriu.
- Não, eu não estou grávida. Só que nós estamos sem dinheiro pra comprar camisinha. Então a gravidez pode acontecer a qualquer momento.

Caso

Saíram pra jantar depois do trabalho. Conversaram bastante. Foram pra um motel. Primeiro fizeram amor. Depois treparam. No dia seguinte, ele chega ao trabalho e sorri pra secretária:
- Olá, Priscila! Como foi a noite?
- Eu me demito, canalha!


Abraço. Boa Leitura.

15 de novembro de 2009

Fim de Domingo

Fim de domingo, nada para fazer. Cansado de ver TV ou sair por aí. O futebol tá uma droga, e eu tô puto mesmo com o meu time. Me resta escrever alguma palavra trocada, ou algum trocadilho em palavras.

Estou sentindo falta de coisas que não vivi, de pessoas que ainda não conheci, de músicas que nunca ouvi, de filmes inéditos que me tirem o fôlego. A rotina me sufoca. Enquanto isso, na parte de baixo de um viaduto qualquer, em qualquer cidade grande, uma criança chora com fome.

É sou mesmo um egoísta. Mas e quem não é?

A verdade, a grande verdade, é que ninguém se importa com o próximo. Nos preocupamos com tudo que nos cerca, mas só quando esse "tudo" nos afeta. Não importa a criança desnutrida na África Setentrional, não importa os adolescentes viciados nos becos de São Paulo, não importa a ficha criminal daquele Senador da Paraíba, nem importam as condenações daquele Ministro do STF. Isso não faz diferença na minha vida, na nossa vida.

Ledo engano. Faz sim. Mas não nos importamos. E eu não me importo mesmo, pelo menos tenho um mínimo de bom senso em não fingir que me importo. E não me importo, não por egoísmo, ou por incompetência intelectual, mas não me importo porque no fundo eu me importo mas me sinto impotente para fazer qualquer coisa.

Eu poderia ter saído hoje, poderia ter tomado uns copos com alguns amigos enquanto via o futebol. Mas eu saí, caminhei, fumei alguns cigarros e ouvi algumas pessoas de mais idade falando sobre muitas coisas. Que belo programa de domingo. Parece até piada, e quem sabe seja mesmo uma piada.

Abraço. Boa leitura.

14 de novembro de 2009

Sem Destino II

Ele acelereva contra o vento, assim como era apaixonado por Janis - apelido carinhosos da sua velha viola -, amava loucamente a velocidade e a adrenalina de Lucy, sua Harley-Davidson '69. Cortava as ruas da cidade e não se preocupava se guardas iriam aparecer para multá-lo, não seria estranho se ele os conhecesse pelo primeiro nome.

Mas nada adiantava, ele não conseguia tirar da cabeça aquele cheiro, aquela voz, aqueles cabelos, aquela pele, aquele beijo. Ele não queria, e mesmo que quisesse, não conseguiria tirar aquela mulher da sua cabeça por nenhuma razão. Foi um encantamento tão estranho, ele talvez nem a amasse, mas qualquer música que ele ouvisse ou tocasse lhe faziam lembrar dela.

Resolveu ir até o barzinho onde a conhecera.

Era do outro lado da cidade, e àquela hora seria mais rápido cortar alguns caminhos, até por uma questão de segurança. Mas ele preferiu ir pelo caminho usual, não teria feito muita diferença. Ele apenas talvez tivesse chegado em tempo de ver o rapaz da viola sendo agredido por um garoto de 17 anos que não sabia o que era Música Popular Brasileira.

Mesmo com a confusão ainda havia uma certa quantidade de pessoas, que acabaria indo embora já que não tinha mais música. Ele entrou e foi cumprimentar o dono do lugar, com quem ele fizera amizade no outro dia. Pediu uma tequila enquanto ouvia o homem narrar-lhe o acontecido. E observou o desânimo no semblante do homem, ao ouvir que iria fechar por não ter mais música.

Tomou mais uma tequila, e viu seu dinheiro ser recusado quando tentou pagá-las. Sorriu para o dono e então voltou para a moto. Frustrado. É fato, esperava encontrá-la por aí. Pouco antes de subir na moto deu uma olhada para Janis, e olhou de volta para o bar. Pensou, e pensou. Pegou sua viola e voltou.

A garoto do som já ia começar a desligar os equipamentos, quando ele assobiou e acenou para que não desligasse ainda. Entrou e perguntou ao dono se podia tocar algumas músicas, o homem ficou surpreso e feliz ao mesmo tempo. E com um sorriso no rosto agradeceu muito. Ele então foi sentar no banquinho, enquanto tirava Janis de sua case.

Alguns olhares espantados com a beleza daquela viola, um desenho de olhos em um fundo azul metálico. E o braço carregava o desenho de uma serpente. Ligou os cabos, viu se ela estava afinadinha, e ensaiou umas notas de um forró daqueles ele achava ridículo, só pra ver se havia chances de alguém ali compreender o que ele ia tocar.

Nas mesas da frente, apenas um olhar de reprovação, de um cara que certamente sabia muito mais que ele sobre música. Lá no fundo alguns rapazes e moças já foram se levantando como quem ia começar a dançar. Alguns risos em outras mesas. O dono ficou meio sem entender. E nenhuma outra manisfestação relevante.

Cumprimentou a todos, não disse como se chamava, apenas apresentou Janis, e disse que ela era a fonte da música, ele era apenas um meio para o fim. Desejou que apreciassem a música e enrolou um pouco mais enquanto terminava o cigarro. Antes de começar a tocar. Terminou o cigarro e então começou a dedilhar um de seus blues preferidos.

E mais uma vez observou as reações, de todos ali, o homem próximo estava muito mais do que surpreso com sua música, o pessoal do fundo estava meio sem entender. Em algumas mesas as pessoas batiam palmas, mesmo parecendo que não sabiam o que tocava. E o dono do bar aparentemente havia voltado ao trabalho.

Parou mais uma vez, pediu uma tequila. E para sua surpresa, o dono do bar já vinha trazendo-lhe uma tequila, além de outra coisa na bandeja. E só quando chegou mais perto ele pode ver o que era, uma gaita. O dono sorriu, e ele bebeu a tequila rapidamente. Pegou a gaita e começou a soprar-lhe sua alma.

Não sabia o que soprava ao certo, era algo novo. Mas sabia o que viria quando começasse a tocar. Guardou a gaita. E começou a dedilhar, dedilhando com mais paixão que em qualquer outro tempo de sua vida. Começou a cantar os versos que compusera mais cedo em sua casa. A paixão começou a contagiar a todos.

E tocou a noite inteira. E ninguém saia de lá. E todos pediam mais uma quando ele terminava uma música. E ele já tinha perdido as contas de quantas tequilas havia tomado. E o dia amanhecia.


Abraço. Boa Leitura.

12 de novembro de 2009

A Minha Lira

Em vinte e poucos anos, eu na minha humilde passagem por este planeta pequeno, já vivi tanta coisa. Principalmente, já errei, persisti no erro, me ferrei, e ainda continuei errando, e não sei até quando vou insistir com algumas coisas.

A lira dos meus vinte anos não tem rima, não fala de amor, de saudade, de alegria. Ela só tem partes tristes, porque mesmo as partes razoáveis se tornaram tristes no fim. Só posso salvar de tudo isso, alguns poucos amigos. E tenho me contentado com isso.

É ridículo ver o pensamento idiota de algumas pessoas, pensam tão pequeno, pensam tão absurdamente frustrados. E me dói o fato de que talvez eles é quem estejam certos. Certos em não se incomodar, certos em acharem que tudo está indo bem, que se o mundo está uma droga, não é da conta deles.

Enquanto muitos não se importam, ultimamente tenho sentido falta de coisas tão simples. Um abraço apertado. Um sorriso. Alguém pra conversar. Cheguei a pensar que estava deprimido, mas não se trata de depressão, é um colapso total, de crenças, princípios, sonhos.

As coisas foram passando, os amigos estão longe ou ocupados demais, os amores não olham mais pra trás. E eu continuo sentado na beira do caminho sem saber muito o que fazer. E aquela música que não me sai da cabeça, parece tanto comigo, mesmo sem falar dos meus erros.

Mas e quem sabe nos próximos vinte e poucos anos da minha vida as coisas não mudem um pouco. Sentar e esperar.

Abraço. Boa leitura.

11 de novembro de 2009

Microconto #3 e #4

Dança da Alma

Ele a chamou para dançar, mesmo sem saber dançar. E tropeçadamente eles dançaram, sem compasso e sem ritmo. Mas suas almas pareciam em perfeita sintonia. E quando se deu conta, dançavam em outro ritmo, outra música, o ritmo da alma, a canção da paixão.


Morte Súbita

Sentou-se na cafeteria. Pediu um café. Deu alguns tragos no cigarro enquanto esperava. Bebeu o café. Parou pensativamente, deixou o cigarro no cinzeiro e algumas moedas no balcão. Ao atravessar a rua foi atropelado por um ônibus.


Abraço. Boa leitura.

10 de novembro de 2009

Poesia de Irmãos III

Poesia de Irmãos III

E então irmã, poetisamos?
Transformando em poesias
Nossos sonhos e fantasias
E o amor que desejamos

Creio que tenho o amor
só é preciso regar
pra nao deixar essa flor
um dia vir a secar

Então siga em frente
Porque não é todo dia
De chuva ou de calmaria
Que ele tá na porta da gente

Isso sei, e agora
Deixo o tempo agir
Pra mágoa ir embora
E o amor voltar a sorrir

Assim logo espero
Ver seu sorriso sincero
Cheio de canto e poesia
Me trazendo grande alegria

Agradeço o desejo
E recebo de peito aberto
Te mando um carinhoso beijo
Como se fosse de perto

Te mando meu forte abraço
Que atravesse todo o espaço
Passando estrelas e cometas
Mil sóis, dez mil planetas
E te traga um presente
Essa amizade da gente
Esculpida com paixão
Numa tal constelação


Fahad Mohammed & Natália Louise


Abraço. Boa leitura.


Veja também:

Poesia de Irmãos

Poesia de Irmãos II

Sem Destino

Era o dia seguinte, depois daquela festa maluca, depois daquela noite maluca. Era tempo de voltar a realidade, ônibus, metrô, e mais um tanto de passos até chegar ao que chamava de lar. A velha carola que morava no apartamento vizinho o observou das botas ao cabelo despenteado, diferente do usual desajeitado. E quando entrava no apartamento ela lhe atirou uma série de conselhos morais inaplicáveis, afinal, mal sabia ela como girava sua rotina.

Deitou-se no seu quarto, mas logo sentou na cama e pegou a viola. Dedilhando alguns acordes mal projetados, começou a versar sobre um amor que nunca experimentara, pelo menos não de fato, pelo menos não ainda. Horas e horas depois, quando o dia já tinha virado noite, e a noite transformado-se em madrugada, ele ainda estava lá, dedilhando e versando.

Tocou o telefone. E quase que como um surto ele largou da viola e correu para atender.

O anseio logo se transformou em desânimo, e ele atendeu o telefone quase sem querer. E não pensou muito para dizer que não ia mais sair de casa ao seu amigo que o convidava para alguns goles. Foi de volta para a cama e pegou a viola mais uma vez. Agora nem os versos e nem as melodias eram mais de amor, ele sentia-se sozinho.

Largou da viola, e foi tomar banho. A água meio fria, não lavou-lhe a alma como ele esperou. Enquanto trocava de roupas uma idéia lhe veio, e ele resolveu sair um pouco. Vestiu-se, perfumou-se, desajeitou o cabelo. E saiu. Dessa vez na sua velha motocicleta. Acelerava sem rumo e pensava, pensava incessantemente nela, na carta não respondida, nos olhares distantes, no medo de ir até ela.

Parou em um posto de gasolina, precisava comprar cigarros, e aproveitou para dar uns goles numa cerveja gelada, esperando que o seco de sua garganta fosse cortado, de nada adiantou, ainda engolia seco quando pensava nela. Acendeu um cigarro, e encostou na moto. Enquanto fumava se perguntava porque a noite passara tão rápido naquele dia, porque o tempo não se arrastara enquanto ele esteve com ela, e ficava matutando isso.

Cansou. Jogou o cigarro. Subiu na moto. E acelerou. Não sabia ao certo o que ia fazer, mas partiu.


Abraço. Boa leitura.

9 de novembro de 2009

Lembranças Perdidas

Uma vez na vida eu queria poder não ter certas lembranças ao fazer certas coisas. Queria poder olhar pro céu, ver aquelas duas estrelas, e não lembrar. Olhar pra Lua, ver aquele brilho, e não lembrar.

Mas as lembranças, de uma maneira ou de outra, são lembranças e por isso permanecem. Outrora eu disse que é preciso ir pra poder permanecer, e isso me veio à lembrança agora.

E é isso, as lembranças, permanecem, porque se foram, partiram para poder permanecer.

Mas não as nego. Por mais que algumas me incomodem, eu não nego as minhas lembranças. E vou levando-as comigo, e algumas sempre vão me incomodar, outras sempre vão me alegrar. E assim segue a vida, como um barco à deriva.

Abraço. Boa leitura.

7 de novembro de 2009

O Abraço da Morte

Dedilhando em finas cordas, sorriu ao vê-las cortarem seus dedos, que suavemente começaram a sangrar. Não conseguia mais prender a respiração e aquele ar começava a lhe sufocar. As luzes, de tão intensas, delicadamente foram tirando a visão de seus olhos. Ao falar, por um segundo, suas cordas vocais produziram uma voz tão estridente antes de romperem-se que seus ouvidos nada mais podiam escutar.

Fora-se o tato. O olfato. A visão. A fala. E a audição.

Restou-lhe um coração batendo lentamente. Restou-lhe um cérebro cheio de devaneios, os mais loucos. Outra vez o sorriso despido de qualquer malícia preencheu seu rosto, agora tomado de uma agonia incompreensível.

As forças foram-se indo, deixou a velha viola cair. O último elo com seus medos caiu no chão e partiu-se em pedaços. Mas não sabia disso, não teria como saber disso de forma alguma.

Cada segundo, que mais parecia uma eternidade, foi passando. E em instantes, quando já não lhe restavam mais forças, caiu. Lhe chegara o abraço da morte. Sem saber o que de fato lhe tirara a vida, que já não tinha.

Ná lápide estava escrito: "Jaz aqui quem tocou, respirou, viu, falou e ouviu à beira da morte, e tomado por todas as agonias da vida, morreu sorrindo da própria desventura".


Abraço. Boa leitura.

Revisão: Cláudia Brito.
É um prazer colocar meu nome na revisão dessa postagem, ficou linda.

6 de novembro de 2009

Brincar de Amor

Caríssimos amigos, prezadas ex-namoradas, eventuais futuras namoradas - que acho que serão ainda menos eventuais depois de lerem isso. Esse texto, é o que eu chamo de personificação de um pensamento tronxo, porém completamente indiscreto e demasiado cretino.

Depois de duas semanas trocando alguns beijos e muitas palavras de carinho, de repente: "Eu te amo". Mentira, mentira cretina!

Alguns meses dividindo a mesma sala de aula e uns três porres depois escolhemos aleatoriamente um colega de faculdade, e então: "Eu te amo, você é o meu melhor amigo". Mentira, mentira cretina!

"Ó Priscila, estou apaixonado por você, me dá uma chance", o ridículo pensamento que deseja uma trepada, e nada mais. Ou seja, mentira, mentira cretina!

Porque banaliza-se tanto e de forma tão medíocre os sentimentos?

A banalização do amor é algo doentio, há quem tenha tantos amores quanto garotas que beijou, há quem tenha menos, e há quem tenha mais. Todos de mentira, porque o verdadeiro sentimento de amor, é algo tão complexo que talvez nenhum homem seja capaz de descrever, e muito menos de sentir, de fato.

É triste para mim, um romântico incurável, falar isso que estou falando. Todas essas constatações destroem boa parte da minha crença no amor, principalmente porque as pessoas o mudam de lugar muito rapidamente.

Mas eu continuo a acreditar no amor. Continuo a pensar que no fim o amor prevalece. E sonharei com isso a vida inteira se for necessário, e digo isso porque enquanto não bater em minha porta o amor, apenas me restará sonhar com ele, e em pensamento ter o amor em meu leito dia após dia.

"Não fale de amor, não diga bobagem, não prometa o que não vai cumprir".


Abraço. Boa leitura.


P.S.: Eu tenho um melhor amigo, mas ele nem sabe disso talvez. Nunca me importei em dizer. Porque o conheço o bastante para saber que dizer ou não, é indiferente.

P.S.S.: Às minhas irmãs, as amo sim, e de verdade. Por isso que são minhas irmãs. E nunca se esqueçam disso.

P.S.S.S.: E antes que me atirem aos leões, e me chamem de hipócrita, não nego que já banalizei o amor, por mais de uma vez, mas a gente aprende, a vida é uma escola.

Microconto #1 e #2

Ópera Muda

Fechou a boca. Bebeu o vinho. E em seguida cantou silenciosamente. No final todos taparam os ouvidos e aplaudiram.


Blues da Fumaça

Pegou a viola. Acendeu um cigarro. Endireitou o microfone. Começou a cantar um blues estranho. Todos começaram a acender seus cigarros. E de repente só via-se a fumaça.

5 de novembro de 2009

O Louco

O louco é uma personalidade que cada um carrega dentro de si, é uma possibilidade de extrapolar os padrões da sociedade e da "moralidade social" que se preocupa muito mais com o "bem estar social", do que com a moral em suma. Não sou um moralista, não mesmo, não ostento nenhum vestígio de moralidade, pelo menos não dessa moralidade que a sociedade prega.

"A moral não tem importância e os valores morais não têm qualquer validade, só são úteis ou inúteis consoante a situação", falou Nietzsche.

Tenho meus princípios, e eles valem para mim, e somente para mim. Acredito em sua essência, e não condeno os outros tomando por base os meus princípios, porque ninguém os conhece. Mas também não posso absolvê-los de acordo com os princípios sociais de qualquer espécie que eu me recuso a compactuar. De forma que simplesmente não os julgo, não cabe a mim.

E não confundam criticar - o que por vezes faço aqui, nesse canto que é meu - com condenar. Condenar é pejorativo.

Mas voltando ao louco, eu queria ser louco, queria poder sentir prazer ao receber um choque anafilático, queria poder sentir essa reação do nosso corpo constantemente. Queria provar do temeroso sabor dos venenos mais letais que o homem conheça, ou até mesmo desconheça.

Me acham louco? Como podem julgar alguém louco sem o conhecer intimamente?

Parafraseando Nietzsche, é como ver pessoas dançando ao longe e chamá-las de loucas, mesmo sem podermos ouvir a música.

Eu não sei se sou louco, não sei se meus devaneios são loucuras, se minhas aspirações são loucuras, se meus desejos mais íntimos são loucuras. Não sei se minha crença no amor é válida. Mas encerro outra vez com Nietzsche: "Há sempre alguma loucura no amor. Mas há sempre um pouco de razão na loucura."


Abraço. Boa leitura.

4 de novembro de 2009

O Fantástico Mundo dos Sonhos

Agora realmente um mundo estranho, trocava nomes, rostos, gostos. Nada fazia muito sentido. Era tudo tão diferente, e dessa vez a insanidade imperava.

Era uma imensa arena, completamente verde. De tão verde que era chegava a ser brilhante. Veio um cocheiro trazendo cavalos e nos convidando a cavalgar. E com algum reluto, resolvemos aceitar.

Começamos a correr pela arena verde, de repente saímos por um portão, e os belos cavalos se transformaram em unicórnios e pégasos. E as mais diversas criaturas começaram a nos acompanhar.

Centauros, elfos, anões, gnomos, duendes, fadas. Era como se fossemos uma só força em movimento. E tamanha a alegria que nós carregávamos, começaram a nos acompanhar até as flores, libertando suas pétalas que pareciam uma nuvem soprada pelo vento.

E enquanto íamos correndo, eu sentia ir mais rápido, a criatura que me levava parecia acelerar, e olhando pra trás já via distante todos aqueles seres fantásticos.

O despertador tocou, e eu acordei. Que pena.

Abraço. Boa leitura.


P.S.: E isso foi mesmo um sonho, aconteceu de verdade, no sonho.

Poesia de Irmãos II

Poesia de Irmãos II

Há tantas milhas irmã minha
Está você e seu encanto
Que afaga o meu pranto
E ao meu lado caminha

Tão distante irmão meu
Está você e seu talento
Brindando o amor que nasceu
Sem deixar ressentimento

Em qualquer lugar estão amores
No campo são como as flores
Nos mares como os golfinhos
E no céu como os passarinhos

Assim o amor não nasce então
Floresce, saltita e voa
E quando passar a garoa
Repousará num coração


Fahad Mohammed & Natália Louise


Abraço. Boa leitura.


P.S.:E ela que disse que ia colocar no blog dela também, ainda estou esperando.

3 de novembro de 2009

Aquarela

Aquarela

Eu podia ter ficado
Vendo a novela
E sem conhecer ela

Eu podia ter calado
Quando sua voz bela
Me pareceu tagarela

Mas resolvi seguir
Responder e inquirir

E mesmo sem provocar
Muito menos insinuar
(Nem eu e nem ela)
Pintamos nossa aquarela

Mas e no fim então?
Formamos um belo par?
Alguma coisa pra cantar
Um amor ou uma canção


Abraço. Boa leitura.

Crime e Castigo

E a vontade de escrever hoje foi muito grande, mas ao mesmo tempo foi grande a vontade de sumir, de ir embora pra algum lugar no meio do nada, de poder sentar, olhar pro céu e entender um pouco de almas, de tentações e, principalmente, de pessoas importantes que por um motivo ou outro brincam conosco, ou nos julgam, ou pior, nos condenam sem direito de defesa.

A culpa, por mais que sejamos inocentes, é dolorosa.

Eu que não tenho que provar nada pra ninguém. Eu sou homem, a minha consciência, por mais que as vezes se adense, é a prova viva de qualquer julgamento que me façam. Não sou nenhum santo, mas não queira me vestir como um demônio, não queira me vestir como o pior dos homens, porque eu não sou.

A justiça, seja ela qual for, tarda, mas não falha. É assim que diz o ditado.

Eu vou dormir. Vou tentar. Os fantasmas dos crimes que não cometi me assombram, pois que venham me assombrar aos montes, que venham todas as legiões de fantasmas. E que sejam capazes de me trazer todo o terror que possam carregar em seus espectros.

Mas venham sabendo que aqui vive um gigante! Um gigante de idéias, um gigante de coragem, um gigante com alma à prova de balas! E que um dia será o contrário, será o gigante que irá caçá-los, que irá vasculhar em cada olhar de reprovação, em cada palavra de condenação, em cada gesto de desalento. Caçar a verdade.

E repito, não sou santo, não sou o melhor dos homens. Mas não vou admitir que me coloquem as vestes de um demônio, que condenem por crimes que eu não cometi. Pagarei, sem dúvida, pelos meus erros, mas não posso admitir que me condenem pelo que não fiz.

Desculpem o desabafo, mas precisava falar algo, precisava descarregar, e nada melhor que descarregar em palavras, afinal, elas não me condenarão nunca.

Abraço. Boa leitura.

2 de novembro de 2009

No Meio de Tudo Você

No meio de tudo, no meio do nada, tanta gente ao seu redor que ele mais se sentia sozinho. As pessoas se cruzavam e nem se olhavam direito. As vozes, os sussurros, todos os sons, eram tão altos que não se podia ouvir.

Foi então que lá bem longe enxergou algo diferente, especial. E de repente ele podia ouvir algo parecido com uma voz amiga, um alento. Podia observar algo que apesar de tudo, o fitava mesmo que fosse apenas em essência.

Era uma rainha, ou pelo menos deveria ter sido. A mais bela escultura que jamais vira, era mais viva que qualquer das pessoas daquele lugar estranho. Ele a rodeou, a observou, feito louco chegou até mesmo a conversar com ela.

E então, em um surto da mais pura loucura, ele a beijou. E a rainha era como fogo, vermelha! E ela usava duas esmeraldas preciosas! E o gosto era de mel de abelha! E a rima se vestia de prosa!

E o fogo o queimou, o brilho das esmeraldas foi se indo, o gosto de mel, esse ficou, e ele que queria pensar uma rima, acabou escrevendo uma prosa. Embriagado pela loucura, foi deitando devagar e aos poucos despertando.

Ao abrir os olhos, olhou pela janela e vendo o muro da casa percebeu que estava no seu velho quarto. Mais um sonho estranho, sem explicação, daqueles que só ele podia entender. E a rainha, por onde andava? Pensava?

Abraço. Boa leitura.


P.S.: No título menção a uma música dos Engenheiros do Hawaii, tava com saudades de lembrá-los por aqui.

1 de novembro de 2009

Velhos Hábitos

Velhos hábitos são como respirar, involuntariamente necessários. Mas como saber se nossos velhos hábitos estão velhos realmente? Como saber se já são involuntariamente necessários?

O dia estava amanhecendo e ele continuava com os mesmos velhos hábitos de sempre, falava sozinho, pensava em voz alta, levava a mão ao bolso e apanhava um cigarro, caminhava sem saber exatamente aonde seus passos o estavam levando, e continuava sempre pensando no que tinha acontecido na última noite. Mas dessa vez tinha sido uma surpresa boa.

Como falei há alguns dias, eu estava tentando parar de fumar, tentando atender um pedido especial, mas acho que queimar o cigarro e ver a fumaça subir se tornou um velho hábito, como pensar, respirar. Então, 11 dias e 23 horas depois eu resolvi desistir de parar. Velhos hábitos devem nos acompanhar, afinal são eles quem definem quem somos de verdade.

O cara de barba, dentes amarelos do cigarro, voz rouca das gritarias, usando um óculos aos pedaçoes e completamente embaçado, alguém que as pessoas costumavam contar muitas histórias, algumas eram mitos, outras nem tanto. E de repente, um olhar congelante, um sorriso ardente, e um beijo.

Estou vendo o futebol enquanto escrevo, e o meu time acaba de empatar, então, me permitam acabar antes do que gostaria, mas o futebol, as corridas de automóvel, são velhos hábitos de todos os homens.

Ele se foi, ela se foi. Por enquanto? Ou portanto? Ele se pergunta quando? E ela o que se pergunta?

Abraço. Boa leitura.